O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

"Inventários da Barbárie: narrativas nômades "Fim do expediente

Galera, há um ótimo blog chamado "Inventários da Barbárie: narrativas nômades", ele é administrado por Anderson Black, João Rodrigues e Maria Rodrigues. Leio muito do que eles publicam, sobretudo os contos e micro-contos que são de uma irônia peculiar e lembram muito a forma da peças dialéticas que o Brecht escreveu, mas possuem sua própria identidade o que é mais legal.

Posto aqui um dos micro-contos do blog, este foi escrito pelo João, que futuramente irá colaborar aqui no cinefusão também.



Fim do expediente
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Por João


O bom homem, Diretor de Repartição, chamado Medeiros, pede fósforo emprestado ao estranho que está sentado no meio-fio. Esse, então, inesperadamente, inicia a palestra:

- Tudo está perdido!

- Não seja pessimista, homem - respondeu-lhe Medeiros, com um misto de euforia inexplicável e sentimento de superioridade...

- Sou otimista, pessimista é o senhor.

- Como... ?

- Só poderemos transformar tudo quando soubermos que tudo está perdido, principalmente quando tudo está perdido de fato.

- Pensas então que só porque digo que nem tudo está perdido não acho que tudo precisa ser transformado? - indagou Medeiros, já irritado pelo despeito do interlocutor. 

- Não senhor, o contrário: penso que primeiro chegou a conclusão de que é impossível tranformar tudo, e, não sabendo o que fazer com isso, preferiu acreditar que nem tudo está perdido...

- Me chamas então de covarde?

- Acho que sua covardia poderia te salvar se você não fosse covarde.

- Insolente... achas que as coisas precisam mudar só porque você quer?

- Não, o contrário: acho que as coisas precisam mudar por isso quero que mudem.

- "O contrário, o contrário... blá, blá, blá..." sempre isso... não sabe dizer outra coisa?

- Não teria mais razão para ser pessimista do que o senhor?

- Razões eu tenho, e de sobra, para ir-me embora. Sou otimista, meu rapaz, o que não sou é otário.

Medeiros se foi, levando no bolso o fósforo do homem.

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