O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Panfletos à direita: as tentativas de formação/manipulação ideológica da revista Veja

Em janeiro, a revista Veja lançou uma edição da revista em que há uma espécie de "teste de personalidade" do leitor. Trata-se do leitor responder algumas perguntas, sendo que cada uma delas possui uma pontuação positiva ou negativa. A pontuação positiva define aqueles que se encaixam no perfil da "raposa", a negativa do "ouriço".

Abaixo, antes mesmo de iniciar o questionário, a revista, de maneira pífia, prepara as respostas, definindo o que é bom, o que é ruim, além de citar personalidades que por sua vez desenvolveram sistemas de teoria que colocam em xeque a existência infinita da sociedade capitalista, moralista, etc. como o "tipo ruim".


Depois de todo o aquecimento, a pessoa responde às perguntas - a revista coloca de maneira distorcida, obviamente - divididas da seguinte forma: aquelas que se aproximam das teorias dos dois autores citados como "ouriços" são colocadas como pontuação negativa, e o contrário - a raposa - como bom.






sábado, 9 de fevereiro de 2013

Um carnaval oracular




O processo de expropriação da memória dos trabalhadores não poupa nada, sequer as palavras. A transmissão (corporal e oral) do samba, por exemplo, foi chamada de escola. Ocorreu, porém, o pior que poderia ocorrer às escolas de samba: tornaram-se instituições de ensino, “escolas de verdade”.

Alguns sabem que a razão íntima de toda instituição, no final das contas, é a tentativa de imobilizar processos históricos - num determinado estágio ideal do tempo. Com o perdão da baixeza, mas, dizem eles que... se melhorar estraga. Não é da vida real que estamos falando, obviamente.

A instituição de ensino “escola de samba” possui, ao menos, duas linhas pedagógicas. A primeira diz respeito à estrutura empresarial, o velho time is business; a segunda é a estrutura de colégio militar. Daí deriva o conhecido dualismo do mercado: glória, ou castigo físico; sucesso, ou humilhação; cidadania ou indigência, etc.

A comissão de frente, por exemplo, quando bem executada rende aplausos dos especialistas, fotos no jornal, entre outras coisas. Porém, não sabemos ao certo qual o preço de um simples escorregão em plena avenida. É como se, em meio ao público, houvessem fuzis apontados para o pobre mortal. O princípio do desempenho é fermento do espetáculo.

O carro abre-alas de uma das escolas que desfilaram ontem era um boneco enorme. Misterioso, vindo ao longe, desafiador, monstrengo, impôs ao público uma atmosfera de terror, por milésimos de segundos. Até que, ufa, recomeçou a batucada, recriando mais uma vez a ilusão...

Lembrei do cavalo de tróia. Considerado pelos troianos como um presente dos deuses, guardava a maldição no ventre. Assim funciona, ideologicamente, os enormes bonecos carnavalescos: dádiva oferecida ao povo, mas que, de repente, pode abrir-se à maneira de uma flor chamada Carandiru, revelando seu pólen: meia dúzia de policiais armados no intestino. E sabe-se lá que maldição...

O pressentimento continuou. Pude ver, então, o oráculo: a cabine privilegiada da Rede Globo, construída no alto e no meio da “passarela do samba”, de onde os “narradores” do desfile seriam os sacerdotes que comunicam a mensagem de Zeus-pai (o Capital), aos pobres mortais, nós.

Por falar nele (no deus-dinheiro), o samba enredo da Gaviões da Fiel será a propaganda. Quem sabe uma estratégia para trazer a marca de algum automóvel nos carros alegóricos, ou de um banco estatal, talvez. Outra escola, ontem, vestiu a bateria com fantasia de militares ingleses. Aqueles, de gorro grande e preto, que mais parece uma cabeleira, blusa vermelha, e que não se movem nunca.

Nos dois casos, portanto: empresa e forças armadas, de mãos dadas. Casamento perfeito entre forma e conteúdo. A hipérbole do espetáculo!

O samba vai ao paraíso.

Voltando ao oráculo. Quer dizer: aquela espécie de nave espacial iluminada por néon, que paira acima de nossas cabeças na “passarela do samba”. Pois bem: a confiar na mensagem cifrada dos sacerdotes que moram ali, a história terminaria aqui. Refiro-me a história dos humilhados, evidentemente. Eles dizem: o destino atual do samba é inevitável. Nada melhor poderia acontecer-lhe, e nada melhor acontecerá.

Por falar em história o narrador-sacerdote-chefe, Cléber Machado o nome dele, disse, num dado momento do desfile a seguinte pérola, reveladora dos desígnios míticos do Deus-pai: “a revolução de 64 ...”. Como? Referia-se ao golpe militar, bem entendido.

Engano? Logo a seguir, reiterou: “Mário Lago foi preso pela revolução de 64...”. Ora, como um comunista pode ser preso pela revolução? Aliás, esse mesmo “narrador”, falando da posição política do homenageado, disse apenas que, “Mário Lago, além de artista, era também político”. 

Bolas invertidas. Há outro aspecto do carnaval “oracular” que reforça a adesão total e definitiva ao capitalismo. Refiro-me ao critério na escolha dos temas. É que, no caso, não existem critérios. Chegamos no cume mais alto da história humana.  Assim, do ponto privilegiado do presente perfeito e inigualável, temos, ao nosso dispor, toda a história humana e o melhor de tudo: limpa de contradições.

História em liquidação, queima de estoque: uns falam da propaganda, outros falam do vinho, Mário Lago, a roda, João Nogueira, Revolução de 1964, o parafuso, a invenção da roda, história do estilingue, etc. É um bazar imenso. Mas essa aleatoriedade na escolha do tema (oposta a uma perspectiva épica), traduz, na verdade, a versão dos vencedores sobre a história.

Uma nota pedagógica.

Esta mágica de quinta categoria não é praticada apenas por carnavalescos. Em outras áreas do “conhecimento” ela aparece. Por exemplo, no campo da historiografia sobre a “história do comunismo” (isto é, dos partidos comunistas, já que o comunismo nunca existiu).

Eric Hobsbawm denunciou o procedimento, utilizado por alguns historiadores que trataram sobre o comunismo na Inglaterra. O excesso de dados, estatísticas, etc., diz Hobsbawm, servia para mascarar o verdadeiro conteúdo de um período histórico, isto é, a situação real do PC inglês nos anos vinte:

É interessante ter-se 160 ou mais páginas sobre a atividade do partido comunista russo de 1920 a 1923, porém o fato essencial sobre este período é o que se encontra registrado no relatório de Zinoviev (...) em fins de 1922, onde se lê, sobre a Inglaterra: ”talvez em nenhum outro país o movimento comunista faça progressos tão lentos””.

Qual a serventia de dados e informações frias? O problema é técnico, e impõe a necessidade de uma mudança na própria função social da técnica. E o carnaval é um exemplo: por trás das escolas de samba estão os especialistas que concentram os meios de produção. As consequências desta expropriação, no longo prazo, são visíveis: o carnaval, ex-festa dos oprimidos (estética e politicamente falando), sofreu um giro de 360° graus, caindo nas garras do capital.

Questão de classe.

Descrever o conteúdo desse processo é relativamente fácil. Mas como expô-lo objetivamente, em todos os níveis? As relações de trabalho, a hierarquia, as operações financeiras, o crime organizado, etc. Por trás do espetáculo se esconde uma máquina de expropriação. Saber dela é pouco: é necessário compreender seu funcionamento, e, finalmente, destruí-la num contexto mais amplo de transformação.

Uma resposta lógica, no caso específico das escolas de samba, seria, naturalmente, o abandono do carnaval patrocinado, isto é, um carnaval que não necessitasse de patrocínio, - retornando, finalmente, para sua matriz: as ruas. Não seria absurdo que os trabalhadores, espontaneamente, tomassem a iniciativa.

Mas, logo adiante, seriam informados, pela polícia, de que lugar de carnaval é no sambódromo. É assim que as manifestações artísticas dos trabalhadores ficam expostas à cisão da sociedade da mercadoria, que rasga e segmenta, ao meio, o próprio espaço urbano.

Ou seja: é assim, por conseguinte, que a questão da “cultura popular” depende, também, da organização política da classe trabalhadora. A ideia plausível, digamos, de que as escolas de samba, ou “comunidades”, amanhã possam confundir-se com os conselhos operários, soviets, é agradável de ouvir.

Enquanto a banda não passa, o que podemos (e devemos) fazer é rir de toda esta imbecilidade administrada. Não é motivo de desespero, e sim de riso: sabemos qual o papel ridículo dos sacerdotes do capital. Os homens, amanhã, não terão a menor vergonha dos dias atuais, mas acharão neles um motivo eterno de riso...

O capitalismo é trágico, mas é também piada-pronta.

Para terminar, a letra do samba retratando a situação do malandro que, a bem dizer, personifica a situação atual do próprio samba:

O Malandro 2

O malandro, tá na greta
Na sarjeta, do país
E quem passa, acha graça
Na desgraça, do infeliz.  

O malandro, tá de coma
Hematoma, no nariz
E rasgando, sua bunda
Uma funda, cicatriz.

O seu rosto, tem mais mosca
Que a birosca, do Mane  
O malandro, é um presunto
De pé junto, e com chulé.

O coitado, foi encontrado  
Mais furado, que Jesus
E do estranho, abdômen
Desse homem, jorra pus

O seu peito, putrefato
Tá com jeito, de pirão
O seu sangue, forma lagos
E os seus bagos, estão no chão

O cadáver, do indigente
É evidente, que morreu
E no entanto, ele se move,
Como prova, o Galileu.  

(A composição é de Chico Buarque, mas o samba se popularizou, até onde sei, pela voz do João Nogueira)




terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Bloco Saci da Bixiga 2013 - O poder popular contra a opressão social




O Bloco Saci da Bixiga completa esse ano o seu terceiro carnaval apenas, mas já consegue arrastar uma pequena multidão atrás de suas marchinhas. No ano passado, foram mais de 3 mil foliões que seguiram o cordão. O bloco percorre as ruas do bairro do Bixiga sempre nos sábados de carnaval e esse ano o tema será: “O poder popular contra a opressão social”. Uma das suas principais características é que o bloco só toca músicas ao vivo com composições próprias e resgate de marchinhas antigas.

Serviço do Boco de Carnaval Saci da Bixiga:
Quando: Sábado de carnaval, 09 de fevereiro, das 16h às 24h.
Concentração: Na rua São Domingos (que fica fechada pelo CET para o bloco) esquina com a rua da Abolição.  
Percurso: rua São Domingos, rua Major Diogo, rua Santo Antônio, rua Manoel Dutra, rua Maria José, rua Conselheiro Carrão, rua Conselheiro Ramalho, rua Manoel Dutra, rua Major Diogo e retorna à rua São Domingos.
Tema: O poder popular contra opressão social.
Foliões: Mais de 3 mil.
Adereços: Touca vermelha do saci e camiseta amarela do bloco que podem ser adquiridas no Ecla (Espaço Cultural Latino Americano).
Cores: Amarelo e Vermelho são as cores do bloco.
Repertório: Marchinhas próprias e resgate de antigas sempre tocadas ao vivo.
Ensaios: Terças, quintas, às 19h, e sábados, às 17h, no Ecla.

O ECLA fica na rua da Abolição, 244, Bixiga.
Para mais informações pelos tels: (11) 3104 7401 com Claudimar ou Vilma, ou ainda, pelo celular (11) 99616 2522 com Marco Ribeiro.

Gullar à deriva!



Ferreira Gullar tenta apalpar, às escuras, o limite de sua própria consciência. Talvez falte até mesmo as paredes onde se apoiar: a defesa aberta do capitalismo, afinal de contas, parece não ter limites.

Mas trata-se, no caso de Gullar, de uma defesa frágil: serve-lhe muito mais o famoso provérbio do fim do mundo em barranco, para morrer encostado. 

A podridão é tão franca que o velho burguês sarcástico dá lugar, aqui, ao ressentimento digno de pena: Ferreira Gullar emburreceu tanto politicamente que não é capaz de perceber que mesmo os defensores do capitalismo, há mais de um século, deixaram de falar seriamente.

Explico: ontem, 03 de fevereiro, o poeta escreveu um texto para o jornal Folha de São Paulo, com o seguinte título: "não basta ter razão". O objetivo é desancar de uma vez por todas o marxismo.

O êxito é alcançado: de fato, qualquer marxista atento que leia o artigo perderá as cadeiras. Mas não pela verdade do conteúdo exposto, e sim pela burrice do autor. 

Quem é capaz de persuadir alguém, através de argumentos racionais, de que o capitalismo é bom?

Nenhum argumento atualmente é capaz de tal proeza. As pessoas não são ludibriadas por argumentos bem construídos. Não se transmite a ilusão através de ideias bem encadeadas: não que elas sejam inúteis, mas são insuficientes. 

É preciso um operário sem dedo! Ou coisa que o valha.

Ao menos no título do artigo há coerência: "não basta ter razão". Como pode alguém admitir, de saída, que não tem razão? O que significa isto? Nada, absolutamente nada, para um religioso.

"Que a sorte me livre do mercado", diz um verso num dos poemas de seu último livro. 

Religiosa é a relação de Gullar com o mercado: ele só não percebe que existe uma diferença entre cordeiro e pastor. O cordeiro é incapaz de defender suas preferências religiosas. A única coisa que ele assimilou do pastor foi a necessidade de acreditar. Nada mais.

Quando pressionado a falar, o cordeiro fica desajeitado, escolhe mal as palavras, é desequilibrada sua entonação. Daí, pronto, esbraveja. Eis aí o novo Ferreira Gullar: um homem que aprendeu (como ele mesmo insinua) a necessidade de defender o capitalismo, mas não as "razões" dessa defesa, isto é,  o jeito "certode fazê-lo. 

Podemos compará-lo a Marinetti, que se converteu ao fascismo italiano. Tornou-se um inimigo perigoso. Nesse caso, nós não devemos respeitá-lo, se bem que não se trata de respeito. Gullar é herdeiro de Marinetti, porém bem mais inofensivo. 

Suas mãos tremem demais. Não apalpam a carne. Oferece os dedos para o cumprimento. Chegará dia em que não poderá pegar mais na caneta. 

Que tipo de recuo é este? 

As palavras, finalmente, serão substituídas por borrões pré-alfabéticos. 

Porque, como diz Drummond: "... o medo, com sua física, / tanto produz: carcereiros, / edifícios, escritores, / este poema; outras vidas. / Tenhamos o maior pavor, / os mais velhos compreendem. / O medo cristalizou-os. / Estátuas sábias, adeus. / Adeus, vamos para frente, / recuando de olhos acesos. / Nossos filhos tão felizes... / fiéis herdeiros do medo, / eles povoam a cidade. / Depois da cidade, o mundo. / Depois do mundo, as estrelas, / dançando o baile do medo".

Mas a história, talvez, dirá a homens velhos como Ferreira Gullar: "Estátua sábia, adeus!". 

(Abaixo, o texto na íntegra, para que cada um tire suas próprias conclusões).


Não basta ter razão. 

03/02/2013

Entendo que alguém, que durante toda a vida tenha tido o marxismo como doutrina e o comunismo como solução dos problemas sociais, se negue, a esta altura da vida, a abrir mão de suas convicções. Entendo, mas não aprovo. Tampouco lhe reconheço o direito de acusar quem o faça de "vendido ao capitalismo." Aí já é dupla hipocrisia.

Tornei-me marxista por acaso, ao ler o livro de um padre católico sobre a teoria de Marx. É verdade que o Brasil daquela época estava envolvido na luta pela reforma agrária e pelo repúdio ao imperialismo norte-americano, que se assustara com a Revolução Cubana.

Confesso que meu entusiasmo por um Brasil concretamente mais democrático não me permitiu examinar, ponto por ponto, a doutrina marxista, para nela descobrir equívocos e propósitos inviáveis.
Não ignorava, claro, as acusações feitas ao regime soviético, mas atribuía aqueles erros à fase stalinista que, após a denúncia feita por Khruschov, havia sido superada. A verdade é que essas questões --sobretudo depois que os militares se instalaram no poder-- não estavam em discussão: o fundamental era derrotar a ditadura e avançar na direção do regime socialista.

Com o AI-5, em dezembro de 1968, a repressão aos comunistas e opositores do regime militar intensificou-se, multiplicando-se os casos de tortura e assassinatos.

Tive que deixar o país e ir para a URSS. Convivendo ali apenas com militantes brasileiros e de outros países, pouco pude conhecer da vida dos cidadãos soviéticos, a não ser daqueles que pertenciam à máquina oficial.

De Moscou fui para Santiago do Chile, aonde cheguei poucos meses antes da queda de Allende.
Mergulhado no conflito ideológico que opunha as duas potências antagônicas -URSS e EUA-, não me foi possível ver com maior clareza o que de fato acontecia nem muito menos os erros cometidos também por nós, adversários do imperialismo norte-americano. Isso se tornou evidente para mim, anos mais tarde, quando o sistema socialista ruiu como um castelo de cartas.

Tornou-se então impossível não ver o que de fato ocorria. O regime soviético não ruíra porque um exército inimigo invadira o país. Pelo contrário, foi o povo russo mesmo que pôs fim ao sistema e o fez porque ele fracassara economicamente.

Não obstante, muitos companheiros se negavam a aceitar essa evidência. Passaram a atribuir a Gorbatchov a culpa pelo fim do comunismo, como se isso fosse possível. A verdade é que as pessoas, de modo geral, têm dificuldade em admitir que erraram, que passaram anos de sua vida (e alguns pagaram caro por isso) acreditando numa ilusão.

E, além do mais, é compreensível, uma vez que o socialismo propunha derrotar um sistema econômico injusto e pôr em seu lugar outro, fundado na igualdade e na justiça social.

É verdade também que em alguns países onde o socialismo se implantara muito foi feito em busca dessa igualdade. Não obstante, algo estava errado ali, já que o regime era obrigado a coibir a livre opinião e impedir que as pessoas saíssem livremente do país. A pergunta é inevitável: alguém, que vive no paraíso, quer a todo custo fugir dele?

Tampouco o regime capitalista é o paraíso. Longe disso. A diferença é que, dele, podemos sair se o decidirmos, criticá-lo e, pelo voto, mudar o governante. Mas não é só isso. O capitalismo é dinâmico e criativo porque é a expressão da necessidade humana de tudo fazer para melhorar de vida.

Neste momento mesmo, milhões de pessoas estão inventando meios e modos de criar empresas, realizar empreendimentos que lhes possibilitem lucrar e enriquecer.

Como poderia competir com isso um regime cujo processo econômico era dirigido por meia dúzia de burocratas, os quais, em nome do Partido Comunista, tudo determinavam e decidiam? Isso conduziu o comunismo ao fracasso e levou a China a tornar-se capitalista para escapar do desastre que pôs fim ao sistema socialista mundial.

O capitalismo, por sua vez, é o regime da exploração e da desigualdade, precisamente porque se funda no egoísmo e na busca do lucro máximo. Se deixarmos, ele suga a carótida da mãe.

O grande problema, portanto, é este: como estimular a iniciativa criadora de riqueza e, ao mesmo tempo, valer-se da riqueza criada para reduzir a desigualdade. 

(Ferreira Gullar)




segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Como é duro trabalhar


    

Fui caminhando, caminhando, 
À procura de um lugar.

Com uma palhoça, uma morena 
E um cantinho pra plantar.
Achei a terra, vi a casa, 
Só faltava capinar. 

Mas sem o colo da morena 

Quem sou eu pra me abusar...

E lá vou eu... 
Paro aqui, paro acolá. 

E lá vou eu... 

Como é duro trabalhar.

E vou cantando, tiro moda, 
Faço roda no arraial. 

Busco a morena de olho em calda, 

Cheiro de canavial.

E bico essa, bico aquela, 
Vou bicando sem parar. 

Mas não tem mais moça donzela 

Que mereça eu me abusar.


(Toquinho/ Vinicius)