O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

ÚLTIMA SESSÃO DO ANO - CINECLUBE CINEMA EM REVISTA


 
O Cineclube Cinema em Revista, continuando o ciclo cine-demência, recebe em sua última sessão do ano o ator, roteirista e diretor Adriano Araújo para a pré-estreia do seu curta "Demência", que será exibido ao lado do longa "Jogo da Vida", de Maurice Capovilla. A sessão gratuita ocorre no dia 13 de dezembro, a partir das 18h01, no Espaço Cultural Latino Americano (ECLA). Após a exibição haverá uma roda de prosa entre os presentes.

O ciclo cine-demência, uma evidente homenagem ao mestre Carlão Reichenbach, tem como proposta a discussão estética e política, dentro do âmbito de um cinema paulista que se organiza de forma independente e propõe a experimentação da linguagem e o filme-risco, posicionando-se claramente contrário ao cinema-mercadoria e àquilo que convencionou-se chamar de "filme médio", e que nós denominamos medíocre.

Trata-se de uma iniciativa de coletivos de cinema e teatro Coletivo Cinefusão, Coletivo Zagaia e PARACATUZUM, que, posicionados dentro de um campo de disputa simbólica, vêm, a partir da experiência de um cineclube permanente, propor reflexões críticas em torno da experiência coletiva e da necessidade de um outro fazer cultural e cinematográfico. As sessões são gratuitas e irão ocorrer todo primeiro domingo do mês, às 18h01.

Cineclube, experiência de recuperação do espectador morto. Espaço onde o óbito não é aceito sem diagnóstico. O especialista, neste caso, está mais do que convidado, mas aqui o diagnóstico é feito de forma coletiva, sobre a égide do universalismo, em contraponto com a educação tecnocrata das instituições de ensino. Ciclo Cine-Demência. O cineclube é permanente, Cineclube Cinema Em Revista. Um participa da ação do outro. E afirmamos: A arte tem que ter uma perspectiva revolucionária, caso contrário, os ursinhos carinhosos dominarão.

Estão quase todos convidados:




“E sobretudo, meu corpo, da mesma forma que a minha alma, evitem ficar de braços cruzados em atitude estéril de espectador, porque a vida não é um espetáculo, porque um mar de dores não é um proscênio, porque um homem que grita não é um urso dançando...”

(Aimé Cesaire)

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

BREVES ANOTAÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO PÚBLICA

* contribuição enviada pelo camarada Leandro Costa




É comum na fala de professores, alunos e pais a defesa do ensino público de qualidade. Espera-se da escola que, ao socializar as crianças e os jovens com o mundo dos adultos, ensinem os seus alunos a serem cidadãos consequentes e trabalhadores qualificados. Apresentando-lhes o mito do homem bem-sucedido, a escola, faz com que o novíssimo cidadão em formação compreenda, ou melhor, decore a primeira lição: “devo estudar para ser alguém na vida”, mesmo que o que se ensina não faça sentido algum tanto para alunos quanto para professores e muito menos para os pais. O objetivo da escola pública – porém, burguesa – se cumpre na medida em que o oprimido passa a reproduzir os ideais do opressor (FREIRE). Ou seja, na medida em que o sonho, o desejo do estudante é tonar-se um burguês bem sucedido, uma vez que ele tem a ilusão de que o estudo é o fator determinante para a ascensão social, a escola cumpriu o seu papel. 

A escola terá então a tarefa de moldar um tipo de cidadão adequado ao modo de produção dominante para que o status quo social econômico e político – tanto dos exploradores quando dos explorados – continue inalterado, esse é o desafio dos educadores comprometidos com o ensino – burguês – público de qualidade.

De acordo com dados oficiais o ensino fundamental no Brasil está universalizado, isto significa que nossas crianças, bem ou mal, pois a qualidade do ensino é questionável até mesmo para os ideais burgueses, possuem o mínimo de instruções para a perpetuação do capitalismo no Brasil, por outro lado, no ensino médio a situação é outra, boa parte dos nossos jovens que deveriam estar cursando o ensino médio encontra-se dispersa fora das escolas: desempregados ou em subempregos; desde o trabalho escravo ou semi-escravo da agroindústria à criminalidade urbana. 

De qualquer maneira, em relação aos jovens brasileiros, décadas atrás, a situação não era muito diferente quanto ao número de jovens fora das escolas, contudo, sobretudo nos grandes centros do país, elas – as escolas – incluíam em suas grades curriculares, além da matemática e da gramática, o ensino de humanidades: Filosofia e Arte, por exemplo. Esperava-se com isso formar cidadãos – entenda-se força de trabalho – mesmo que em pequeníssimo número, mais capacitados, mais completos para as exigências de um país em “desenvolvimento” que precisava mostrar ao mundo que também poderia participar do bloco progressista.

Entretanto, as Humanidades, foram postas de lado durante o período da Ditadura-Civil-Militar (1964-1985), pois, o progresso à brasileira – inspirado por um tipo de leitura positivista – prescindia de elementos que pudessem causar a reflexão crítica acerca do funcionamento de máquinas ou de governos. Naquele tempo priorizou-se o ensino tecnológico que deixaria marcas até hoje nas instituições de ensino brasileiras e consequentemente nas subjetividades de professores, alunos e pais, desde o nível básico até o ensino superior. Talvez, os militares entendessem que o ensino de humanidades, de Filosofia, por exemplo, fosse uma prática subversiva por natureza e, portanto prejudicial ao municiar os alunos com elementos teóricos que possibilitassem a contestação de milagres, mesmo os de caráter econômicos. Fato é que com o fim do regime militar, o ensino de humanidades vem – gradativamente – sendo implantado nos currículos Brasil afora, porém, não sem resistências... Um exemplo disso é a polêmica levantada por alguns seguimentos da burguesia guarulhense acerca da criação de um campus da Unifesp voltado para as humanidades quando estes queriam algo mais “adequado ao perfil da cidade” (?).

O ensino técnico, ainda hoje, é defendido calorosamente pelos defensores das chamadas políticas neoliberais. O argumento de que o país necessita de uma força de trabalho especializada para poder operar maquinário avançado, dominar técnicas contemporâneas de logística ou administração é difundido pelos representantes das indústrias, tecnocratas ligados aos governos municipais, estaduais e federal e intelectuais comprometidos com os interesses do capital monopolista nacional e internacional. Todos dizem que o país necessita reduzir a dependência da força de trabalho especializada estrangeira. Ou, talvez, o interesse dos capitalistas seja o de criar uma força de trabalho nacional especializada, porém, mais barata.

Fato é que, concomitante à defesa do ensino técnico, as chamadas ciências humanas retornaram ao ensino médio, hoje, o ensino de Artes, Filosofia e Sociologia, além de História e Geografia, são defendidos pela legislação (LDB) a fim de garantir a formação de um cidadão e de um trabalhador capaz de compreender as necessidades do mercado que exigem um sujeito capaz de relacionar diferentes habilidades com o intuito de torná-los mais produtivos. Mesmo os militantes de esquerda, no âmbito da educação pública, defendem que tais reformas implementadas pelos governos chamados por eles de neoliberais não garantem ao Brasil a formação de uma força de trabalho capaz de atender às demandas do capitalismo ou em outras palavras às demandas contemporâneas do mercado: “Do ponto de vista educacional, as reformas têm reforçado amplamente a formação de um aluno/trabalhador adestrado, polivalente e com pouca possibilidade de ampliar seu poder de abstração para atender as necessidades mais imediatas do mercado de trabalho, desprovendo, assim, os alunos de arsenal teórico-político capaz de potencializar e aguçar sua visão crítica para agirem contra o sistema que os explora e oprime enquanto classe trabalhadora.” (LIMA, APEOESP).

Ora, mas, será a escola pública burguesa capaz de – ao mesmo tempo – formar cidadãos/trabalhadores que atendam as necessidades do mercado de trabalho e potencializar e aguçar a visão crítica dos mesmos para que estes, munidos de um arsenal teórico-político fornecido pela escola, ajam contra o sistema que os oprime enquanto classe trabalhadora? 

Uma leitura do iluminismo (Aufklärung) do qual Marx e Engels certamente foram “seguidores” afirmava categoricamente que o homem deveria ou deve “submeter à natureza as suas necessidades” para tornar-se livre ou para se libertar, caso contrário, isto é, se o homem é quem se submete a natureza, ele tende a permanecer na menoridade (Kant), no misticismo, na animalidade... O esperado ensino público de qualidade na sociedade capitalista tanto para a burguesia progressista quanto para a pequena burguesia de esquerda não é nada mais do que uma ideia reguladora. Ora, tal ideia diz respeito aos interesses e necessidades do mercado de trabalho, inalcançáveis quando percebemos o lugar que o Brasil ocupa na divisão internacional do trabalho; ora diz respeito ao oportunismo honesto ou não de uma camada da pequena burguesia simpática às “ideias” de uma esquerda política fundamentada num tipo de marxismo vulgar.



A experiência soviética, talvez seja o lugar mais adequado para onde devemos olhar se quisermos ter uma noção do devir da escola após a tomada do poder pelo proletariado e a instauração de sua ditadura. Talvez lá encontremos os melhores exemplos (quem sabe os únicos exemplos concretos estejam lá) do papel que a escola deve assumir se de fato entende que o seu papel enquanto ensino público a serviço do proletariado é dar condições para que os alunos sejam capazes de potencializar e aguçar sua visão crítica para agirem contra o sistema que os explora e oprime reconhecendo na revolução socialista a única possibilidade de chegarmos ao comunismo e aí quem sabe, não mais como ideia, mas como realidade concreta obtermos um ensino público não de qualidade, mas adequado às necessidades humanas nos capacitando a submeter minimamente à natureza aos nossos interesses.

Enquanto isso a escola em todos os níveis (do ensino primário ao superior) permanecerá um local hostil ao desenvolvimento do materialismo histórico e dialético. Enquanto instituição a escola formará – no máximo – cidadãos. O lugar da formação do militante comunista é outro, embora a sua forma em muitos casos se assemelhe a da escola, o conteúdo e o objetivo são completamente diversos, ao invés do cidadão (sociedade homogenia) é necessário que o proletariado entenda-se enquanto membro de uma classe (sociedade de classes) e que a sua classe, o proletariado, possuí interesses antagônicos quando se depara com outras classes (luta de classes), sobretudo, a burguesia. Para chancelar a nossa opinião acerca do lugar da teoria marxista na sociedade capitalista, recentemente, ela foi classificada como sendo uma “teoria duvidosa” pela Capes, instituição ligada ao MEC, que se negou a financiar um projeto de pesquisa cuja linha teórica era o materialismo histórico e dialético.

Por fim, este brevíssimo ensaio tem a pretensão apenas de apontar as nossas primeiras impressões acerca da situação do ensino público no país, sendo assim, não é preciso mencionar que nossos estudos ainda estão aquém do que necessitamos, entretanto, existe uma vasta bibliografia que certamente poderá nos auxiliar na compreensão do que é e na elaboração do que pode vir a ser um ensino público de qualidade, sigamos em frente. 

Bibliografia utilizada:

Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia.
Ezio de Lima. Ainda as reformas neoliberais na educação in. debates simpro guarulhos educação 2.


Leandro Costa

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Por uma Revolução na Educação!!

ESCRITOR TICO E PROF. RUBÃO APOIAM LUTA PELA EDUCAÇÃO




Quinta-feira, dia 18 de junho de 2015.

Debate na E. E. Domingos Mignoni, no Taboão da Serra, sobre o livro “As Núpcias do Escorpião”, do escritor Tico, falecido no último 14 de outubro de 2015. Fecha o vídeo o professor Rubens Santos (Rubão). 

Debate realizado com alunos do EJA (Educação de Jovens e Adultos), projeto que também vem sofrendo cortes do Governo do Estado, que já anunciou que irá fechar o EJA do E. E. Domingos Mingoni, após 25 anos de atuação do programa na escola. 

TODO APOIO ÀS ESCOLAS OCUPADAS!!

POR UMA REVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO!!

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

PRIMAVERA TUPINAMBÁ

Todo apoio ao projeto "Primavera Tupinambá". Colaborem e ajudem  a trazer 15 lideranças Tupinambá de Olivença para São Paulo.





De 27 de agosto à 7 de setembro, ocorrerá, em São Paulo, a Etapa Paulista do Seminário Índio Caboclo Marcelino. O evento, criado e gerido pelo Povo Tupinambá de Olivença/BA, está em sua 7º edição.

Esse ano, 15 lideranças desejam ir à capital paulista para promover sua luta e contar suas histórias. Isso só será possível se conseguirmos custear as passagens, hospedagens e alimentação. Ajude-nos a tornar isso realidade e venha participar das nossas atividades!

A história da luta do Povo Tupinambá por suas terras e tradições, como de todos os índios brasileiros, advém da invasão portuguesa ao Brasil em 1500. Neste processo, os Tupinambás foram historicamente e sistematicamente perseguidos – até os dias de hoje. Tornou-se comum ler e ouvir que este Povo não existe mais.

No entanto, mesmo com as tentativas de extermínio, os Tupinambás continuam a existir através de diferentes formas de vivências e não abandonaram o seu território. Resistiram aos portugueses, ao poder dos grandes proprietários e à atuação depreciativa do Estado. Um exemplo, neste sentido, foi a chamada Revolta do Índio Caboclo Marcelino, entre as décadas de 1920-1940, contra o processo de espoliação. Na década de 1980, novamente a resistência Tupinambá ganhou maior visibilidade, com muitas pessoas valorizando seu sangue e sua alma indígena, retornando a suas terras e a seus parentes. Esta resistência indígena foi um dos elementos fundamentais no processo de Reconhecimento Étnico, em 2002, e da Demarcação Territorial, em 2009.

Entretanto, após relatório expedido pela FUNAI baseado nesses dados, aumentou a situação de difamação, perseguição e repressão sobre os índios. Reintegrações de posse tentaram desmanchar comunidades inteiras, diversos índios foram presos e até mesmo mortos por resistirem. O auto-reconhecimento étnico passou a ser ainda mais perigoso. Parece mesmo que a situação não muda quando envolve os direitos indígenas. 

O conjunto destas ações reflete um quadro de arbitrariedade, intolerância e racismo que sofrem os Tupinambás de Olivença. Ser um líder de um Povo é ser criminoso. Retomar nosso Território Tradicional, visto o Estado não cumprir com seu compromisso, virou esbulho possessório. Agir coletivamente, marco tradicional de todos os povos indígenas, virou formação de quadrilha. Lutar por nossos direitos negados pelo Estado Brasileiro virou exercício arbitrário das próprias razões. Somos um Povo Guerreiro. Temos nossa tradição e nossa forma diferenciada de ser e agir - e queremos ser respeitados como tais.

Para combater a violência imposta à comunidade, a Associação Beneficente de Cultura Sustentável e Promotora da Pesca e do Artesanato dos Índios Tupinambás de Olivença – APAITO; a direção, os discentes e docentes da Colégio Estadual Indígena Tupinambá de Olivença - CEITO; e alguns discentes e docentes da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC criaram o  Seminário Internacional Índio Caboclo Marcelino, que em 2015 chega a sua sétima edição. O evento, que ocorre nas Aldeias Tupinambás de Olivença, em Ilhéus/Bahia, promove troca de saberes entre diversos Povos indígenas e não-indígenas solidários à luta.

Este ano, além do evento tradicional que ocorrerá entre os dias 23 à 28 de setembro, faremos a Etapa Paulista do VII Seminário Internacional Índio Caboclo Marcelino. Devido ao grande contingente de apoiadores da luta tupinambá na cidade de São Paulo, faremos, na capital paulista, uma série de atividades de troca de saberes, confraternizações e manifestações, além da divulgação do evento em Olivença. Isso ocorrerá entre os dias 27 de agosto e 7 de setembro de 2015.

Traremos 15 lideranças do Povo Tupinambá de Olivença à São Paulo. Já contamos com a ajuda de pessoas que voluntariamente estão colaborando na preparação e divulgação deste trabalho, mas ainda buscamos formas de financiar o transporte, alimentação e estadia dos 15 Tupinambás. 

É por isso, que agora precisamos de você. Apoie a realização e participe do nosso seminário!

MAIS INFORMAÇÕES E LINK PARA CONTRIBUIR COM O PROJETO: 

sexta-feira, 12 de junho de 2015

LANÇAMENTO ONLINE DO EXPERIMENTO #5 DO LABORATÓRIO CINEFUSÃO

EXPERIMENTO #5 - UM PLANO PODE BASTAR



Neguemos o tempo do cinema-lebre. O cinema-lebre na verdade filmou a famosa  fábula onde a tartaruga vence a corrida, na busca da integridade moral e perseverança para com o labor. O cinema-lebre é norte-americano, quer o tempo aprisionado na circulação mercadológica. O espectador não pode sentir nada a não ser uma leve emoção dramadrástica, materializada nos animaizinhos pacíficos que sofrem com o desmatamento. O cinema-lebre escolhe seus planos para aproximar ao máximo o espectador de uma ‘’vida real’’, que se tratando de cinema é uma bobagem. Sejamos sinceros, a burguesia é anti-artística há muito tempo. 

Como então provocar o contrário? Partir de uma negação radical (ainda que a negação radical só possa vir com a tomada dos meios de produção) ao elaborar um exercício estético, no qual inclusive o tempo possa ser indeterminado, não esquecendo os seus donos-permanentes: o burguês-níquel. Pelo contrário, por conhecê-lo, nega-lo. Um plano por tempo indeterminado.

Narrar uma reflexão que se depare de forma crítica com o cinema-lebre. Ou seja, provocar em um plano uma meditação da própria necessidade de se fazer um só plano. Isso já é por si só a obstrução criativa. O exercício traz consigo uma temática-formal que nem de longe é formalista, atua como força política numa metalinguagem necessária para tempos onde o cinema-lebre se reproduz sem muitos contraceptivos, principalmente na sem sucesso fornicação industriosa-nacional.

Poderão ser usados atores, bem como não atores, vozes do próprio realizador, apenas imagem e silêncio. Enfim, dessa vez a liberdade é total dentro de um só plano, sem cortes e elipses de tempo, movimento é permitido. 

Seremos as tartarugas fogosas, com a crítica prévia ao esforço do trabalho como redenção dos pecados.

Regras estabelecidas:
- tudo é permitido dentro de um único plano
- vídeo sem cortes
- não há limite de duração









quarta-feira, 10 de junho de 2015

A atual função da Universidade: produzir desemprego em massa

Publicamos, abaixo, uma importante contribuição do camarada, escritor e professor de filosofia Bruno Henrique de Souza Soares. O artigo tem a imprescindível objetividade dialética para colocar a questão concreta do problema da educação. Sem cair em abstrações econômicas, faz uma síntese necessária sobre a situação dos estudantes-trabalhadores e desvela o uso político ideologizante dos projetos reformistas. 

A atual função da Universidade: produzir desemprego em massa 



Por bruno henrique de souza soares 

Se hoje o slogan “Pátria Educadora” é marcado por cortes econômicos na área da Educação – desde o MEC até estados e municípios, cortes esses respondido por greves em todo o Brasil, pelos trabalhadores tanto da educação básica como do ensino superior, lutando por melhores salários e condições de trabalho e portanto, contra os cortes que recaem nas costas dos trabalhadores da Educação – que poderíamos dizer do antigo slogan governista: “educação para todos”, “democratização do ensino” e outras expressões do mesmo gênero, tão agradáveis aos ouvidos, mas de eficácia social questionada. . 

Ora, o governo do PT, que capitalizou os anseios dos movimentos sociais e populares por uma inclusão social na educação básica e no ensino superior, foi capaz de transformar essa reivindicação legítima num projeto de conciliação de classes, produzindo a ilusão na imensa maioria da população pobre de que finalmente fariam parte dessa camada alfabetizada, intelectualmente desenvolvida e com possibilidades de crescimento pessoal, profissional (e salarial), mas que na prática, tão só aplica as diretrizes do capital internacional por um ensino quase que puramente técnico na maioria dos casos, e cada vez mais rebaixado do ponto de vista da formação do estudante, e dessa forma, busca enriquecer os bancos e os capitalistas da educação. 

Isso se dá através de programas como FIES e PROUNI – no caso do ensino superior privado –, ou com o surgimento de Universidades sem estrutura, nem planejamento, muito menos condições de permanência – no caso do REUNI – ou, se tratando do ensino público na educação básica, cria um sistema de ensino que na prática busca apenas administrar o controle físico e ideológico do jovem, acostumando-o a receber ordens e acatá-las, adaptá-los à vida social através de salas superlotadas, e porque não apontar a semelhança estrutural do ponto de vista físico, operacional e nos hábitos instituídos, das escolas públicas com o regime de quartel da fábrica e a violência repressora do sistema prisional em nosso país. 

E para essa imensa juventude que frequenta a escola pública básica, nas atuais condições, qual é a perspectiva desta de adentrar o Ensino superior, sendo capaz de passar pelo funil do vestibular – mesmo que este se chame ENEM – e assim, possa se tornar essa minoria que adentra o ensino superior?  

Para alguns, essa questão começou a ser resolvida com os programas que citamos a pouco (FIES, PROUNI, REUNI), dando o nome de “políticas públicas”. Contudo, se olharmos mais de perto, pode-se perceber, sem grande dificuldade, que tais programas simplesmente transferem o dinheiro em posse do governo – que não é senão o nosso próprio dinheiro – para esses magnatas do capital que tratam a educação como uma mercadoria, como outra qualquer [1], e, portanto, não visa estruturar, do ponto de vista de “políticas públicas” um cenário que pudesse ampliar, efetivamente, o acesso e as condições de permanência em instituições educacionais. Além disso, também podemos reconhecer que tais medidas só foram possíveis, pois o Brasil passou por uma conjuntura economicamente favorável, momento este que se esgotou. 

Um fato digno de nota sobre a finalidade última de programas como PROUNI e FIES, é o apontamento da Controladoria Geral de União (CGU), noticiado na Folha de São Paulo (notícia: Auditoria encontra alunos já mortos e de alta renda no sistema do Prouni, 25/05/2015 [2]), sobre a existência de “alunos-fantasmas”, angariando somas volumosas de dinheiro público até mesmo para estudantes que não existem. Os dados analisados pela CGU correspondem entre os anos de 2005 a 2012, e constatou a existência de 47 estudantes mortos como beneficiários do programa PROUNI, assim como 4.400 bolsistas com rendimento superior ao que permitido. Isso sem falar na quantidade de estudantes que, através do FIES, quando conseguem se formar, ficam endividados, ou nem conseguem se formar, e permanecem com dívidas insustentáveis [3]. E segundo notícia veiculada em
2010 pelo jornal Folha, informa que dos 250 mil contratos em fase de pagamento na época, 50 mil estavam em dívida, como podemos ler (notícia: Caixa cobra 37 mil fiadores de universitários [4]). 

E visto que, em primeiro lugar, fica implícito que a Universidade, como instituição que teria por função ser o espaço de pesquisas, estudos, da liberdade do pensamento, ao menos no Brasil ela deixou esse papel a âmbitos tão reduzidos que beiram a inexistência, e em substituição, assumiu o papel de que a Universidade serve hoje tão somente para a formação para o mercado de trabalho, isto é, preparação formal e técnica para a força de trabalho medianamente especializada em diversas áreas de atuação.

Sendo assim, cabe questionar se ao menos esse papel a Universidade, no Brasil, tem levado a cabo. E pelo cenário geral, pode-se constatar que ela tem feito um trabalho ruim, visto que muitos concluem o curso com dificuldades elementares: seja na sua capacidade cognitiva, no uso da língua nativa, o português – quando não há casos de sujeitos que se formam na condição de analfabetismo funcional –
e até mesmo nas capacidades técnicas na sua área de atuação. 

E em segundo lugar, exatamente devido a essa alteração descrita, cabe questionar que, se o mote de tais pretensas “políticas públicas” de democratizar um ensino que se tornou pura e simplesmente formação para o mercado de trabalho, isto então significaria maior capacidade, para o país, de incorporar tamanha força produtiva de milhares de jovens e adultos que, ao adentrarem a universidade, sonham em seus futuros empregos e carreiras? 

Vemos que é exatamente o oposto o cenário de quem concluiu seus cursos universitários. A perspectiva é o desemprego. Portanto, o que parecia, à primeira vista, como um programa social que favoreceria a imensa maioria da população pobre com o slogan “democratização do ensino” se mostra, em verdade, como socialização do desemprego, da miséria de milhares de profissionais diplomados sem nenhuma perspectiva no futuro imediato – claro que, sem antes enriquecer os monopólios do ensino superior privado e das empreiteiras que superfaturam centenas de obras nas universidades públicas.

Das universidades particulares às públicas, dos cursos mais humanitários aos mais voltados ao mercado, do norte ao sul do Brasil, a Universidade cumpre essa miserável função, de formação em série, periodicamente, sem cessar, de um volumoso exército de desempregados diplomados. 

Se esse cenário, que foi construído nas duas últimas décadas, se deu numa conjuntura economicamente favorável, as perspectivas são muito piores, quando a crise econômica mundial se manifesta no Brasil, depois de sacudir países à beira da falência como Grécia, Egito, Espanha, Portugal e outros. Portanto, se o cenário era ruim, ou péssimo, ele, atualmente beira a catástrofe..

É desse ponto de vista que a juventude e a classe trabalhadora no Brasil podem – e ouso dizer, necessitam – tirar lições das tarefas que se colocam atualmente, e permite, inclusive, uma unidade articulada de estudantes – que serão futuros trabalhadores na imensa maioria, quando já não o são – e a classe trabalhadora contra o horizonte do desemprego em massa, da miséria econômica e social, fruto do sistema capitalista de produção. 


[1] Cabe notar que, para eles, ao tratar a educação (e em última análise, o diploma, diga-se de passagem) como mercadoria, acontece o mesmo com qualquer outra mercadoria, o único objetivo é vender, realizar o valor de troca (dinheiro pela mercadoria), e não importa o uso, isto é, o valor de uso dessa mercadoria. Sendo que, seja qual for a matéria que se torne mercadoria, que ela possa ser trocada no mercado por dinheiro. Tanto faz se o objeto da venda são batatas ou diplomas.


[3] Conferir: G1. (Estudante de medicina fica sem FIES e acumula divida de quase R$ 20 mil) - http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/05/estudante-de-medicina-fica-sem-fies-e-acumula-divida-de-quase-r-20-mil.html 

quarta-feira, 3 de junho de 2015

II Feira Antropofágica de Opinião no Memorial da América Latina

É com enorme satisfação que o Coletivo Cinefusão estará, ao lado de 40 grupos convidados, na II Feira Antropofágica de opinião. Exibiremos um vídeo-experimento no domingo, dia 07, às 19h. Ressaltamos a importância de somarmos forças neste evento, que tem a papel histórico de colocar o debate estético e político na ordem do dia.




São 40 grupos de teatro em quatro dias de eventos. São músicos, poetas, artistas plásticos e coletivos de cinema. Todos em torno de uma pergunta: “O que Pensa Você do Brasil de Hoje?” Este é o mote da II Feira Antropofágica de Opinião produzida pela Companhia Antropofágica, no evento que acontece de 04 a 07 de junho, das 14h às 22h, no Memorial da América Latina, na Barra Funda, São Paulo.

Com direção geral de Thiago Reis Vasconcelos, a II Feira Antropofágica de Opinião pretende discutir – por meio de diversos segmentos artísticos – o cenário sociopolítico do Brasil atual. Serão intervenções artísticas com teatro, música, cinema, poesia e artes plásticas. Três palcos serão reservados às apresentações teatrais com encenações de 15 a 30 minutos.

As apresentações musicais serão em um palco específico. Já a projeção de audiovisuais acontece ao ar livre, podendo ser vista de diversas partes do evento. Pensar é compreender. Logo, a Antropofágica provoca os artistas a darem suas compreensões e respostas a este questionamento. Por sua vez, instigar o público a refletir sobre este Brasil contemporâneo. Assim, trazer uma reflexão como uma função social da arte.

Como inspiração, está a Primeira Feira Paulista de Opinião, que aconteceu em 1968. Organizada pelo Teatro de Arena, com direção geral do ensaísta e dramaturgo AUGUSTO BOAL (1931-2009), aquele evento aconteceu quando entrou em vigor o Ato Institucional nº 5 (AI-5), que marca o período mais duro da ditadura militar (1964-1985).

Para driblar a censura, acontecia em teatros, cujos diretores com peças em cartaz, cediam uma parte do seu tempo para a feira. Nomes das artes cênicas como GIANFRANCESCO GUARNIERI (1934-2006), LAURO CÉSAR MUNIZ, BRÁULIO PEDROSO (1931-1990), PLÍNIO MARCOS (1935- 1999), entre outros, e da música como GILBERTO GIL, CAETANO VELOSO, SÉRGIO RICARDO, EDU LOBO, e artistas plásticos, como NELSON LEIRNE, participaram da empreitada.


Remasterizada– Como comenta a psicanalista e atriz CECÍLIA BOAL, viúva do dramaturgo, “uma feira itinerante e cigana, que se tornou uma romaria”. Cecília participará da mesa de abertura da feira 2015. Em fevereiro de 2014, a Companhia Antropofágica retoma a ideia dos seus idealizadores com a mesma pergunta norteadora de Boal: “O que Pensa Você do Brasil de Hoje?”.

Assim, acontecia a II Feira Paulista de Opinião, que dava lugar à I Feira Antropofágica de Opinião, que aconteceu no Espaço Cultural Tendal da Lapa. Desta vez, com a impressão digital da Companhia Antropofágica, fundada em 2002, com o conceito de brasilidade do Manifesto Antropófago e da Semana de Arte Moderna de 1922. Entre outras atividades, a reedição da feira contou com palestras e a presença de participantes da feira de 1968. Contou também com a reapresentação do livro Teatro do Oprimido [Augusto Boal, Cosac Naify].


Teatro de Esquerda – Idealizador do Teatro do Oprimido e integrante do Teatro de Arena, Boal via as artes cênicas como espaço para a atuação política, libertária e transformadora. Suas técnicas dramáticas mostram que teatro é ação. Logo, o espectador também pode ser sujeito atuante do processo cênico. Suas ideias dialogam com o pensamento e a obra de PAULO FREIRE (1921-1997) na sua Pedagogia do Oprimido.

Segundo o diretor Thiago Reis Vasconcelos, nos últimos 20 anos, o chamado teatro de grupo aponta modificações expressivas para a linguagem teatral. “Este fenômeno recente tem fortes ligações com grupos de outras épocas, além de manter um diálogo vivo e constante com as outras linguagens artísticas”, compara.

Quinta-feira - 04 de Junho de 2015
14h00 - Karroça Antropofágica
14h30 - Abertura com Cecília Boal
15h00 - Grupo OPNI / Clara Ianni
15h30 - Companhia Estudo de Cena
16h00 - Fraternal Companhia de Arte e Malas-Artes
16h30 - Núcleo Bartolomeu de Depoimentos
17h30 - Teatro dos Ventos
18h00 - Companhia Antropofágica
18h30 - Núcleo Sem Drama
19h00 - Wanderley Martins
19h30 - Companhia Estudo de Cena
20h00 - Kiwi Companhia de Teatro
20h30 - Pessoal do Faroeste
21h00 - Folias D`Arte 21h30 - Grupo Rima Fatal da Leste

Sexta-feira - 05 de Junho de 2015
14h00 - Grupo Pandora de Teatro
14h30 - Cia do Tijolo
15h00 - Núcleo Pavanelli
15h30 - Cia Teatral Boccaccione
16h00 - Grupo Rosa dos Ventos
16h30 - Cia Humbalada
17h00 - Mamulengo da Folia
17h30 - Companhia Ocamorana
18h00 - Mariana Moreira
18h30 - Coletivo de Galochas
19h00 - Coletivo Zagaia
19h30 - Cia dos Inventivos
20h00 - Companhia Antropofágica
20h30 - Teatro de Narradores
21h30 - Grupo Odisséia das Flores

Sábado - 06 de Junho de 2015
14h00 - Teatro VentoForte
14h30 - Grupo Teatral Parlendas
15h00 - Coletivo Território B
15h30 - Grupo Redimunho de Investigação Teatral
16h00 - Arlequins Grupo de Teatro
16h30 - Coletivo Cê
17h00 - Núcleo 184
17h30 - Grupo Sem Fronteiras de Teatro do Oprimido
18h30 - Cia São Jorge de Variedades
19h00 - Coletivo Tela Suja Filmes
19h30 - Brava Companhia
20h00 - Grupo Clariô de Teatro
20h30 - Cia Estável
21h00 - Companhia do Feijão
21h30 - Sérgio Ricardo

Domingo - 07 de Junho de 2015
14h00 - Companhia Antropofágica
14h30 - Teatro da Neura 
15h30 - Bando Trapos
16h00 - Grupo Buraco d`Oráculo
16h30 - Satyros
17h00 - Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes
17h30 - Cia Artehúmus de Teatro
18h00 - Alípio Freire e Ateliê XXII de Artes Plásticas
18h30 - Pombas Urbanas
19h00 - Coletivo Cinefusão
19h30 - Cia Teatro Documentário
20h30 - Juh Vieira
21h00 - Companhia Antropofágica
21h30 - Karroça Antropofágica


segunda-feira, 25 de maio de 2015

Um Filme Canalha



Se há algo que salta aos olhos em “A Chef in Love” - tradução difundida do filme “Shekvarebuli Kulinaris Ataserti Retsepti”, realizado na Geórgia, em 1996, por Nana Dzhordzhadze – é a superficialidade com que lida com as questões históricas e relações humanas. Para além do fato de ser uma comédia romântica daquelas bem insossas e repleta de amenidades pueris, é canalha na maneira como torna rasteiro todo e qualquer debate. A sua trivialidade transborda dos próprios conteúdos e atinge a forma, o que se evidencia através da importação de recursos enlatados do cinema norte-americano, sem ao menos reutilizá-los criativamente.

“A Chef in Love” situa-se na Geórgia, em dois tempos históricos distintos, o presente, quando o filme foi realizado, e os anos de 1920, nos quais a Geórgia passa ao domínio da União Soviética, após ser tomada pelo exército vermelho. É no presente, que o artista plástico Anton, às vésperas de estrear uma nova exposição, é convocado para uma visita a Marcelle, uma fotógrafa gastronômica, que irá lhe mostrar escritos guardados do renomado chef de cozinha francês Pascal Ichak, que é tio de Marcelle e autor de um famoso livro de culinária georgiana. Eis aí a desculpa para se recorrer ao banalizado recurso do flashback, que será alternado com as conversas narrativas entre os dois, para no final descobrirmos "surpresos" que o chef francês é pai de Anton.


Durante os flashbacks, passamos, então, a acompanhar episódios da trajetória de Ichak, após conhecer e se apaixonar por Cecília, uma das princesas da Geórgia. É ao seu lado que ele perambula pelo país do Cáucaso, em busca de novos sabores e levando uma vida de verdadeiro “bon vivant”. Quase como um romântico ou renascentista da gastronomia, ele percorre campos de uvas; experimenta iguarias da região, como o kupati; bebe em um só gole 8 litros de vinho, dentro de um chifre de boi; até abrir o restaurante Eldorado, onde irá cozinhar os pratos típicos do país: pato com amêndoas amargas, língua defumada, faisão com pistaches e outros requintes reservados para os mais abastados e, portanto, com evidente distinção social do paladar.


Ironicamente, a metade final do filme é praticamente uma defesa da permanência dessa alta gastronomia, sempre para privilegiados de classe, enquanto espaço gourmet, como gostam de dizer. A maneira como retrata a tomada da Geórgia pelo exército vermelho, sem qualquer relativização a respeito da degeneração dos ideais comunistas, principalmente durante o período de Stalin, simplifica de tal maneira as questões ideológicas, que restam algumas pinceladas morais sobre uma caricatura grosseira do que seria o comunismo: um grupo de homens autoritários, que cantam a internacional em um banquete, ao lado de mulheres masculinizadas (exclusivamente porque são comunistas), e que são todos contra a “arte gastronômica”. “O comunismo desaparecerá um dia, a boa cozinha não”, diz Ichak, em determinando momento, com ar de artista esclarecido, mas esquecendo-se que o comunismo nunca chegou efetivamente a existir para desaparecer, e que a ideia de comunismo continua viva sim para matar o que se chama hoje de alta gastronomia, pois, no comunismo por vir, os banquetes serão abundantes e para todos. E aí sim a gastronomia será arte verdadeira.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Como fazer um filme



Parece-me sempre complicado buscar associações temáticas entre filmes, ainda mais quando se limita ao ponto de categorizar o cinema em nichos, pois as aproximações acabam sendo sempre arbitrárias e até subjetivas. É afundado nesta contradição que retomo esta coluna que pretende se debruçar sobre filmes que tratam de alguma forma da gastronomia. E é justamente neste “de alguma forma” que me dou a liberdade de trazer à tona livres associações para justificar falar sobre cinema. Recentemente, assisti “Como Cheirar uma Rosa: Uma Visita com Rick Leacock à Normandia” (2015), filme atravessado o tempo todo pela culinária, mas que nos fala de outras coisas, talvez mais pertinentes ou não. É justamente na sua despretensão que está a força desta singela celebração do afeto humano e homenagem cinematográfica ao documentarista britânico Richard Leacock.


Dirigido pelo casal norte-americano Les Blank e Gina Leibrecht, o filme em si é a visita que ambos fazem, em 2000, ao amigo Leacock, um dos responsáveis pelo aprimoramento do chamado “cinema-direto”, através da sincronização de som e imagem durante a captação, que permitia menor interferência do cineasta sobre a realidade filmada. É em sua casa, na Normandia, no norte da França, que Leacock se abre para uma conversa informal filmada por Les Blank e que resulta em um perfil biográfico muito singular do diretor britânico. A simplicidade do filme dialoga formalmente com a simplicidade de Richard Leacock, que recebe seu amigo com ternura, enquanto cozinha. Em meio à deslumbrante paisagem da propriedade do cineasta, que “Como Cheirar uma Rosa: Uma Visita com Rick Leacock à Normandia” é, antes de tudo, uma aula sobre o próprio cinema. Aos 79 anos, quando foi filmado, Leacock se debruçou sobre lembranças de sua carreira, as quais são ilustradas por Les Blank através de imagens dos filmes que ele cita.

  

Por mais que aparentemente estejamos frente a um senhor com a vida ganha, que se acomodou ao seu modo de vida pequeno burguês, a essência de Leacock vai se descortinando e passamos a uma compreensão mais profunda, inclusive da generosidade política deste personagem que, antes de tudo, doou sua vida ao desenvolvimento de uma linguagem. São nas sutilezas das conversas que percebemos o homem por trás do artista e o artista que apequena o homem. Entre o preparo de um cordeiro, o descascar de batatas e a afetuosa relação que tem com sua companheira e parceira no cinema, Valerie Lalonde, o cineasta escancara o seu amor pela imagem e pela simples ideia de transmitir ao espectador as sensações daquilo que capta com sinceridade. É comovente, por exemplo, o carinho que ele demonstra por uma imagem, a princípio banal, de um casal de japoneses que tentam utilizar um telefone de rua sem sucesso. Leacock extrai da mais ingênua imagem significados que atravessam a sociedade e as inquietações do homem. Tudo, portanto, está na sutileza da captação.

Leacock morreu em 2011 e o diretor do filme, Les Blank, em 2013, ainda sem ter finalizado o filme, que foi editado e lançado pela viúva de Les Blank, Gina Leibrecht, que assina a direção ao seu lado. Sem ser pedante, as imagens revelam aos poucos o complexo ser humano por trás da simplicidade que imprime em seus filmes e também na gastronomia que tem como hobby. A associação entre a sutileza com que prepara um dos pratos mais populares da França, o pot-au-feu, um guisado de carne com ervas aromáticas (talvez equivalente ao nosso “picadinho”), e o próprio modo com que encara a realização cinematográfica é inevitável. Se o paladar é estimulado com os sabores que te levam para outros lugares, os filmes também devem levar o espectador a “sensação de estar ali”, como insiste Leacock, para voltar a si transformado, absorto em novas compreensões do mundo que não as habituais.  


É a verdade da imagem, não em um sentido moral, mas dentro da perspectiva de uma ética cinematográfica que Leacock parece querer transmitir. Em um dos momentos em que se revela a coerência do homem por trás das câmeras, ele relembra de um de seus filmes, no qual captou o momento em que políticos discutem economia e questões políticas, em um quarto de hotel, quando um camareiro chega com o almoço que foi pedido. Ao invés de desligar a câmera, ele segue filmando a patética discussão que, agora, mistura, as mesmas questões políticas com a preocupação de encontrar os bifes mal ou bem passados e seus respectivos donos. Mais uma vez, a simplicidade do olhar, quase ingênuo, explode em significações, trazendo uma triste e sarcástica nota sobre os caminhos que o capitalismo nos impõe. Longe de ser um conformado, Richard Leacock celebra a vida, mas não sem determinar o que olhar e como olhar, para dali tirar toda a força de seus filmes. É assim que “Como Cheirar uma Rosa”, para além das rosas, talvez nos ensine, afinal, algo sobre como fazer um filme.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Debate: DIREÇÃO ANTICOLONIALISTA / Estética de Resistência, Luta e Poesia - da perspectiva da Direção Cinematográfica


O COLETIVO TELA SUJA FILMES e a FILMES DE ABRIL iniciam os trabalhos do projeto AS VEIAS ABERTAS DO CINEMA LATINO AMERICANO. Propomos um processo coletivo de estudo e pesquisa cinematográfica que visa contribuir com a historicização crítica do cinema político produzido na América Latina, a partir de meados dos anos 60 até os dias de hoje.

Iniciamos com um debate com ADIRLEY QUEIRÓS e ANDREA TONACCI, dois grandes cineastas que respeitamos a admiramos pela conduta cinematográfica e pelo histórico de coerência e luta que imprimem com suas obras. Estamos ansiosos em partilhar a presente reflexão e esperamos a todos!

Debate:
DIREÇÃO ANTICOLONIALISTA
Estética de Resistência, Luta e Poesia
- da perspectiva da Direção Cinematográfica
- com ADIRLEY QUEIRÓS e ANDREA TONACCI

Quando:
03 de Maio de 2015, domingo, às 19h00

Onde:
Cineclube Latino Americano Juan Carlos Arch
Sala de Cinema no Pavilhão da Criatividade Darcy Ribeiro
Fundação Memorial da América Latina
Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664
Barra Funda - São Paulo - SP






Nuestro cine tiene una profunda raíz de protesta y fue constante en la resistencia. Pero también es un cine de sueños. Detrás de toda esa protesta hay un sueño de justicia, igualdad y belleza. Un sueño rebelde que no acepta el conformismo o esa realidad que no es lo que tendría que ser... (Fernando Birri)

sexta-feira, 3 de abril de 2015

quinta-feira, 5 de março de 2015

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

CONTRA O CINEMA INDUSTRIOSO OU A RESPEITO DA SPCINE

carta assinada pelo coletivo cinefusão e publicada originalmente no blog dos parceiros da Zagaia

Publicamos um manifesto crítico escrito por realizadores de cinema. Esta carta foi lida por diretores paulistanos na Mostra de Cinema de Tiradentes no dia 27/1, data em que a prefeitura de São Paulo criava a SPCine, empresa encarregada da produção audiovisual na cidade de São Paulo. Nos anos 50 outro projeto industrial surgiu em São Paulo e foi um fracasso: a Vera Cruz produziu cerca de quarenta filmes, a maioria hoje merecidamente esquecidos, e se tornou um exemplo negativo de arremedo do cinema industrial produzido nas grandes metrópoles para as gerações seguintes. A carta busca valorizar o verdadeiro cinema paulistano, o cinema de invenção que marcou nossa cinematografia e deixou muitos herdeiros, representado por mestres como Carlos Reichenbach, Ozualdo Candeias, Jairo Ferreira, Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci.   



CONTRA O CINEMA INDUSTRIOSO 

Hoje, quando vários filmes paulistanos fazem sua primeira exibição na Mostra de Cinema de Tiradentes está sendo aberta a SPCine em São Paulo. É importante frisar que a imensa maioria dos filmes paulistanos aqui exibidos não tem nenhum apoio desta prefeitura. O que diz muito sobre a forma como a cultura é tratada em nossa cidade. 

O perfil ideológico da SPCine, o grande empreendimento da secretaria da cultura de São Paulo, fica cada vez mais claro: incentivar o lixo cultural em detrimento do cinema de invenção e de risco. Fortalecer as grandes produtoras, que não estão preocupadas com a cultura, mas sim com os seus negócios. Incentivar o lixo cultural imposto cotidianamente pelos grandes meios de comunicação: as globo-chanchadas, o cinema publicitário, o gangsterismo cultural travestido em audiovisual.

Aproveitamos esta oportunidade para frisar que nós, realizadores e criadores do cinema paulistano aqui representados em vários filmes, nos negamos a produzir o lixo cultural que o projeto industrioso da prefeitura de São Paulo tenta nos impor. Joguemos pedras aos porcos. Declaramos guerra à cultura-consumo defendida pela SP-Cine. Guerra à mercadoria audiovisual. 

Não comercializamos o sentimento. Não concordamos, não aceitamos, não acreditamos: não vendemos. Lutaremos com todas nossas forças por um cinema artesanal, de invenção e de risco. Por filmes integros. Por um mundo de olhos livres.   

Assinam: Coletivo Zagaia, Coletivo Cinefusão, Comitiva Paracatuzum 

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A ENTRADA DAS OPERÁRIAS NAS FÁBRICAS

texto publicado originalmente no blog Ideário Dialético


Reflexões em torno da formação do pensamento político feminino.


O assunto mais detestável, a qualquer mulher onde reina o mínimo de lucidez, é o feminismo. Dentre toda circulação de ideias—vejam, digo circulação com vistas direta ao fator econômico fundante de nossa socialização—as que são atribuídas diretamente a mulher são sempre questões de cunho sensível (arte, artesanatos, família, educação...) ou, em ambientes um pouco mais “avançados” , a concepção de ideias em torno da libertação da mulher também são entregues a ela. Sim, nos legaram o direito de lutar por nossa liberdade, sobretudo material. Agora, restam as questões: em que campo? Com quais armas?

Não raras são às vezes onde se nota um esforço fervoroso da mulher para trazer a si direitos que se equiparem ao do sexo masculino, esquecendo-se, fundamentalmente, que bradar por direitos iguais pressupõe saber ao direito de qual homem a mulher pretende se igualar; a de um trabalhador ou a de um burguês? No caso de um burguês, um empresarial ou um intelectual? E no caso de um intelectual, quer os direitos concedidos ao intelectual de esquerda ou de direita? Ao que tudo indica, senhoras, estamos ainda em uma sociedade cindida em classes e reivindicar um direito prevê saber que a divisão social do trabalho e o Valor, encontram-se diretamente ligados a qualquer crítica que se pretenda. E neste caso, ou a crítica se constitui como crítica materialista, ou não se solidifica em nada.

Recorrentemente, acompanhamos em movimentos feministas aquilo que se tornou a pauta central—principalmente no Brasil!— de qualquer luta política. Uma vez esquecida a luta de classes e seu fundamento diante da história, resta a reforma democrática do sistema numa tentativa quase inofensiva de melhorias aos oprimidos. A luta política de emancipação da mulher deixou de ser política para se tornar moral, assim como a luta do movimento negro, LGBT e dos próprios trabalhadores aparelhados ao movimento sindical. Porém, o salto “inesperado” disso é que as lutas pelos direitos humanos e democráticos são principalmente apoiadas pelo grande capital.


Tanto isto é verdade que a democracia, para qualquer indivíduo um pouco mais atento e com o mínimo de consciência de classes, nunca foi garantia de nada dentro do sistema capitalista. Uma vez a ordem ameaçada e os aparatos militares rigorosamente mantidos ao lado do Estado entram em ação destroçando qualquer tentativa de derrubada desarmada contra o sistema. Mas, ao contrário disso, cair no jogo democrático está diretamente ligado a se afinar as regras legais permitidas a sociedade. Evidentemente, não se quer afirmar com isso que a luta pelos direitos democráticos não deva ser feita, tampouco que este não deve ser um lugar ocupado por aqueles que lutam verdadeiramente pela causa dos trabalhadores. Contudo, é necessário notar com clareza qual é o limite da via legal democrática, e de que maneira alcançar estes direitos não está antes ligado a um avanço estrutural da sociedade e não ao que se modifica sempre com maior retardo, a superestrutura.

Um bom exemplo dessa mudança estrutural, que garantiu o nascimento dos direitos das mulheres, foi a entrada da mulher no ambiente fabril. A necessária chegada da mão de obra feminina no trabalho operário está antes ligada a uma demanda da produção e das trocas mercantis que ao direito da mulher de sair de sua condição de escrava doméstica. Ao contrário, a mulher alcança direitos civis e trabalhistas fora de casa, mas onde o trabalho não é condicionado pelo Valor, ela continua na situação de escrava. A dupla jornada da mulher do final do século XIX demonstra com nitidez que a garantia de direitos aos trabalhadores, vem sempre com a função de manter a todo vapor as máquinas do capitalismo e não de torna-lo mais justo. Com o avanço das forças produtivas e com o advento da Primeira Grande Guerra, as fábricas passam a ter mais lugares vagos a serem preenchidos pela mão-de-obra inferior ao homem: crianças e mulheres explodem como indivíduos necessários para a produção da mercadoria e da guerra. Como em toda reviravolta histórica, as forças propulsoras de mudança ali também foram contraditórias. Ainda que a mulher tivesse que se submeter a precarização total do trabalho e tendo também que se manter enquanto escrava em casa, a entrada no mundo do trabalho assalariado, local absolutamente masculino, faz com que a mulher entre também, definitivamente, como agente política necessária a luta de classes.

Antes de estar inserida na divisão social do trabalho, a mulher tinha que se identificar à luta política como companheira e não como agente histórica. O problema, porém, mantém-se. Na divisão social do trabalho, os cargos de formadores de opinião já são primordialmente lugares ocupados por homens, principalmente vindos da pequena-burguesia branca. Quando uma mulher alcança a emancipação intelectual possível no capitalismo, ela é rapidamente enquadrada em um caráter masculino. Esquecem a biologia, para manter a hierarquia. Então, o que vemos com os gritos que bradam por igualdade entre os sexos é, antes de tudo, o esquecimento da organização da sociedade através da forma mercadoria e do mundo do trabalho, que sempre fora masculino. Neste sentido, não surpreende que qualquer mulher que queira debater ideias esteja cercada de homens e, inclusive, torne-se um. Muito menos surpreende que uma mulher terceirizada em uma empresa de limpeza, trabalhe mais e seja maioria na categoria. Essa é a sua função dentro da igualdade democrática entre os sexos. A violência do trabalho é propulsora de todas as outras violências cometidas à mulher. Como tudo que tem determinação histórica e social, a diferença entre os sexos também é um advento material e não abstrato, como temos tratado por aí.

A violência contra a mulher pressupõe uma violência brutal contida na mercantilização da própria vida. O fato da perspectiva da humanidade estar voltada ao trabalho alienado aliena, também, qualquer possibilidade racional de consolidação das relações humanas. Portanto, como evocar um homem para que este seja menos machista se o sistema de dominação, alienado do próprio sujeito, é consolidado por um fundamento patriarcal violento que perdura há anos?

O que quero dizer é que, não se pode contar com a cisão desse vácuo existente entre os sexos nem mesmo pelos homens de esquerda, estes não são deuses pairando num Olimpo distante do mundo material dos homens. Contar com isso em abstrato equivale a contar com o pote de ouro no final do arco-íris. Ou, para deixar mais concreto, seria como contar que as reformas sociais proporcionadas pelo PT fossem levar o Brasil ao comunismo. Sinto nos informar, mas os privilegiados muito dificilmente abdicam de seus privilégios. Então, ainda é papel da mulher, de maneira urgente, pensar arduamente na destruição do patriarcado através da destruição da sociedade de classes. Mas, para isso, é necessário que nos fundamentemos cada vez mais e ocupemos o lugar de pensadoras da crítica materialista, caso contrário, toda posição que nos aparece enquanto crítica está fadada a degenerar em mera conversa fiada.


Nathalia Colli