O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

LANÇAMENTO ONLINE DO EXPERIMENTO #5 DO LABORATÓRIO CINEFUSÃO

EXPERIMENTO #5 - UM PLANO PODE BASTAR



Neguemos o tempo do cinema-lebre. O cinema-lebre na verdade filmou a famosa  fábula onde a tartaruga vence a corrida, na busca da integridade moral e perseverança para com o labor. O cinema-lebre é norte-americano, quer o tempo aprisionado na circulação mercadológica. O espectador não pode sentir nada a não ser uma leve emoção dramadrástica, materializada nos animaizinhos pacíficos que sofrem com o desmatamento. O cinema-lebre escolhe seus planos para aproximar ao máximo o espectador de uma ‘’vida real’’, que se tratando de cinema é uma bobagem. Sejamos sinceros, a burguesia é anti-artística há muito tempo. 

Como então provocar o contrário? Partir de uma negação radical (ainda que a negação radical só possa vir com a tomada dos meios de produção) ao elaborar um exercício estético, no qual inclusive o tempo possa ser indeterminado, não esquecendo os seus donos-permanentes: o burguês-níquel. Pelo contrário, por conhecê-lo, nega-lo. Um plano por tempo indeterminado.

Narrar uma reflexão que se depare de forma crítica com o cinema-lebre. Ou seja, provocar em um plano uma meditação da própria necessidade de se fazer um só plano. Isso já é por si só a obstrução criativa. O exercício traz consigo uma temática-formal que nem de longe é formalista, atua como força política numa metalinguagem necessária para tempos onde o cinema-lebre se reproduz sem muitos contraceptivos, principalmente na sem sucesso fornicação industriosa-nacional.

Poderão ser usados atores, bem como não atores, vozes do próprio realizador, apenas imagem e silêncio. Enfim, dessa vez a liberdade é total dentro de um só plano, sem cortes e elipses de tempo, movimento é permitido. 

Seremos as tartarugas fogosas, com a crítica prévia ao esforço do trabalho como redenção dos pecados.

Regras estabelecidas:
- tudo é permitido dentro de um único plano
- vídeo sem cortes
- não há limite de duração









quarta-feira, 10 de junho de 2015

A atual função da Universidade: produzir desemprego em massa

Publicamos, abaixo, uma importante contribuição do camarada, escritor e professor de filosofia Bruno Henrique de Souza Soares. O artigo tem a imprescindível objetividade dialética para colocar a questão concreta do problema da educação. Sem cair em abstrações econômicas, faz uma síntese necessária sobre a situação dos estudantes-trabalhadores e desvela o uso político ideologizante dos projetos reformistas. 

A atual função da Universidade: produzir desemprego em massa 



Por bruno henrique de souza soares 

Se hoje o slogan “Pátria Educadora” é marcado por cortes econômicos na área da Educação – desde o MEC até estados e municípios, cortes esses respondido por greves em todo o Brasil, pelos trabalhadores tanto da educação básica como do ensino superior, lutando por melhores salários e condições de trabalho e portanto, contra os cortes que recaem nas costas dos trabalhadores da Educação – que poderíamos dizer do antigo slogan governista: “educação para todos”, “democratização do ensino” e outras expressões do mesmo gênero, tão agradáveis aos ouvidos, mas de eficácia social questionada. . 

Ora, o governo do PT, que capitalizou os anseios dos movimentos sociais e populares por uma inclusão social na educação básica e no ensino superior, foi capaz de transformar essa reivindicação legítima num projeto de conciliação de classes, produzindo a ilusão na imensa maioria da população pobre de que finalmente fariam parte dessa camada alfabetizada, intelectualmente desenvolvida e com possibilidades de crescimento pessoal, profissional (e salarial), mas que na prática, tão só aplica as diretrizes do capital internacional por um ensino quase que puramente técnico na maioria dos casos, e cada vez mais rebaixado do ponto de vista da formação do estudante, e dessa forma, busca enriquecer os bancos e os capitalistas da educação. 

Isso se dá através de programas como FIES e PROUNI – no caso do ensino superior privado –, ou com o surgimento de Universidades sem estrutura, nem planejamento, muito menos condições de permanência – no caso do REUNI – ou, se tratando do ensino público na educação básica, cria um sistema de ensino que na prática busca apenas administrar o controle físico e ideológico do jovem, acostumando-o a receber ordens e acatá-las, adaptá-los à vida social através de salas superlotadas, e porque não apontar a semelhança estrutural do ponto de vista físico, operacional e nos hábitos instituídos, das escolas públicas com o regime de quartel da fábrica e a violência repressora do sistema prisional em nosso país. 

E para essa imensa juventude que frequenta a escola pública básica, nas atuais condições, qual é a perspectiva desta de adentrar o Ensino superior, sendo capaz de passar pelo funil do vestibular – mesmo que este se chame ENEM – e assim, possa se tornar essa minoria que adentra o ensino superior?  

Para alguns, essa questão começou a ser resolvida com os programas que citamos a pouco (FIES, PROUNI, REUNI), dando o nome de “políticas públicas”. Contudo, se olharmos mais de perto, pode-se perceber, sem grande dificuldade, que tais programas simplesmente transferem o dinheiro em posse do governo – que não é senão o nosso próprio dinheiro – para esses magnatas do capital que tratam a educação como uma mercadoria, como outra qualquer [1], e, portanto, não visa estruturar, do ponto de vista de “políticas públicas” um cenário que pudesse ampliar, efetivamente, o acesso e as condições de permanência em instituições educacionais. Além disso, também podemos reconhecer que tais medidas só foram possíveis, pois o Brasil passou por uma conjuntura economicamente favorável, momento este que se esgotou. 

Um fato digno de nota sobre a finalidade última de programas como PROUNI e FIES, é o apontamento da Controladoria Geral de União (CGU), noticiado na Folha de São Paulo (notícia: Auditoria encontra alunos já mortos e de alta renda no sistema do Prouni, 25/05/2015 [2]), sobre a existência de “alunos-fantasmas”, angariando somas volumosas de dinheiro público até mesmo para estudantes que não existem. Os dados analisados pela CGU correspondem entre os anos de 2005 a 2012, e constatou a existência de 47 estudantes mortos como beneficiários do programa PROUNI, assim como 4.400 bolsistas com rendimento superior ao que permitido. Isso sem falar na quantidade de estudantes que, através do FIES, quando conseguem se formar, ficam endividados, ou nem conseguem se formar, e permanecem com dívidas insustentáveis [3]. E segundo notícia veiculada em
2010 pelo jornal Folha, informa que dos 250 mil contratos em fase de pagamento na época, 50 mil estavam em dívida, como podemos ler (notícia: Caixa cobra 37 mil fiadores de universitários [4]). 

E visto que, em primeiro lugar, fica implícito que a Universidade, como instituição que teria por função ser o espaço de pesquisas, estudos, da liberdade do pensamento, ao menos no Brasil ela deixou esse papel a âmbitos tão reduzidos que beiram a inexistência, e em substituição, assumiu o papel de que a Universidade serve hoje tão somente para a formação para o mercado de trabalho, isto é, preparação formal e técnica para a força de trabalho medianamente especializada em diversas áreas de atuação.

Sendo assim, cabe questionar se ao menos esse papel a Universidade, no Brasil, tem levado a cabo. E pelo cenário geral, pode-se constatar que ela tem feito um trabalho ruim, visto que muitos concluem o curso com dificuldades elementares: seja na sua capacidade cognitiva, no uso da língua nativa, o português – quando não há casos de sujeitos que se formam na condição de analfabetismo funcional –
e até mesmo nas capacidades técnicas na sua área de atuação. 

E em segundo lugar, exatamente devido a essa alteração descrita, cabe questionar que, se o mote de tais pretensas “políticas públicas” de democratizar um ensino que se tornou pura e simplesmente formação para o mercado de trabalho, isto então significaria maior capacidade, para o país, de incorporar tamanha força produtiva de milhares de jovens e adultos que, ao adentrarem a universidade, sonham em seus futuros empregos e carreiras? 

Vemos que é exatamente o oposto o cenário de quem concluiu seus cursos universitários. A perspectiva é o desemprego. Portanto, o que parecia, à primeira vista, como um programa social que favoreceria a imensa maioria da população pobre com o slogan “democratização do ensino” se mostra, em verdade, como socialização do desemprego, da miséria de milhares de profissionais diplomados sem nenhuma perspectiva no futuro imediato – claro que, sem antes enriquecer os monopólios do ensino superior privado e das empreiteiras que superfaturam centenas de obras nas universidades públicas.

Das universidades particulares às públicas, dos cursos mais humanitários aos mais voltados ao mercado, do norte ao sul do Brasil, a Universidade cumpre essa miserável função, de formação em série, periodicamente, sem cessar, de um volumoso exército de desempregados diplomados. 

Se esse cenário, que foi construído nas duas últimas décadas, se deu numa conjuntura economicamente favorável, as perspectivas são muito piores, quando a crise econômica mundial se manifesta no Brasil, depois de sacudir países à beira da falência como Grécia, Egito, Espanha, Portugal e outros. Portanto, se o cenário era ruim, ou péssimo, ele, atualmente beira a catástrofe..

É desse ponto de vista que a juventude e a classe trabalhadora no Brasil podem – e ouso dizer, necessitam – tirar lições das tarefas que se colocam atualmente, e permite, inclusive, uma unidade articulada de estudantes – que serão futuros trabalhadores na imensa maioria, quando já não o são – e a classe trabalhadora contra o horizonte do desemprego em massa, da miséria econômica e social, fruto do sistema capitalista de produção. 


[1] Cabe notar que, para eles, ao tratar a educação (e em última análise, o diploma, diga-se de passagem) como mercadoria, acontece o mesmo com qualquer outra mercadoria, o único objetivo é vender, realizar o valor de troca (dinheiro pela mercadoria), e não importa o uso, isto é, o valor de uso dessa mercadoria. Sendo que, seja qual for a matéria que se torne mercadoria, que ela possa ser trocada no mercado por dinheiro. Tanto faz se o objeto da venda são batatas ou diplomas.


[3] Conferir: G1. (Estudante de medicina fica sem FIES e acumula divida de quase R$ 20 mil) - http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/05/estudante-de-medicina-fica-sem-fies-e-acumula-divida-de-quase-r-20-mil.html 

quarta-feira, 3 de junho de 2015

II Feira Antropofágica de Opinião no Memorial da América Latina

É com enorme satisfação que o Coletivo Cinefusão estará, ao lado de 40 grupos convidados, na II Feira Antropofágica de opinião. Exibiremos um vídeo-experimento no domingo, dia 07, às 19h. Ressaltamos a importância de somarmos forças neste evento, que tem a papel histórico de colocar o debate estético e político na ordem do dia.




São 40 grupos de teatro em quatro dias de eventos. São músicos, poetas, artistas plásticos e coletivos de cinema. Todos em torno de uma pergunta: “O que Pensa Você do Brasil de Hoje?” Este é o mote da II Feira Antropofágica de Opinião produzida pela Companhia Antropofágica, no evento que acontece de 04 a 07 de junho, das 14h às 22h, no Memorial da América Latina, na Barra Funda, São Paulo.

Com direção geral de Thiago Reis Vasconcelos, a II Feira Antropofágica de Opinião pretende discutir – por meio de diversos segmentos artísticos – o cenário sociopolítico do Brasil atual. Serão intervenções artísticas com teatro, música, cinema, poesia e artes plásticas. Três palcos serão reservados às apresentações teatrais com encenações de 15 a 30 minutos.

As apresentações musicais serão em um palco específico. Já a projeção de audiovisuais acontece ao ar livre, podendo ser vista de diversas partes do evento. Pensar é compreender. Logo, a Antropofágica provoca os artistas a darem suas compreensões e respostas a este questionamento. Por sua vez, instigar o público a refletir sobre este Brasil contemporâneo. Assim, trazer uma reflexão como uma função social da arte.

Como inspiração, está a Primeira Feira Paulista de Opinião, que aconteceu em 1968. Organizada pelo Teatro de Arena, com direção geral do ensaísta e dramaturgo AUGUSTO BOAL (1931-2009), aquele evento aconteceu quando entrou em vigor o Ato Institucional nº 5 (AI-5), que marca o período mais duro da ditadura militar (1964-1985).

Para driblar a censura, acontecia em teatros, cujos diretores com peças em cartaz, cediam uma parte do seu tempo para a feira. Nomes das artes cênicas como GIANFRANCESCO GUARNIERI (1934-2006), LAURO CÉSAR MUNIZ, BRÁULIO PEDROSO (1931-1990), PLÍNIO MARCOS (1935- 1999), entre outros, e da música como GILBERTO GIL, CAETANO VELOSO, SÉRGIO RICARDO, EDU LOBO, e artistas plásticos, como NELSON LEIRNE, participaram da empreitada.


Remasterizada– Como comenta a psicanalista e atriz CECÍLIA BOAL, viúva do dramaturgo, “uma feira itinerante e cigana, que se tornou uma romaria”. Cecília participará da mesa de abertura da feira 2015. Em fevereiro de 2014, a Companhia Antropofágica retoma a ideia dos seus idealizadores com a mesma pergunta norteadora de Boal: “O que Pensa Você do Brasil de Hoje?”.

Assim, acontecia a II Feira Paulista de Opinião, que dava lugar à I Feira Antropofágica de Opinião, que aconteceu no Espaço Cultural Tendal da Lapa. Desta vez, com a impressão digital da Companhia Antropofágica, fundada em 2002, com o conceito de brasilidade do Manifesto Antropófago e da Semana de Arte Moderna de 1922. Entre outras atividades, a reedição da feira contou com palestras e a presença de participantes da feira de 1968. Contou também com a reapresentação do livro Teatro do Oprimido [Augusto Boal, Cosac Naify].


Teatro de Esquerda – Idealizador do Teatro do Oprimido e integrante do Teatro de Arena, Boal via as artes cênicas como espaço para a atuação política, libertária e transformadora. Suas técnicas dramáticas mostram que teatro é ação. Logo, o espectador também pode ser sujeito atuante do processo cênico. Suas ideias dialogam com o pensamento e a obra de PAULO FREIRE (1921-1997) na sua Pedagogia do Oprimido.

Segundo o diretor Thiago Reis Vasconcelos, nos últimos 20 anos, o chamado teatro de grupo aponta modificações expressivas para a linguagem teatral. “Este fenômeno recente tem fortes ligações com grupos de outras épocas, além de manter um diálogo vivo e constante com as outras linguagens artísticas”, compara.

Quinta-feira - 04 de Junho de 2015
14h00 - Karroça Antropofágica
14h30 - Abertura com Cecília Boal
15h00 - Grupo OPNI / Clara Ianni
15h30 - Companhia Estudo de Cena
16h00 - Fraternal Companhia de Arte e Malas-Artes
16h30 - Núcleo Bartolomeu de Depoimentos
17h30 - Teatro dos Ventos
18h00 - Companhia Antropofágica
18h30 - Núcleo Sem Drama
19h00 - Wanderley Martins
19h30 - Companhia Estudo de Cena
20h00 - Kiwi Companhia de Teatro
20h30 - Pessoal do Faroeste
21h00 - Folias D`Arte 21h30 - Grupo Rima Fatal da Leste

Sexta-feira - 05 de Junho de 2015
14h00 - Grupo Pandora de Teatro
14h30 - Cia do Tijolo
15h00 - Núcleo Pavanelli
15h30 - Cia Teatral Boccaccione
16h00 - Grupo Rosa dos Ventos
16h30 - Cia Humbalada
17h00 - Mamulengo da Folia
17h30 - Companhia Ocamorana
18h00 - Mariana Moreira
18h30 - Coletivo de Galochas
19h00 - Coletivo Zagaia
19h30 - Cia dos Inventivos
20h00 - Companhia Antropofágica
20h30 - Teatro de Narradores
21h30 - Grupo Odisséia das Flores

Sábado - 06 de Junho de 2015
14h00 - Teatro VentoForte
14h30 - Grupo Teatral Parlendas
15h00 - Coletivo Território B
15h30 - Grupo Redimunho de Investigação Teatral
16h00 - Arlequins Grupo de Teatro
16h30 - Coletivo Cê
17h00 - Núcleo 184
17h30 - Grupo Sem Fronteiras de Teatro do Oprimido
18h30 - Cia São Jorge de Variedades
19h00 - Coletivo Tela Suja Filmes
19h30 - Brava Companhia
20h00 - Grupo Clariô de Teatro
20h30 - Cia Estável
21h00 - Companhia do Feijão
21h30 - Sérgio Ricardo

Domingo - 07 de Junho de 2015
14h00 - Companhia Antropofágica
14h30 - Teatro da Neura 
15h30 - Bando Trapos
16h00 - Grupo Buraco d`Oráculo
16h30 - Satyros
17h00 - Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes
17h30 - Cia Artehúmus de Teatro
18h00 - Alípio Freire e Ateliê XXII de Artes Plásticas
18h30 - Pombas Urbanas
19h00 - Coletivo Cinefusão
19h30 - Cia Teatro Documentário
20h30 - Juh Vieira
21h00 - Companhia Antropofágica
21h30 - Karroça Antropofágica