O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

Laboratório Cinefusão

LABORATÓRIO CINEFUSÃO

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Inaugura-se: o centro laboratorial ímpar, junto de outros ímpares da ciência videográfica. Fenômeno que se deseja abundante, hoje quase extinto do ecossistema audiovisual. Nosso tubo de ensaio admite o erro. A explosão da linguagem vai gerar novos espectadores. Superar o óbito constante, assumindo a forma de laboratório na direção correta. Apresentar o diagnóstico concreto e reutilizar a técnica, aspirando a uma nova vida.

A arte de bienal nos enjoa. O tal “vídeo contemporâneo” é uma espécie de subjetivismo primitivo. Enquanto não se admite a politização da estética, a burguesia distribui Chandon em vernissages e eventos beneficentes. O dono de indústria sem identidade observa na cultura a sua propagação imagética. Tal como um narcisista, faz devoção a sua classe, domando o uso da técnica em prol da educação especialista. É claro que entre eles o canibalismo é institucionalizado, e o bolo alimentar agoniza, mas logo é regurgitado numa nova forma. O mundo corre perigo.

Vídeo


O bom democrata líder dos ursinhos carinhosos apela, num gesto afetivo, a sua cordialidade com o povo dos trópicos. Assim, um certo operário, pincelado de sua classe de origem e ao lado do projeto desenvolvimentista, continua abraçando a pior cultura de todos os séculos. Isso não é uma surpresa. Na origem, já tinham confundido o operário com a classe. Os iluminados tecnicistas do cinema, por sua vez, assim como parte dos cientistas, escrevem com sangue dos pulsos, na parede – NÃO EXISTEM VALORES SOCIAIS NO USO DA TÉCNICA. Não é à toa que, no centro da sala de estar, a estátua de Chronos é a sua inspiração, enquanto observam a história.
Para nós, o vídeo não funciona como negação do espaço-físico-cinema, pelo contrário, almejamos agir de modo coordenado para expropriá-lo, das mãos imóveis do seus donos putrificados. No momento, deixamos nossas experiências abertas, em outra das fontes de rejuvenescimento do capitalismo: a internet. É neste “transatlântico do tamanho do oceano’’ que iniciamos uma contraposição à regra geral, dos vídeos fáceis. Levando em conta a premissa de que é no campo da ação política, realizada em massa, que se pode de fato alterar qualitativamente o funcionamento da sociedade, só podemos assegurar a nossa análise cotidiana dos fatos concretos, através de formulações estéticas de caráter laboratorial.

Funcionamento do Laboratório

- Cada integrante do Cinefusão poderá realizar um vídeo-exercício. Eventualmente, poderão ser convidadas outros ímpares parceiros.

- Cada exercício será proposto alternadamente por uma pessoa, que trará um tema, exercício formal ou qualquer outra proposta de experimentação. Também será delimitado uma duração determinada para o vídeo.

- Via de regra, para todo exercício proposto serão sorteados uma obstrução criativa para cada participante (exemplo: ausência de voz off).

- Vídeos que fujam da proposta não serão aceitos.

- O prazo para realização de cada exercício é de 30 dias a partir da divulgação da proposta.

- Os vídeos serão postados no canal do youtube do Laboratório Cinefusão.

- Nenhum participante será identificado nos exercícios, sendo obrigatória a utilização de um pseudônimo.

- Para além disso, a liberdade de pesquisa estética é permanente
.

EXPERIMENTO #5 - UM PLANO PODE BASTAR

Neguemos o tempo do cinema-lebre. O cinema-lebre na verdade filmou a famosa  fábula onde a tartaruga vence a corrida, na busca da integridade moral e perseverança para com o labor. O cinema-lebre é norte-americano, quer o tempo aprisionado na circulação mercadológica. O espectador não pode sentir nada a não ser uma leve emoção dramadrástica, materializada nos animaizinhos pacíficos que sofrem com o desmatamento. O cinema-lebre escolhe seus planos para aproximar ao máximo o espectador de uma ‘’vida real’’, que se tratando de cinema é uma bobagem. Sejamos sinceros, a burguesia é anti-artística há muito tempo.

Como então provocar o contrário? Partir de uma negação radical (ainda que a negação radical só possa vir com a tomada dos meios de produção) ao elaborar um exercício estético, no qual inclusive o tempo possa ser indeterminado, não esquecendo os seus donos-permanentes: o burguês-níquel. Pelo contrário, por conhecê-lo, nega-lo. Um plano por tempo indeterminado.

Narrar uma reflexão que se depare de forma crítica com o cinema-lebre. Ou seja, provocar em um plano uma meditação da própria necessidade de se fazer um só plano. Isso já é por si só a obstrução criativa. O exercício traz consigo uma temática-formal que nem de longe é formalista, atua como força política numa metalinguagem necessária para tempos onde o cinema-lebre se reproduz sem muitos contraceptivos, principalmente na sem sucesso fornicação industriosa-nacional.

Poderão ser usados atores, bem como não atores, vozes do próprio realizador, apenas imagem e silêncio. Enfim, dessa vez a liberdade é total dentro de um só plano, sem cortes e elipses de tempo, movimento é permitido.

Seremos as tartarugas fogosas, com a crítica prévia ao esforço do trabalho como redenção dos pecados.

Regras estabelecidas:
- tudo é permitido dentro de um único plano
- vídeo sem cortes
- não há limite de duração












EXPERIMENTO #4 - OBJETO FUTEBOL, CADÁVER DELICADO

Este experimentou falhou. Nenhuma imagem foi realizada. Nenhum vídeo.

Em breve, os motivos serão expostos aqui.


EXPERIMENTO #3 - O TRABALHO NOS FARÁ DIGNOS


A proposta do experimento surge da conhecida análise do sociólogo alemão Max Weber, presente no livro “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, em que o Calvinismo surge como doutrina responsável por trazer à tona o espírito capitalista. O exercício vem, então, como proposta de negar a visão religiosa da predestinação, que entende o homem como escravo de seu destino e o trabalho como único reflexo da salvação. Essa ideia também está presente no pensamento liberal, que reafirma o caminho da plenitude através do trabalho, e que mercantiliza o próprio tempo, com a máxima “time is money”.

O intuito é evidenciar a contradição presente na sociedade de classes no que diz respeito à relação do homem com o trabalho. A proposição weberiana encontra eco na própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, datada de 1948, que coloca logo em seu artigo primeiro a questão da dignidade humana:

“Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.”

Trechos como este surgem inverossímeis e até irônicos em relação ao capitalismo, já que a destruição das potencialidades humanas é o próprio princípio fundados do capitalismo ao coisificar as relações e mercantilizar toda atividade do homem. No que diz respeito ao trabalho, a tal Declaração, diz:

Artigo XXIII

1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. 
2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.      
3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.    
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus interesses.

Citamos um trecho também da pesquisadora Lívia Mendes Moreira Miraglia para determiner a própria incompatibilidade entre a coisificação do homem e sua dignidade garantida:

"Inicialmente, cumpre salientar que a dignidade impede que o homem seja utilizado como mero
instrumento, como meio para a consecução de um fim. O ser humano é fim em si mesmo e não se admite em nenhuma hipótese a sua “coisificação”.  Nesse sentido o magistério de Kant, para quem os seres racionais estão submetidos a um imperativo categórico que determina que “cada um deles jamais trate a si mesmo ou aos outros simplesmente como meios, mas sempre simultaneamente como fins em si”


Assim, a proposta gira em torno da ideia falha, e repetida comumente, de que o trabalho dignifica o homem. Como afirma Marx “o dinheiro é a essência alienada do trabalho e da existência do homem; a essência domina-o e ele adora-a”. Portanto, o trabalho, ao expropriar o homem dos meios de produção, cria na realidade a alienação e impossibilita a verdadeira natureza do trabalho, que seria a de transformar livremente a natureza, de acordo com suas potencialidades e vontades.

Enfim, concretamente, a realização dos vídeos deve partir da proposta de criação de um roteiro a partir do cenário de um ambiente ou relação de trabalho, no qual um personagem é retratado diante de uma situação de plena contradição na relação com seu patrão ou colega de trabalho que represente uma hierarquia superior. O tema essencial da “dignidade” é colocado em questão e a cena denuncia a impossibilidade de o trabalho dignificar o homem na sociedade capitalista.



Regras estabelecidas:

- máximo 7 minutos de duração sem contar créditos iniciais e finais;
- cada um dos cinco envolvidos terá uma limitação criativa que será sorteada antecipadamente: obrigatório que seja um vídeo em plano sequência (Dida Beller); proibido o uso de trilha sonora (Domenico Salopini); obrigatória a utilização de voz off (Oswaldo Janete); proibido a utilização de atores profissionais (Volim Habar); utilizar apenas um cenário (Ermelino Escobar); trazer alguma questão de gênero (Raoni Yacamin).
- Eventualmente são permitidas as trocas de limitações entre os envolvidos caso haja comum acordo;








EXPERIMENTO #2 - E O VERBO SE FEZ CARNE

A proposta de experimento faz referência à passagem bíblica do nascimento de Jesus Cristo, que diz "E o verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai" (Jo.1.14). A referência vem na verdade de forma irônica, como uma apropriação indevida e até profana, já que busca justamente representar o homem de carne e osso, traduzindo o verbo, mas para a realidade de um ser concreto. A chegada desse cordeiro de Deus para tirar o pecado do mundo sem dúvida falhou e é até irrisória, em um mundo capitalista onde milhões são sacrificados não pela salvação do homem, mas em nome do bom-burguês.

Assim, serão realizados vídeos em que um personagem se faça carne para materializar um discurso, verbo. No entanto, como parte do jogo, esse personagem deve surgir espelhado, ora como fruto da experiência documental (carne) e ora como produto da ficção (verbo), buscando-se a materialização imagética de uma ideia abstrata. Como carne e verbo se relacionam na tela? Como ator e personagem real se manifestam? A ideia também vem de uma proposta de filmar personagens da realidade e não ideias, partir justamente para o mundo material que é a justa concretização do verbo.

As regras estabelecidas foram:

- máximo 5 minutos de duração sem contar créditos iniciais e finais;
- obrigatória a utilização de um ator que necessariamente interprete o personagem documentado;
- cada um dos cinco envolvidos terá uma obstrução criativa sorteada entre as seguintes: obrigatório ser todo preto e branco (Oswaldo Janete); proibida a utilização de voz off (Raoni Yacamin); proibida a utilização de trilha sonora (Dida Beller); proibido o uso de entrevistas (Domenico Salopini); proibido o uso de diálogos (Ermelino Escobar);











EXPERIMENTO #1 - CAPITALISMO: RÉU CONFESSO

O exercício proposto partiu das contradições diárias que podem ser observadas todos os dias, em qualquer lugar onde a forma econômica e consequentemente política é o capitalismo. Basta conviver no cotidiano, para se chegar a conclusão do exercício, de que o capital é um réu confesso, se confessa a todo momento, ora de forma mais acentuada e em outros momentos obscura. Porém, é só tirar a maquiagem posta, que vemos o funcionamento nada saudável de uma civilização em declínio, que anseia por uma nova.

Contudo é necessário compreender a nossa realidade material, ou seja o próprio capitalismo, aqui, se desenvolveu de modo diferente em relação à Europa ou mesmo à América do norte. Esse processo gerou algumas contradições específicas, que negam inclusive o estado de direito democrático. É óbvio que não se trata de apostar no bem-estar social burguês, mas de mostrar inclusive a insuficiência deste projeto “democrático’’ que, aqui e ao redor do mundo, vai desmoronando e colocando a experiência de social democracia em evidência, com suas contradições naturais.
   
As regras estabelecidas foram:
- O vídeo feito só poderia atingir 5 minutos de duração sem contar os créditos iniciais e finais.
- Cada um recebeu uma obstrução criativa. Domenico Salopini (ausência de     entrevistas); Oswald Janete (utilizar PB); Raoni Yacamin (ausência de trilha sonora);
- O exercício tinha como tema “Capitalismo: réu confesso”. A partir dele, poderia se experimentar livremente, levando em conta a obstrução criativa.








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