O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Cineclube Cinema em Revista - Ciclo Cine-Demência #2


O Cineclube Cinema em Revista convida a todos para a segunda sessão do ciclo cine-demência, que será realizada dia 01 de junho, às 18h01, no ECLA (Espaço Cultural Latino Americano), localizado no Bixiga, à rua da Abolição, 244. O tema será ATUALIDADE DO CINEMA MARGINAL e exibiremos 4 curtas: "Documentário" (Rogério Sganzerla), "Olho por Olho" (Andrea Tonacci), Sangue Corsário (Carlos Reichenbach) e A Visita do Velho Senhor (Ozualdo Candeias). Estão todos convidados para debater com os coletivos de cinema que organizam o cineclube.

O ciclo cine-demência, uma evidente homenagem ao mestre Carlão Reichenbach, tem como proposta a discussão estética e política, dentro do âmbito de um cinema paulista que se organiza de forma independente e propõe a experimentação da linguagem e o filme-risco, posicionando-se claramente contrário ao cinema-mercadoria e àquilo que convencionou-se chamar de "filme médio", e que nós denominamos medíocre.

Trata-se de uma iniciativa de coletivos de cinema e teatro Coletivo Cinefusão, Zagaia em Revista, PARACATUZUM, Cia Antropofágica, Tela Suja Filmes, Núcleo de Estudos Cynematográficos e Ceicine) que, posicionados dentro de um campo de disputa simbólica, vêm, a partir da experiência de um cineclube permanente, propor reflexões críticas em torno da experiência coletiva e da necessidade de um outro fazer cultural e cinematográfico. As sessões são gratuitas e irão ocorrer todo primeiro domingo do mês, às 18h01. 

Cineclube, experiência de recuperação do espectador morto. Espaço onde o óbito não é aceito sem diagnóstico. O especialista, neste caso, está mais do que convidado, mas aqui o diagnóstico é feito de forma coletiva, sobre a égide do universalismo, em contraponto com a educação tecnocrata das instituições de ensino. Ciclo Cine-Demência. O cineclube é permanente, Cineclube Cinema Em Revista. Um participa da ação do outro. E afirmamos: A arte tem que ter uma perspectiva revolucionária, caso contrário, os ursinhos carinhosos dominarão. Será sempre convidado alguém que valha realmente a pena, inclusive, os sujeitos da mídia-piada brasileira. Neste caso, não garantimos que não ocorra um ataque feroz por parte dos presentes, sempre no nível do debate, mas prometemos lançá-lo para o abismo de suas contradições.

Estão quase todos convidados: 

“E sobretudo, meu corpo, da mesma forma que a minha alma, evitem ficar de braços cruzados em atitude estéril de espectador, porque a vida não é um espetáculo, porque um mar de dores não é um proscênio, porque um homem que grita não é um urso dançando...”
(Aimé Cesaire)

sexta-feira, 23 de maio de 2014

EXPERIMENTO #2 - E O VERBO SE FEZ CARNE

A proposta de experimento faz referência à passagem bíblica do nascimento de Jesus Cristo, que diz "E o verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai" (Jo.1.14). A referência vem na verdade de forma irônica, como uma apropriação indevida e até profana, já que busca justamente representar o homem de carne e osso, traduzindo o verbo, mas para a realidade de um ser concreto. A chegada desse cordeiro de Deus para tirar o pecado do mundo sem dúvida falhou e é até irrisória, em um mundo capitalista onde milhões são sacrificados não pela salvação do homem, mas em nome do bom-burguês.

Assim, serão realizados vídeos em que um personagem se faça carne para materializar um discurso, verbo. No entanto, como parte do jogo, esse personagem deve surgir espelhado, ora como fruto da experiência documental (carne) e ora como produto da ficção (verbo), buscando-se a materialização imagética de uma ideia abstrata. Como carne e verbo se relacionam na tela? Como ator e personagem real se manifestam? A ideia também vem de uma proposta de filmar personagens da realidade e não ideias, partir justamente para o mundo material que é a justa concretização do verbo.

As regras estabelecidas foram:
- máximo 5 minutos de duração sem contar créditos iniciais e finais;
- obrigatória a utilização de um ator que necessariamente interprete o personagem documentado;
- cada um dos cinco envolvidos terá uma obstrução criativa sorteada entre as seguintes: obrigatório ser todo preto e branco (Oswaldo Janete); proibida a utilização de voz off (Raoni Yacamin); proibida a utilização de trilha sonora (Dida Beller); proibido o uso de entrevistas (Domenico Salopini); proibido o uso de diálogos (Ermelino Escobar);









LABORATÓRIO CINEFUSÃO

Inscreva-se no canal do Laboratório Cinefusão no youtube

Inaugura-se: o centro laboratorial ímpar, junto de outros ímpares da ciência videográfica. Fenômeno que se deseja abundante, hoje quase extinto do ecossistema audiovisual. Nosso tubo de ensaio admite o erro. A explosão da linguagem vai gerar novos espectadores. Superar o óbito constante, assumindo a forma de laboratório na direção correta. Apresentar o diagnóstico concreto e reutilizar a técnica, aspirando a uma nova vida.

A arte de bienal nos enjoa. O tal “vídeo contemporâneo” é uma espécie de subjetivismo primitivo. Enquanto não se admite a politização da estética, a burguesia distribui Chandon em vernissages e eventos beneficentes. O dono de indústria sem identidade observa na cultura a sua propagação imagética. Tal como um narcisista, faz devoção a sua classe, domando o uso da técnica em prol da educação especialista. É claro que entre eles o canibalismo é institucionalizado, e o bolo alimentar agoniza, mas logo é regurgitado numa nova forma. O mundo corre perigo.

Vídeo

O bom democrata líder dos ursinhos carinhosos apela, num gesto afetivo, a sua cordialidade com o povo dos trópicos. Assim, um certo operário, pincelado de sua classe de origem e ao lado do projeto desenvolvimentista, continua abraçando a pior cultura de todos os séculos. Isso não é uma surpresa. Na origem, já tinham confundido o operário com a classe. Os iluminados tecnicistas do cinema, por sua vez, assim como parte dos cientistas, escrevem com sangue dos pulsos, na parede – NÃO EXISTEM VALORES SOCIAIS NO USO DA TÉCNICA. Não é à toa que, no centro da sala de estar, a estátua de Chronos é a sua inspiração, enquanto observam a história. 

Para nós, o vídeo não funciona como negação do espaço-físico-cinema, pelo contrário, almejamos agir de modo coordenado para expropriá-lo, das mãos imóveis do seus donos putrificados. No momento, deixamos nossas experiências abertas, em outra das fontes de rejuvenescimento do capitalismo: a internet. É neste “transatlântico do tamanho do oceano’’ que iniciamos uma contraposição à regra geral, dos vídeos fáceis. Levando em conta a premissa de que é no campo da ação política, realizada em massa, que se pode de fato alterar qualitativamente o funcionamento da sociedade, só podemos assegurar a nossa análise cotidiana dos fatos concretos, através de formulações estéticas de caráter laboratorial.

Funcionamento do Laboratório

- Cada integrante do Cinefusão poderá realizar um vídeo-exercício. Eventualmente, poderão ser convidadas outros ímpares parceiros.
- Cada exercício será proposto alternadamente por uma pessoa, que trará um tema, exercício formal ou qualquer outra proposta de experimentação. Também será delimitado uma duração determinada para o vídeo.
- Via de regra, para todo exercício proposto serão sorteados uma obstrução criativa para cada participante (exemplo: ausência de voz off).
- Vídeos que fujam da proposta não serão aceitos.
- O prazo para realização de cada exercício é de 30 dias a partir da divulgação da proposta.
- Os vídeos serão postados no canal do youtube do Laboratório Cinefusão.
- Nenhum participante será identificado nos exercícios, sendo obrigatória a utilização de um pseudônimo.
- Para além disso, a liberdade de pesquisa estética é permanente.