O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Exibição de curtas no Instituto Ozualdo Candeias



O programa do dia 27 junho, segunda-feira, 20 horas, exibirá NOW! de SANTIAGO ALVAREZ, LEUCEMIA, de NOILTON NUNES e BOTINAS NO ELEVADOR de JOÃO LUIZ DE BRITO NETO e EDSON ARAÚJO LIMA. Entrada franca com debate.

Apoio:
CECISP, ABD/SP, CONAD, PLATEIA FILMES.

FILMES QUE SERÃO EXIBIDOS:

NOW!
Cuba, 1965, p&b, 5 minutos, documentário.
Direção: SANTIAGO ALVAREZ
Sinopse: A famosa Canção "Now!" de Lena Horne, foi um chamado raivoso para a luta contra o racismo nos Estados Unidos.

LEUCEMIA
Brasil, 1978, p&b, 9 minutos, documentário.
Direção: NLOITON NUNES
Elenco: DILMA LÓES, LINO SÁ PEREIRA
Sinopse: Um casal de operários brasileiros exilados em Portugal vive um drama no aeroporto de Lisboa, ao entregarem o filho recém-nascido para ser criado no Brasil, pois a mãe da criança está com leucemia e eles não têm mais condições de sobreviver no exílio.
  
BOTINAS NO ELEVADOR
Brasil/SP, 2011, cor, 50 minutos, ficção.
Direção: JOÃO LUIZ DE BRITO NETO, EDSON ARAÚJO LIMA.
Elenco: GEOVANE FERMAS, SÉRGIO CARVALHO, LUCÉLIA MACHIAVELI, NIVIO DIEGUES.
Sinopse: 1978. A população brasileira começa a sair às ruas para exigir o fim do regime militar, instalado no Brasil desde 1º de abril de 1964. Neste contexto, Raul é preso pela policia política militar. Em plena luz do dia, é conduzido para as celas do quartel do DEOPS, em São Paulo. Ali, Raul, que é militante de um partido de esquerda, presencia situações inimagináveis.
  
ENDEREÇO:
Av. Cásper Líbero, 36, Cj. 204, Centro, tel. 3729-1979.
(de frente da Igreja Santa Ifigênia) - Entrada franca
(11) 3729-1979 

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Nova Música de Chico Buarque - "Querido diário"



''Flower power e web power''

Não resisti, e tive de admitir mais uma vez que "ele" acertou, a segunda no blog, o mimado-exquizofrênico, que acorda de esquerda e vai dormir de direita, como diz João Rodrigues num artigo que fez aqui para o blog do coletivo:

"É o caso, em boa medida, de Arnaldo Jabor. O cinismo detestável dos dias úteis, na medida em que reduz a imagem, poderia esconder o crítico sério e preocupado, conservando-se por trás do escroto e o substituindo nos horários de folga? Difícil de imaginar. Talvez Jabor tenha escrito este texto de pijama! E, mais tarde, de noite, podemos vê-lo no Jornal da Globo, dizendo idiotices ocidentalizantes, e distribuindo ração ideológica pra sujeitos modernos autoritários e robotizados – ora, os mesmos imbecis “contemporâneos” que ele criticou em seu texto, de manhã. O que espanta é a capacidade de lidar com tamanha contradição: admirável força ou falta de vergonha na cara? Uma coisa não anula a outra, talvez."  (http://cinefusao.blogspot.com/search/label/Arnaldo%20Jabor%20%20Robert%20Kurz)

....mais um texto de Arnaldo Jabor, que apesar de sempre na últimas duas palavras ter o potencial único de se auto-destruir, vale muito a pena ler.



Arnaldo Jabor - O Estado de S.Paulo

Felizmente, a marcha pela maconha foi considerada legal pelos caretas supremos do Tribunal Federal (será que eles já ficaram doidões algum dia?) Vendo os votos na TV, lembrei-me dos hippies, os velhos pais fundadores do "desbunde" tecnológico atual, que substituiu flores por blogs e intervenções na web.

Lembrei-me que estava em Londres em 1967, quando saiu o disco dos Beatles Sargent Pepper e lembro que em Kings Road havia uma espécie de "comício" dissolvido nos olhares, nos sorrisos das pessoas, com uma palavra de ordem que flutuava no vento, "blowing in the wind", como cantava o Bob Dylan. O mundo careta vivia ameaçado, de um lado pelo perigo do comunismo e, de outro, pela alegre descrença que os hippies traziam. O capitalismo rosnava de humilhação, condenado por fora e por dentro, como sistema injusto de produção, além de repressor da sexualidade. Hoje, mudou tudo. Onde estão os hippies? Melhor dizendo, onde estão os movimentos alternativos neste mundo careta?

Será que a vida vai ser sempre estes cappuccinos frappés, estas opções na Bolsa, estes fluxos de capital, estes implantes de seios, por toda a eternidade?

Será que só nos restou esta muralha corporativa, este exército de executivos globais vorazes? Não; agora é "webpower" em vez de "flower power".

O que houve no mundo foi o fim do sonho da unidade, o fim da possibilidade de uma "grande narrativa" - como dizem os pós-utópicos, perplexos e com uma pontinha de alívio da obrigação de grandes "relevâncias". O que acabou foi o "UM". Acabou o anseio totalizante de se achar uma única resposta, desejo antiquíssimo de tudo reduzir a um símile do corpo humano: a sociedade funcionando como um organismo sob controle. Isso se deu não só com o socialismo real, mas com o próprio capitalismo. Depois da queda do Muro de Berlim, a arrogância dos USA, sua vontade de unir o mundo todo numa grande mcdonaldização da vida também caiu por terra, pois o american way esbarrou nas diferenças culturais, na inércia da miséria, na tradição teocrática de tantos países, no crescimento populacional. O 11 de Setembro sacramentou a infinita fragmentação do mundo. O que morreu não foi o socialismo nem o hippismo; o que morreu foi a racionalidade "empombada" do Ocidente, a possibilidade de planejar algum futuro. Que futuro? O presente é incompreensível e o passado se alonga: os criminosos da crise de 2008 em Wall Street estão todos empregados e felizes, com bônus bilionários, enquanto a Europa se ferra.

O mundo se globaliza em economia, mas se "balcaniza" em ilhas culturais e psicológicas; melhor que "ilhas", o mundo se "desunifica" em esponjas, em vazios, em avessos, em "buracos brancos" que vão se alargando à medida que o tecido da sociedade "linear" se esgarça. Não são "células de resistência", mas "buracos de desistência".

A desesperança de mudar o mundo politicamente já está parindo filhos alternativos. Milhões de "manos" cibernéticos profanam alegremente a internet com redes e blogs.

Todos estes movimentos (seria melhor dizer "espasmos") - todos estes espasmos de defesa contra a opacidade do mundo são afásicos, por escolha. Odeiam o lero-lero ideológico e não se explicam nem a si mesmos. Não têm manifestos e, no entanto, todos se "unem" (oh, mania de tudo explicar, da qual não me livro!...) na recusa a levantar bandeiras, garantir certezas, a aderir a uma razão organizacional qualquer.

Há uma "tribalização" de grupos, sem proselitismo, há uma recusa ao mundo sem denunciá-lo, mas aceitando-o como algo irremediável. Por dentro de seu luto, as tribos se desenham. As primeiras tribos de jovens que antes professavam subculturas totalizantes, através de orientalismos bobos ou "holismos" diversos, hoje foram substituídas por brilhantes programadores de computação. O que os "anonimous" e mesmo outros "hacketativismos" mais apolíticos querem é alcançar uma identidade corrosiva. As tribos não querem a adesão de todos, pois elas não almejam o poder - almejam não tê-lo. Se antes a ideia de alienação era condenável, hoje a alienação é aquilo que se deseja alcançar.

R.U.Sirius, fundador da ciberrevista Mondo 2000, afirmou com precisão: "Se, antes, havia a polarização de ideologias em oposições binárias, pretos contra brancos, socialismo versus capitalismo, isso vinha da ideia de "sistema e contra-sistema", de "cultura e contra-cultura"." Essa oposição acabou.

Tudo era banhado pela luz atemorizante de uma futura mídia centralizada, buscando uma narrativa única. Mas, as distopias de Orwell ou Huxley foram superada pelos restos podres do mercado e pela "anomia" (e anemia) de qualquer projeto totalitário. Que teremos no futuro? "Que futuro?" - seria a pergunta certa. No mundo central, teremos fria competência no "mainstream" e "esponjas "alternativas" na periferia.

Hoje, a desesperança com qualquer hipótese de totalidade está parindo novas formas larvais de sobrevivência neste mundo decepcionante. E o que nos restará serão os buracos esgarçados por entre a solidez paranoica das corporações globais, estragando, como um terrorismo mudo, sua eficiência sinistra.

Essas tribos estão partindo para uma prática nietzschiana espontânea, pela produção de uma "arte-de-vida" (ou "vida-arte"), dividindo-se em grupos aparentemente antagônicos, mas coincidentes: não acreditam totalmente em nada.

Jean Baudrillard em seu ensaio A Ilusão Vital cita uma linda e profética frase de Heidegger: "Quando olhamos para a essência ambígua da tecnologia, nós contemplamos a constelação, o curso estelar do mistério". E Baudrillard, a ovelha negra das "Academias", conclui: "Além da Razão, além do discurso da "verdade", reside o valor poético e enigmático do pensamento. Pois, diante de um mundo que é ininteligível e problemático, nossa tarefa é clara: precisamos tornar este mundo ainda mais ininteligível, ainda mais enigmático".

Falou e disse.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Gabriel Gárcia Marquez no Teatro João Caetano



fonte: catraca livre

O Teatro João Caetano recebe nesta quinta, 27, o espetáculo “Gardênia”, adaptação de “O Amor nos Tempos do Cólera”, de Gabriel García Márquez. A peça segue em cartaz no Teatro até dia 26 de junho, com entrada a R$10.


Sob dramaturgia de Ana Roxo, a peça transpõe para o palco o universo de imagens e sensações criados pelo escritor colombiano, enfocando os encontros e desencontros de um casal, da juventude à velhice.

de 27/05 a 26/06

Domingos às 19:00
Sextas e Sábados às 21:00

Rua Borges Lagoa,650 – Vila Clementino
(11) 5573-3774


Cineclube Lunetim Mágico


terça-feira, 14 de junho de 2011

Cineclube Cinefusão encerra ciclo com exibição do documentário "Meu Nome é Yuba" - Sessão ensaio aberto




No próximo domingo, dia 19 de junho, às 18h30, o Cineclube Cinefusão encerra o Ciclo "Cinema e Culturas Marginais", com a exibição do documentário "Meu Nome é Yuba", de Bruno Mello Castanho e Juliana Kirihata. O filme foi realizado em 2007, como trabalho de conclusão do curso de jornalismo, sob orientação do prof. Pedro Ortiz. 

"Meu Nome é Yuba" retrata a vida dos moradores da Comunidade Yuba, onde vivem em torno de 70 imigrantes de japoneses, em uma fazenda, na cidade de Mirandópolis, no interior de São Paulo. Isamu Yuba chegou ao Brasil em 1926 e em 1933, junto com alguns companheiros, começou a construção da Fazenda, baseada no lema “Cultivar, rezar e amar as artes”. O filme pretende retratar a singularidade da vida dos habitantes que vivem em Yuba, onde preservam a cultura japonesa e trabalham de uma forma comunitária, dividindo toda a produção, sem hierarquias. 

A sessão será seguida de um debate sobre o filme e também sobre a realização de documentários e processo criativo. Buscaremos, principalmente, discutir a relação entre forma e conteúdo. 

Além disso pretendemos retomar o projeto, o que desencadearia o processo de um novo filme com a comunidade. Será, também, uma espécie de ensaio aberto para um futuro filme.

A exibição dá sequência ao ciclo do Cinefusão "Cinema e Culturas Marginais", que pretende apresentar um panorama de filmes realizados por cineastas de culturas não tão conhecidas e distantes de um senso comum, marcado pelo ocidentalismo europeu e estadunidense, que produz o cinema comercial que é divulgado massivamente. Assim, serão priorizadas obras que nasceram no âmago dessas culturas ou que abordem o modo de vida delas. Esperamos com o ciclo, trazer uma possibilidade de trocas e, principalmente, à luz da barbárie neoliberal, discutir sem qualquer tipo de preconceitos quais são as motivações que levam as sociedades a concepções de mundo tão distintas. A sessão é gratuita e acontece à rua Augusta, 1239, conj 13 e 14.

(WTF)SPFW: Grife encerra 1º dia com discurso político contra regime cubano (WTF?)


Que o meio da moda sempre foi um espaço, onde dificilmente se dá alguma credibilidade, principalmente no que diz respeito aqueles, que representam maior parte da categoria, entregues, e ao mesmo tempo por alienação e acomodação, propagadores e defensores do status quo, e sobretudo da ditadura do capital, isso não é novidade para ninguém.

Agora, um desfile do SPFW, tecer críticas ao que chamam de "regime ditatorial cubano" é novidade. Primeiro, porque, provavelmente, nem estilista e muito menos modelos devem saber sequer onde fica Cuba, e segundo- apesar de não ser fiel e completamente defensor de como se deu a continuidade das conquistas revolucionárias pós-batista,  por diversas razões históricas(que podemos desenvolver caso haja a necessidade) -, que essa crítica maniqueísta - se é que alguma dessas pessoas que participou disso sabe o que é maniqueísmo, ou melhor se é que algum deles irá ler alguma coisa sobre a grande merda que fizeram, ou quiçá se sabem ler - só poderia vir de um campo que representa a mercadoria em seu estado mais puro; não há outra utilidade a não ser vender, inclusive a si próprio da forma mais descarada, e não chamo de não-hipócrita, mas sim de prostituição declarada e defendida; isso piora situação para o estilista que para se distanciar um pouco da sua condição de objeto-mercadoria-prostituta, personifica seu desejo travestindo-se de cafetão, e divide sua perversidade, estendendo-a por alguns tantos modelos na passarela. 

O que mais revolta não é a crítica à Cuba - apesar de, ao mesmo tempo, irritar muito, sendo feita por quem fez e da forma tão burra -, mas que o sonho de quem a fez é provavelmente ser fotografado pela Caras passeando com um abacaxi sobre a cabeça na Oscar Freire, onde seu entendimento por liberdade paira mais concretamente, pois lá a miséria é proibida e jogada para bem longe.

Há um lugar em nossa cabeça, no cérebro mesmo, que dizem ser um grande buraco negro, um vazio, onde nada paira, nada se gera. Parabéns, você acaba de jogar sua existência, enquanto aquilo que acredita ser seu trabalho, neste lugar.


Vamos debater políticas públicas?



Convocatória Assembléia Pública

Políticas públicas para a área da cultura municipal.

Iremos debater a aprovação da proposta de Ementa de projeto de lei apresentado pelo Nabil Bonduki, criando o VAI 2.

***Veja abaixo o projeto na íntegra em tramitação na Câmara Municipal.


Local: Sala Olido, no dia 21 de junho das 18h ás 21h.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

PROJETO CINECLUBE NA CIDADE EXIBE FILMES GRATUITOS

Sessões ás quartas-feiras de maio a novembro ás 19h30 na Sala Glória Rocha

Sala Glória Rocha

Rua Barão de Jundiaí, 1093, Centro

(11) 4521-0971cineclubenacidade@yahoo.com.br

A Prefeitura de Jundiaí, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, com apoio do Cineclube Consciência , promove o projeto Cineclube na Cidade, proporcionando mais uma opção de cultura na cidade, com sessões gratuitas, oferecendo reflexão e difusão cultural.

O projeto Cineclube na Cidade cria um espaço alternativo de cinema com debates, convidados, oficinas, de produção de vídeos, exibição em 16 mm e muito mais!



PROGRAMAÇÃO DE JUNHO

Para o mês de junho, preparamos um ciclo de filmes baianos, exibindo cópias restauradas de produções premiadas e diretores como Glauber Rocha, Roberto Pires e Trigueirinho Neto em oportunidade única de conhecer produções que retratam o universo da Bahia.




08/06 ás 19h30

BARRAVENTO (1961, longa metragem, ficção, 81 min, Brasil)

Classificação indicativa: 14 anos

Direção: Glauber Rocha e Trigueirinho Neto

Pescadores de xareú vivem numa pequena aldeia presos a antigos cultos místicos e à mercê do proprietário de uma rede. Vindo da cidade, um antigo morador da vila retorna à sua terra natal e coloca em xeque os valores religiosos e sociais que organizam a vida do lugar. Primeiro longa-metragem dirigido por Glauber Rocha e é uma das primeiras expressões do chamado Ciclo Baiano de Cinema, momento de grande efervescência cultural em Salvador, do qual emergiu, entre outros clássicos, os longas A grande feira e Tocaia no asfalto, de Roberto Pires. Reunindo alguns dos principais elementos da poética glauberiana, Barravento é também um prenúncio da explosão do Cinema Novo.

O filme tem no elenco Antonio Pitanga, Luiza Maranhão, Aldo Teixeira, entre outros.
15/06 ás 19h30

REDENÇÃO (1958, longa metragem, ficção, 61 min, Brasil)

Classificação indicativa: 14 anos

Direção: Roberto Pires

Dois amigos recebem a visita de um homem misterioso que diz que seu carro acaba de quebrar na estrada. Ele pede para passar a noite na casa deles. Os rapazes o acolhem e, no dia seguinte, deixando o homem sozinho, os dois partem para a cidade. Por meio de uma notícia de jornal, descobrem que há um psicopata na região. Primeiro longa-metragem do cinema baiano, Redenção alcançou considerável sucesso de público em Salvador. Nele , o pioneiro Roberto Pires já manifesta seu gosto pelo thriller policial, gênero que será trabalhado novamente em Tocaia no asfalto. Redenção também teve um papel fundamental para o surgimento do Ciclo Baiano de Cinema. Para rodar o longa, Roberto Pires, ao lado do produtor e cineasta Oscar Santana, criou a lente igluscope, versão brasileira para a lente cinemascope, última novidade recém-lançada na época pelos estúdios norte-americanos. Fotografia de Hélio Silva

.Primeiro longa metragem do diretor Roberto Pires, tem no elenco Geraldo Del Rey, Braga Neto, Maria Caldas, entre outros.

22/06 ás 19h30

A GRANDE FEIRA (1961, longa metragem, ficção, 92 min, Brasil)

Classificação indicativa: 12 anos

Direção: Roberto Pires

Montagem e Produção Executiva: Glauber Rocha

Feirantes de Água dos Meninos, em Salvador, são ameaçados de despejo por uma empresa imobiliária e lutam para não perder o terreno. A partir desse acontecimento, cria-se uma trama enredando diversos personagens – uma prostituta, um ladrão, um marinheiro e uma milionária romântica. Clássico da filmografia baiana, A Grande feira já prenuncia, por meio de sua construção narrativa peculiar, elementos de linguagem próprios ao cinema moderno, formas que eclodiriam logo depois, e radicalmente, com a explosão do Cinema Novo.

No elenco, Helena Ignez, Geral Del Rey, Luiza Maranhão, Antonio Pitanga, entre outros.
29/06 ás 19h30
DIAMENTE BRUTO (1977, longa metragem, ficção, 101 min, Brasil)

Classificação indicativa: 14 anos

Direção: Orlando Senna

Ator de telenovela retorna à sua terra natal – a cidade de Lençóis, na Chapada Diamantina – depois de vinte anos de ausência. Reencontra seu amor de infância, uma garota negra e pobre que se preservara para ele. Os dois No entanto, encarando o sentimento amoroso de forma original, a menina não espera ser correspondida e recusa qualquer compromisso. Enquanto sofre com a conduta da amada, o jovem astro envolve-se com a dura realidade dos garimpeiros da região. Prêmio especial do Júri de Atriz revelação para Gilda no Festival de Gramado de 1978. Baseado no romance Bugrinha, de Afrânio Peixoto. Montagem de Roberto Pires.

O filme conta com José Wilker, Gilda Ferreira e Conceição Senna.



sexta-feira, 3 de junho de 2011

FRAME: Entre o sonho e a impureza da realidade (Entreatos - João Moreira Salles)



Ontem mesmo, assistia a um encontro com João Moreira Sales chamado "Visões do documentário", pelo youtube, onde ele falava sobre seus filmes e o como alguns dos documentários brasileiros contemporâneos( ele próprio, Coutinho, Kiko Goifman) trabalham num outro registro, que não mais as péssimas e superficiais ideias de se debruçar inteiramente sobre o conteúdo, reprodução da vida real, etc...

Em meio a isso, o que me chamou mais a atenção foi uma observação do diretor em relação a um de seus filmes o "Entreatos", em que ele acompanha Lula como está exposto no próprio nome em seus entreatos, que se diferenciam dos grandes momentos, os mais convencionalmente cobiçados documentários. Ao se referir a Lula, enquanto personagem do filme, sua relação com a câmera, além de por muitas vezes falar sobre realidade, sonhos produzidos pelo cinema, e principalmente sobre a melancolia ser uma das únicas formas de se encarar sinceramente a vida e o próprio documentário - já que o documentário pretende "filmar a vida", seria no mínimo estranho supor um final hollywoodiano para algo que vai de encontro à ela e que, por si só, não acaba bem; não existe final feliz, já que a 'última partida a gente sempre perde' -,   João desloca essa observação para o próprio personagem, e aquilo que o tomava durante as filmagens, que era nada mais que o sonho de se tornar presidente. Em outras palavras, tratava-se de um 'homem do povo', carismático, simples, que poderia ser presidente da nação.

O grande porém é que o próprio sonho que João registrava, só poderia ser criado de fato pelo cinema, já que o próprio diretor afirma, que enquanto filmava ele mesmo sabia que aquele sonho seria incompátivel com a realidade e sua impureza - o sonho não suportaria a realidade. Impureza e brutalidade que empurrariam Lula para as decisões mais controversas e absurdas possiveis, principalmente no que diz respeito a suas alianças (Renan Calheiros, Sarney, Delfim Neto, e assim vai...).

O fato, contudo, é que não se trata necessariamente de um sonho puro; ora, não se trata de uma contraposição total com a realidade impura; já que tal sonho não era, simples e docilmente, de criar um novo espírito do tempo, aquele onde os trabalhadores seriam de fato representados e estariam ascendendo com Lula à presidência, como acreditaram(mos) muitos em discursos emocionantes como o na avenida paulista, durante a posse. Talvez sim, para ele, que hoje acredita ser o próprio fim da história, sua vitória representou a chegada do trabalhador ao poder, ele mesmo.

Seu sonho era o poder. Talvez a única coisa que consiga contrapor uma possível "pureza" de seu sonho para com a impureza da realidade, é que mal sabia ele que deveria deixar de fingir ser algo que nunca foi quando chegasse lá, ou ainda o que das formas mais incongruentes ensaiava ser, um homem do povo.

Link para o filme(arquivo torrent):
http://thepiratebay.org/torrent/4547366/Entreatos_(2004)

Cia Antropofágica em cartaz com dois espetáculos de sua trilogia épica sobre o Brasil



A Cia antropofágica reestreia, neste sábado (04/06/2011) seu espetáculo "Terror e Miséria no Novo Mundo" - Parte I: Estação Paraíso e prorroga a temporada de "Entre a Coroa e o Vampiro" - Parte II: O Império. Ambas  durante todos os sábados de junho com intervalo musical de 50 min entre elas.

"Terror e Miséria no Novo Mundo" - Parte I: Estação Paraíso ás 18:30hs
Musica ao vivo
"Entre a Coroa e o Vampiro" - Parte II: O Império ás 21hs 
No Espaço Cultural Pyndorama
Rua Turiassú, 481 - Perdizes
contato: (11) 3871-0373

quinta-feira, 2 de junho de 2011

HOJE: PRÉ-ESTREIA DE "BELAIR", DE BRUNO SAFADI E NOA BRESSANE


Cidadão Classe A

Hoje, no final do espetáculo "Uma Ferida Absurda", que nós aqui do coletivo acompanhamos o processo e recomendamos a todos, encontrei o Herculano, um dos atores desse belo curta, que tive acesso ainda quando estudava cinema - quando por um delírio achei que ele poderia ser ensinado, ainda mais no lugar que estudava. É de uma simplicidade virtuosa, que vai do roteiro, até o belo trabalho dos atores.

A direção é de Abel Vargas.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Jabor de Manhã.


O texto de Arnaldo Jabor, "O Vírus da Irrelevância", publicado ontem no Estadão, e felizmente postado aqui no blog pelo camarada Danilo, me fez pensar numa discussão que tive há dias atrás com um amigo. Perguntávamos, então, se era possível definir a inteligência, já que a mesma admite várias definições pela ciência, arte... culturalmente, etc. Fora isso, homens inteligentes não faltaram de todos os lados. Como estávamos empolgados, negligenciamos o rigor e respondemos positivamente. De fato, parece haver um ponto em comum difícil de definir na inteligência de homens que, muitas vezes, possuem objetivos contrários. A conclusão final foi a seguinte: onde quer que haja inteligência, sensibilidade, elaboração, etc. há vida! E, conseqüentemente, a inteligência é sempre um sopro de libertação, embora costume caminhar muito atualmente na contra-mão de si mesma!

É o caso, em boa medida, de Arnaldo Jabor. O cinismo detestável dos dias úteis, na medida em que reduz a imagem, poderia esconder o crítico sério e preocupado, conservando-se por trás do escroto e o substituindo nos horários de folga? Difícil de imaginar. Talvez Jabor tenha escrito este texto de pijama! E, mais tarde, de noite, podemos vê-lo no Jornal da Globo, dizendo idiotices ocidentalizantes, e distribuindo ração ideológica pra sujeitos modernos autoritários e robotizados – ora, os mesmos imbecis “contemporâneos” que ele criticou em seu texto, de manhã. O que espanta é a capacidade de lidar com tamanha contradição: admirável força ou falta de vergonha na cara? Uma coisa não anula a outra, talvez.  

Quanto ao texto, o tom de desabafo é nítido. Sua força, tal como a de seu autor, reside precisamente ali onde fraqueja. Jabor constata, e muito bem, um estado de coisas. Mas, notem que a força de convencimento de toda constatação, por melhor que seja, termina rápido pois logo é seguida pelo questionamento que lhe é implícito, e vem à tona: “Tá! Mas por que é assim?”. Jabor não diz, evidentemente, por que vivemos no tempo da desilusão. Assim, fica em aberto, sugerindo desde explicações de ordem moral até o fato de que o capitalismo esgotou seus limites internos de crescimento, e vive agora na expectativa de ressuscitar cadáveres. Esta última hipótese, evidentemente, é descartada a priori das suposições elementares de qualquer democrata otimista, por mais pessimista que seja – como Jabor, de manhã!  

Por fim, cito alguns trechos do texto “O Tédio Mortal da Modernidade”, de Robert Kurz, para que possamos comparar e compreender melhor, quem sabe, onde reside a força do texto de Jabor, na medida em que flerta com uma crítica mais radical da modernidade, e onde reside sua fraqueza, o fato de não ir às últimas conseqüências no caminho em que tanto sua inteligência quanto seu texto precisariam ir. Vale a pena ler.

(E para quem não leu o texto do Jabor, podem conferir, como foi dito, aqui mesmo no blog, agora ou depois, no endereço da posatagem: http://cinefusao.blogspot.com/2011/06/o-ataque-do-virus-da-irrelevancia.html)


O Tédio Mortal da Modernidade.

Será que ainda pode haver objetivos culturais para o século 21? Apesar da crise social do globo, ou talvez justamente por causa dela, não se trata mais, nesta virada do século, da conquista de novos horizontes. O poço de desejos da infindável modernização, é bem verdade, continua a receber suas moedinhas, mas pouquíssimos são os que ainda lhe dão crédito. Para começar algo novo, necessário seria proceder a um apaixonado debate sobre os projetos sociais a que se aspira. Mas as paixões sociais, políticas e culturais parecem extintas, os discursos da mídia arrastam-se a custo, pasmacentos. Nem no trato social nem na relação com a natureza são formulados novos desafios. A idéia de uma grande "tarefa para a humanidade" soa não só antiquada, mas também ingênua e até fora de cabimento.

O que hoje se louva como novo e promissor não é mais um conteúdo ou um fim qualquer, mas a simples forma ou o simples meio, o aparato despido de todo espírito. A Internet é o melhor exemplo para tanto. Quanto mais rapidamente evolui a tecnologia da comunicação, menos conteúdo há que valha a pena ser transmitido. Se o meio tecnológico rouba a posição ao conteúdo, a própria "razão instrumental" conduz ao absurdo. No estágio final desse processo, seres humanos munidos de perfeitos meios de comunicação nada mais terão a dizer.

Uma tal contemporaneidade calculada, que embebe todo o espaço da história humana na luz fria do mercado e suprime todas as diferenciações quanto mais se fala de "diferença", empresta à cultura comercial pós-moderna uma semelhança aflitiva com a ação de macacos que brincassem numa biblioteca e, aos guinchos, fizessem uma embrulhada com os livros.

Uma nova orientação da cultura, ligada à crítica radical do capitalismo, só pode consistir em dar um basta à permanente depreciação da história, não no sentido da idealização de um passado qualquer, nem como seu consumo, mas como busca crítica dos rastros que o capitalismo apagou sistematicamente. Trata-se de dar a conhecer a história do disciplinamento moderno e do amestramento humano, a transformação da vida em repositório de imperativos econômicos, a fim de pôr em xeque a aparente naturalidade desse modo de vida. Hoje, ao serem questionados sobre os seus deslizes passados e as respectivas causas, qualquer empresário, político ou jogador de futebol responde sempre com a frase estereotipada: "O que passou, passou". A inversão dessa perspectiva seria, de certa forma, uma "crítica do capitalismo voltada para trás", uma orientação simbólica com a retrospectiva crítica como norte, uma recusa da lei capitalista do movimento, um "tiro no relógio", segundo Walter Benjamin.

Uma tal inversão de perspectiva traria também conseqüências para a orientação psíquica. Isso porque a guinada crítico-emancipatória para trás, a fim de assegurar-se no passado, significa ainda uma mudança na relação simbólico-cultural entre "interior" e "exterior". No capitalismo, o ser humano é "guiado externamente" pelos critérios do prestígio e da bela aparência, tal como são sugeridos pela publicidade, pelas embalagens, pela autopromoção.

Também nesse particular, entretanto, a inversão do rumo cultural não favoreceria o reverso reacionário da medalha, uma mistificadora "vida íntima" ou uma "contemplação esotérica" apta a se refugiar num imaginário "eu", ao abrigo das contradições sociais. Ao contrário, a "introspecção" emancipatória consistiria em revelar a história recalcada e a falsa objetivação das coerções capitalistas também na psique e na linguagem de certa forma, como uma "arqueologia íntima" da modernização, tanto no plano pessoal quanto no sociopsicológico, a fim de tornar patente o processo da "introspecção" psíquica dessas coerções.


O Texto de Kurz na íntegra, bem como outros textos do autor podem ser encontrados no seguinte endereço: http://antivalor.atspace.com/indice.htm

Código Florestal - Chico Alencar cita 10 absurdos no projeto de Aldo

Como sabemos, as últimas semanas foram fartas em notícias pesarosas sobre o destino de nossas matas, humilhantes para os povos das florestas e um veredicto de morte para os animais silvestres, caso se confirmem a aprovação do novo Código Florestal e a construção da Usina de Belo Monte, no Pará.

Organizações não governamentais brasileiras e do exterior vêm já desde algum tempo se mobilizando num esforço contínuo para informar e mobilizar a sociedade brasileira e os cidadãos do mundo com o intuito de que também estes se organizem, se manifestem e pressionem o Governo Brasileiro a rever sua posição, sob o risco de assistirmos de braços cruzados à aprovação de um Novo Código Florestal e a realização de um empreendimento que significarão juntos um desastre ecológico sem precedentes na história do Brasil, com perdas irreparáveis para a biodiversidade e um número incalculável de vítimas entre animais humanos e não humanos.

No local, folhetos estarão disponíveis para distribuição a populares.

Vamos à Luta!
A hora é esta!

Domingo 5 de junho de 2011 - 14 hs
em frente ao MASP - Av. Paulista - S.Paulo

Facilitadores: Paulo Fradinho (SP) Lilian Garrafa (SP) - iniciativa / ideia original desta convocação: Eliane Carmanim Lima (RS)

Abaixo vídeo do deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) lista 10 absurdos no projeto de reformulação do Código Florestal, que beneficia desmatadores. O PSOL elaborou um documento com os 50 recuos do projeto.

Uma Ferida Absurda

Hoje às 21hs no espaço dos Sátyros!

O ataque do ''vírus da irrelevância''

Apesar da figura às avessas que se tornou Arnaldo Jabor - desde o fim do cinema novo -, não pude deixar de compartilhar aqui no blog, um ótimo artigo que escreveu para o Estadão nesta última terça-feira. Claro, e como esperado, até antepenúltima palavra do texto, ele nos surpreenderá, para depois desconstruir qualquer possibilidade de ir além de seu espírito conservador, classe-mediano mimado. Mas que de alguma forma demonstra uma senhora habilidade de escrita, vale a pena gastar uns minutinhos.  

Filme de Arnaldo Jabor "Eu te amo"

Um amigo meu, muito culto, tem um filho muito "conectado" na internet. E o menino disse a ele: "Pai, você sabe tudo que já aconteceu, mas não sabe nada do que está acontecendo". O pai, como todos nós, embatucou. A mutação cultural dos últimos anos foi tão forte, a turbulência no mundo pós-industrial dissolveu tantas certezas, que caímos num vácuo de rotas.

Não só no Brasil, mas no mundo inteiro, artistas e pensadores vivem perplexos - não sabem o que filmar, escrever, formular. Em geral, recorrem às atitudes mais comuns nas turbulências: desqualificar os fatos novos e reinventar um "absoluto" qualquer. Sinto em mim mesmo como é difícil criar sem esperança ou finalidade. Como era gostoso nosso modernismo, os cinemas novos, os movimentos literários, as cozinhas ideológicas. Os criadores se sentiam demiurgos falando para muitos. Agora, na falta das "grandes narrativas" do passado, estamos a idealizar irrelevâncias, como se ali estivessem pistas para novas "verdades" a desvelar - a aura deslizou da obra para o próprio autor.

Hoje, as palavras que eram nosso muro de arrimo foram esvaziadas de sentido e ficamos à deriva. Por exemplo, "futuro". Que quer dizer? Antes, era visto como um lugar a que chegaríamos, um lugar no espaço-tempo, solucionado, harmônico, que nos redimiria da angústia da falta de "Sentido". Agora, no lugar de "futuro", temos um presente incessante, sem ponto de chegada. Pela influência insopitável do avanço tecnológico da informação, turbinado pelo mercado global, foram se afastando do grande público as criações artísticas e literárias, as ideias filosóficas, os valores. Em suma, toda aquela dimensão espiritual chamada antigamente de cultura que, ainda que confinada nas elites, transbordava sobre o conjunto da sociedade e nela influía, dando um sentido à vida e uma razão de ser para a existência. Mais ou menos isso Vargas Llosa escreveu outro dia no El País, num ensaio chamado A Civilização do Espetáculo.

A verdade é que passamos da ilusão para o desencanto.

Temos hoje uma "horrenda liberdade" sem fins, porque (vamos combinar) os criadores querem mesmo é ser eternos, inesquecíveis, mesmo os mais radicais "instaladores" contemporâneos.

Nunca tivemos tantos criadores, tanta produção cultural enchendo nossos olhos e ouvidos com uma euforia medíocre, mas autêntica. Há uma grande vitalidade neste cafajestismo poético, enchendo a web de grafites delirantes. Não sei em que isso vai dar, mas o tal "futuro" chegou; grosso, mas chegou. Talvez este excesso de "irrelevâncias" esteja produzindo um acervo de conceitos "relevantes", ainda despercebidos. Podemos nos dedicar ao micro, ao parcial, podemos nos arriscar ao erro com mais alegria; mas, isso não pode justificar um desprezo pela excelência. E o pior é que as tentativas de "grande arte" são vistas com desconfiança, como atitudes conservadoras, diante da cachoeira de produções que navegam no ar. Isso me lembra o tempo em que achávamos que o "fluxo da consciência", "the stream of consciousness" ou até o discurso psicótico encerravam uma sabedoria insuspeitada. Será que houve a morte da "importância"? Ou ela seria justamente esta explosão de conteúdos e autores? O "importante" seria agora o quantitativo? Não sei; mas, se tudo é "importante", nada o é. A importância de uma obra reside no grau de decifração da vida de seu tempo e para onde ela aponta, mesmo no túnel sem luz.

Se olharmos as obras-primas de, digamos, Jan Van Eyck, o gênio holandês, vemos ali todo o espírito da Idade Média, revelada nos detalhes mais banais, mesmo nas encomendas de príncipes ou cardeais.

Escrevo estas coisas porque meu artigo de hoje é a propósito de um "importante" ensaio de Alcyr Pécora de 23 de abril, no Prosa e Verso de O Globo, sobre a crise de nossa literatura. Alcyr acha que fomos atacados por "um vírus de irrelevância".

Ele escreveu:

"É como se o presente se absolutizasse e não mais admitisse um legado cultural como patamar exigente de rigor para sua produção(...) é como se alguma coisa se introduzisse na cultura e a tornasse inofensiva, doméstica. (...) A ação já se apresenta como narrativa, como ocorre nos reality shows, em que as pessoas, antes de agir, representam ou narram a ação que lhes cabe, como se todo mundo fosse interessante o bastante para ser visto/lido (...) Não basta haver conhecimento; tem de se produzir o que não é e o que não há (...) Na arte, não há nenhum valor simbólico que substitua o objeto (...) não há atitude ou opção ideológica que permita saltar sobre os mecanismos da composição (...) Perdida a noção de herança cultural, perde-se a de crítica, de autocrítica, e naturalmente a de criação (...) Escrever literatura é um gesto simbólico que traz uma exigência: a de ser de qualidade (...) A recusa de muitos escritores de sequer considerar o impasse atual tem qualquer coisa de cegueira deliberada (...) Atitude resolve problemas do roqueiro, mas não resolve a questão da literatura".

No entanto, as questões levantadas pelo professor não tiveram repercussão teórica maior, além de reclamações mal-humoradas de que ele seria um crítico "estraga-prazer, um intrometido".

Contudo, é preciso que esses tópicos sejam discutidos, com ou sem polêmicas, pois, na tal conversa do pai erudito com o filho conectado, a resposta do pai poderia ser: "Você acha que sabe tudo que está acontecendo e nada sabe sobre o que já aconteceu".

Por isso, dou uma pequena contribuição ao assunto: tenho um filho de 11 anos, João Pedro. Eu, zeloso pai, botei o Quarteto de Cordas op. 133 de Beethoven para que ele ouvisse um momento máximo da história da música. Ouviu tudo atentamente enquanto, no ritmo exato do quarteto, jogava um game, o Hell Kid no iPad.

Beethoven e o game se uniram em harmonia. Talvez haja futuro.