O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Documentário: The Colour of Beauty - 16min50seg

Documentário sobre racismo dentro do mundo da moda. Bem interessantes. Além da questão de modelos negras(os) que devem se enquadrar nas definições - físicas - de um(uma)modelo branco(a)para poder estar nesse mundo, o filme discute, ainda que indiretamente e sem ser, nem de perto, sua intenção, a questão de um sonho que não supera a sociedade capitalista, mas tenta ser aceito por ele.

Apesar de não ser nada  tão original enquanto forma, é um dos poucos docs nessa "categoria", vale a pena conferir. 

Infelizmente ainda não é possível inserir as legendas, em breve o faremos.



Cineasta iraniano pede que colegas façam greve para apoiar Panahi


O cineasta iraniano Rafi Pitts pediu à indústria cinematográfica que deixe de trabalhar durante duas horas em 11 de fevereiro em solidariedade com seus colegas e compatriotas Jafar Panahi e Mohammad Rasoulof, condenados a penas de prisão.


"Convidamos a todos os cineastas e membros da indústria cinematográfica - quaisquer sejam suas nacionalidades, fronteiras, religiões ou convicções políticas - a apoiar nossos compatriotas cineastas iranianos, deixando de trabalhar durante duas horas, entre 15H00 e 17H00, em 11 de fevereiro de 2011, dia do 32o. aniversário da revolução iraniana", assinalou Pitts em um comunicado enviado nesta quarta-feira à AFP.
Em carta abeta dirigida ao presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad, anexada ao comunicado, o cineasta condenou as sentenças contra os dois colegas "castigados por se interessar por seus compatriotas e pelas vidas perdidas durante os conflitos depois das eleições" de junho de 2009.
Panahi, um dos cineastas iranianos mais conhecidos no exterior, foi condenado em 20 de dezembro a seis anos de prisão e não poderá sequer filmar ou deixar o Irã durante 20 anos, por "participação em reuniões propaganda contra o regime islamita".
Já Mohamed Rasulof, que trabalhava num filme com Panahi antes de sua prisão, também foi condenado por delitos similares a seis anos de prisão.

O Poeta do Castelo




TESTAMENTO

O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.

Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.

Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.

Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!

Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!

(29 de janeiro de 1943)

 - Manuel Bandeira

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Van Damme Band



Sindicato dos Roteiristas torna inelegíveis Toy Story 3 e O Escritor Fantasma




O Sindicato dos Roteiristas da América (WGA, em inglês), uma das principais prévias para os indicados ao Oscar, anunciou 76 filmes que estão qualificados a receber o prêmio do WGA. O destaque, porém, está na lista de produções consideradas inelegíveis.

Toy Story 3BiutifulBlue ValentineO Escritor FantasmaO Discurso do Rei,Made in DagenhamScott Pilgrim Contra o Mundo e Inverno da Alma estão de fora da corrida pelo prêmio.
Os critérios de elegibilidade do WGA são distintos do Sindicato dos Diretores (DGA) e dos Atores (SAG), exigindo que os roteiros tenham sido escritos por membros do WGA, além da obrigação de submeter o texto para o sindicato. John Wells, presidente do Sindicato dos Roteiristas, não pretende afrouxar as regras. “Esperamos que elas ajudem aos não-filiados a se filiarem”, declarou no início do ano.

Os indicados ao prêmio do Sindicato dos Roteiristas devem ser anunciados na segunda-feira (3/1). Para ter uma ideia da precisão do WGA como termômetro do Oscar, nos últimos 16 anos, a premiação tanto do sindicato quanto da Academia coincidiram 11 vezes na categoria Roteiro Original.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Criador de “The Walking Dead” dá detalhes de sua nova HQ




Derek Dynamo e seu dinossauro
Robert Kirkman é o sujeito que criou os zumbis de The Walking Dead, os quadrinhos que deram origem ao seriado de mesmo nome e que foi um dos grandes sucessos de 2010 na TV. Por isso, a partir de agora, qualquercoisa que ele faça vai chamar a atenção. E é o que está acontecendo com seu novo projeto chamado de Super Dinosaur.

A HQ sai em abril de 2011 nos Estados Unidos, pela Image Comics, e o próprio Kirkman já definiu o trabalho como sendo “Pixar no papel”. “Eu meio que estou colocando no papel tudo o que é essencial num filme da Pixar. Provavelmente não vou conseguir isso, mas se você mira no sol acaba acertando pelo menos metade. A ideia é que [a nova HQ] seja tão complexa quanto Invencível [sua outra HQ] e Os Mortos-Vivos [nome de Walking Dead no Brasil]. Quero que seja um gibi para todas as idades e pessoas que gostam de Invencível vão gostar de Super Dinosaur”, disse Kirkman ao site CBR.

A HQ terá desenhos de Jason Howard e mostra Derek Dynamo, um menino-gênio que tem como melhor amigo um Super Dinossauro que é um Tiranossauro Rex modificado geneticamente que vem de um mundo escondido chamado Inner-Earth. Este lugar existe embaixo do nosso mundo. O garoto tem de proteger Inner-Earth das forças do mal que são comandadas pelo Doutor Max Maxi

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

The Archers - O Cinema de Michael Powell e Emeric Pressburger no CCBB-SP


Michael Powell e Emeric Pressburger começaram a trabalhar juntos nos anos 30, quando o húngaro Pressburger era ainda o roteirista dos filmes do inglês Powell. Juntos realizaram, em co-direção, quase 20 filmes, todos exibidos na mostra, e até hoje são considerados verdadeiros ícones do cinema inglês, além de terem criado em 1943 a própria produtora, a lendária The Archers. Alguns de seus filmes, entre eles "Os Sapatinhos Vermelhos" e "Narciso Negro", filme que revelou Debora Kerr, são tidos como verdadeiras obras-primas do cinema mundial. 

Confira a programação AQUI 

Data: De 28 de dezembro a 16 de janeiro Horário: Terça a domingo 
Local: Cinema do Centro Cultural Banco do Brasil (70 lugares) | Rua Álvares Penteado, 112 - Centro Bilheteria/Informações: Terça a domingo, das 10h às 20h | Telefones: (11) 3113-3651/52 Ingressos: R$ 4 (inteira) | R$ 2 (meia entrada para estudantes, professores, correntistas do Banco do Brasil e maiores de 60 anos) Classificação indicativa de acordo com o filme.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

NESTE SÁBADO (18/12) "Periferia Luta" e "Loteamentos Clandestinos" no CineMemória BIJOU


         O PROJETO CINE BIJOU CINEMA E MEMÓRIA CONVIDA A TODOS


PARA A ÚLTIMA SESSÃO DO ANO

SÁBADO 18/12 - 15 H

EXIBIÇÃO DOS DOCUMENTÁRIOS


LOTEAMENTOS CLANDESTINOS (1979) DE ERMÍNIA MARICATO
No final dos anos 70, uma série de bairros periféricos de São Paulo se defrontam com diversas práticas de especulação imobiliária, e contra elas se organizam para resistir e lutar por seus direitos.

PERIFERIA LUTA (2009)
PASSA PALAVRA, CMI E VOZES DA TRINCHEIRA
Na periferia de São Paulo nos anos 2010 diversas comunidades sofrem os abusos promovidos pelo Estado associado a grandes empresas. O vídeo denuncia situações trágicas, enchentes e despejos em massa, e mostra a luta nessas quebradas.



RODA DE CONVERSA COM PARTICIPANTES

TEATRO STUDIO 184
PÇA ROOSEVELT, 184 - CENTRO

Fim de ano do coletivo: Festa + Exibição dos Curtas do Cinefusão


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O cinema nacional está a salvo... provisoriamente

Qualquer tipo de análise fílmica passa por subjetividades que muitas vezes estão longínquas das intenções dos cineastas. No entanto, um filme só se concretiza a partir desses elementos particulares de cada espectador. Deixo aqui as minhas impressões sobre “Meu Mundo em Perigo”, “novo” filme de José Eduardo Belmonte. De qualquer forma, é um texto que compartilho com aqueles que assistiram ao filme. Aos que não viram, sugiro humildemente que corram, pois considero a melhor estreia nacional do ano de 2010.

Não podemos mais dizer que José Eduardo Belmonte é um diretor promissor, como gosta a grande imprensa. Após quatro refinados longas e vários curtas, ouso dizer que há algo de tão profundo e autoral nos filmes desse brasiliense que ele está, hoje, entre os melhores cineastas em atividade no mundo.

“Meu Mundo em Perigo” tem início com uma bela epígrafe emprestada dos versos do poeta pernambucano Carlos Penna Filho: 

lembra-te que afinal te resta a vida
com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.

É dessa forma, solene, e estabelecendo a relação entre cinema e poesia que Belmonte abre a sua obra. Carlos Penna Filho é um daqueles tantos artistas que a memória brasileira trata de forma injusta, relegando-lhes um papel secundário. Belmonte está falando sobre memória e também sobre sonhos interrompidos, sobre os caminhos pelos quais a vida nos leva. E é por isso que escolhe versos tão significativos de um poeta que morre aos 31 anos, vítima de um acidente de carro. É dessa vida provisória que Belmonte quer nos falar. 


Em seguida, somos apresentados a Elias que, em primeira pessoa, desabafa sobre o seu momento de vida, enquanto vemos imagens em super 8mm que remetem a lembranças felizes de um casal que agora se enfrenta em um tribunal pela guarda do filho. A imagem em super 8mm, presente em outros filmes do diretor, representa a materialização da memória, esta entendida como espaço de vivências profundas. A força das imagens será, a partir daí, uma constante no filme. Elias é fotógrafo e está sempre com uma Polaroid nas mãos. Em determinado momento, explica que o seu gosto pela fotografia veio de uma vontade que sempre teve de que tudo parasse. É assim que “Meu Mundo em Perigo” vai se desenvolvendo como uma desconstrução da própria imagem, pois, por mais que a vontade de parar o mundo traduza essa necessidade de agarrar o transitório, a próxima imagem de mundo se impõe como uma necessidade quase dialética em relação à imagem que a antecede. E é assim também que um filme vai se construindo, imagem atrás de imagem, provisoriamente.

Porém, não é só imagem. O som ou mesmo a ausência dele estão sempre resignificando a imagem, da mesma forma que esta traz novos significados ao som. Cinema é composição, mas é regência também. E Belmonte sabe conduzir os elementos que tem à disposição, tratando o som de forma independente e construindo o silêncio de uma maneira não convencional, mas significativa para o tipo de narrativa que vemos na tela. Da mesma forma, a parceria com o músico Zé Pedro Gollo traz uma evidente força na construção sensorial. Há momentos preciosos em que a presença da música não se torna apenas um adorno, mas sim um essencial elemento de construção fílmica. O roteiro de “Meu Mundo em Perigo” é assinado por Belmonte e pelo dramaturgo Mário Bortolotto, que traz uma feliz contribuição teatral para o filme fazendo-nos lembrar do bom e velho Cassavetes. A simplicidade narrativa e o intricado jogo de diálogos estão em uma relação dialética que contribui de forma decisiva para as nuances simbólicas e estéticas assumidas pela obra.

 

Elias não quer deixar o seu filho com a ex-esposa, pois acha que ela tem uma instabilidade mental inadequada para cuidar de uma criança. No entanto, ele parece ter consciência de que ele próprio vive à mercê de um mundo que o impede de exercer a sua alteridade de forma saudável. A existência do outro, nos moldes que se coloca para Elias, acaba sendo um entrave para o exercício de qualquer tipo de personalidade. Esta que é tema recorrente em Belmonte, por isso a presença em seus filmes do documento de identidade. O primeiro fio narrativo ao qual somos apresentados é aquele a partir do qual Elias recolhe a carteira que uma bela moça, Isis, derruba e a segue até o hotel em que ela está hospedada, mais intrigado com a misteriosa figura feminina, do que preocupado com o objeto perdido. Ao abrir a carteira, Elias se detém justamente no documento de identidade de Isis, que surge como símbolo da busca por uma individualidade que é tolhida por convenções sociais que despersonificam a existência humana. A crueldade desse sistema impessoal chega ao ponto de ser representada por um oficial de justiça que visita Elias para avaliar os seus bens, pois ele tem uma dívida com a receita. É assim que ele se torna a representação do homem da classe media que vale o que tem e não o que é. O valor mercadoria se sobrepõe ao valor humano, pois a lógica do capitalismo é essa.

José Eduardo Belmonte nos mostra a mediocridade de uma organização social que devora as individualidades. A fragilidade do sistema judiciário, por exemplo, é revelada no momento em que percebemos que a verdade a ninguém pertence e o jogo judicial se dá de uma maneira em que os interesses nunca coincidem, pois o benefício de um representa necessariamente o prejuízo de outrem. A hipocrisia judicial é mostrada em uma cena emblemática de sussurros pré audiência, na qual a decupagem proposta, com closes nos lábios das partes interessadas, despersonificam e chamam atenção apenas para o tipo de discurso desumano que se trava. Da mesma forma, diferentemente de alguns filmes que retratam a família burguesa como reduto da proteção social e dos valores fraternos do homem, estamos aqui diante de uma instituição-família arruinada e, o mais grave, arruinante. É o lar o seio da decadência, o espaço trivial de desagregação humana, onde os únicos que se salvam são as crianças, com a sua inocência que infelizmente logo será perdida, pois estão eles no meio dessa trincheira imoral. Talvez seja por isso que, tanto em “Se Nada Mais der Certo”, como “Meu Mundo em Perigo”, a criança surge como a face ingênua da vida, refletida na corrida descompromissada que encerra os dois filmes. É um sopro de esperança.

Portanto, as convenções sociais estão o todo tempo colocadas em xeque, pois são elas que extirpam as individualidades e trazem o automatismo para a vida. É por isso que os personagens de Belmonte se revoltam com o mundo, pois estão cansados, por exemplo, de encher bexiga para uma festa de aniversário, um símbolo incorporado de maneira mecânica e executado com total indiferença. São essas pequenas convenções de aparência, representadas pelo personagem de Milhem Cortaz (Fito), que enche bexigas para o aniversário de um pai que o chama de bunda mole em público e que assedia a sua mulher. É essa esposa que exige que o bunda mole Fido tire satisfações com o dono de um armazém que a cantou, pois, a masculinidade patriarcal deve imperar nesse momento. No entanto, ela reclama que ele só bebe cerveja e enche as tais bexigas, enquanto ela cozinha aos montes para o aniversário do sogro. É assim que o seio familiar se mostra como uma prisão de aparências, tão farto de silicone que está a ponto de explodir. Fito é um personagem que precisa se vingar deste mundo que o colocou numa posição medíocre diante da vida. 

Após o aniversario em família, pai e filho vão comemorar no bar, em uma das cenas mais tristes do filme, em que o pai chega a propor um brinde às forças armadas, pois não há mais nada ao que se agarrar. Na mesma cena, os preconceitos são revelados e a podridão humana também. O vômito do filho acompanha o atropelamento do pai, como se fosse um momento de expurgação. Da mesma forma, a esposa diz ao marido, sem pestanejar: “eu não tô aliviada não, tô feliz pra caralho”. A morte do pai é a gota d’água para Fito ter alguma atitude e a vingança vira uma obsessão. Aqui, o roteiro se apropria de um elemento clássico de relatos ficcionais, que é o cruzamento de dois fios narrativos. Elias, após perder a guarda do filho, sai desesperado com o carro e acaba atropelando o pai de Fito. Mais pra frente, Elias diz para Isis que saiu aquele dia só pra encontrar aquele cara, pois não tinha o que fazer com o carro. O desastre humano de se relacionar com o outro fica claro nos diálogos entre Isis e Elias. Ao saber do atropelamento, Isis fala para Elias que preferia morrer do que matar alguém.  Elias se dá conta da sua condição e anuncia a tragédia: “Eu acho que eu estou morrendo também”. Sim, ele está morrendo e estamos todos caminhando no mesmo sentido, pois não há saída dentro de um modelo tão perverso.  

Em “Meu Mundo em Perigo”, as personagens não sabem como lidar com esse modelo e se identificam uns com os outros, pois estão em uma fase de reconhecimento disso tudo. Da mesma forma que em “Se Nada Mais der Certo”, as personagens aqui estão se dando conta de suas próprias condições e de que afinal ainda resta a vida. É por isso que Isis se pergunta sobre as linhas da mão que os ciganos utilizam para ler o porvir. E é pelo mesmo motivo, o desconforto em reagir ao que o mundo vai propondo, que Elias diz amargamente que “a coisa que eu mais queria no mundo era ter alguém que me dissesse tudo que eu tivesse que fazer. Não ter que tomar mais nenhuma decisão”. Porém, as decisões são inevitáveis e, numa das memoráveis cenas do filme, Elias leva Isis de volta a casa da mãe dela. Em frente à casa, Isis diz para Elias o que ela sabe que a mãe vai dizer ou como ela vai se portar. Não sabemos ao certo se o encontro ocorreu ou foi apenas imaginado, mas é aí que se confirma mais uma vez o leit motiv da família decadente. A mãe, interpretada por Helena Ignez, é o reflexo de uma sociedade doentia. Ela narra o episódio em que o cachorro da família se suicidou, passando em frente a uma ambulância, após a morte do seu marido, que fez ela própria chorar de alívio e gratidão. 

É essa insanidade social que leva os personagens de Belmonte à revolta e atitudes desesperadas. Elias vai atrás do filho e discute com a mulher. Estamos diante do drama da incomunicabilidade humana e Belmonte suprime o som e gira a câmera, revelando essa não comunicação. Já Isis, representa a exaustão da incomunicabilidade, abandonando a palavra falada e se comunicando somente através da palavra escrita. Ela se finge de muda, pois esta cansada dos que falam sem nada dizer e da artificialidade das convenções orais. Elias aceita o jogo de Isis e passa a responder também por escrito. Assim, a mise en scène proposta é outra, única, pois a convenção da fala foi quebrada e, por isso, estranhamos o andamento do filme. E aqui Belmonte revela toda sua habilidade cinematográfica representada, principalmente, pela requintada construção de tempo narrativo. O uso constante de fades se apresenta não de forma aleatória, mas como uma espécie de respiro essencial para o tipo de sensação que o filme quer passar. Ele trabalha, na sua exaustão, o vazio humano e a superficialidade das suas relações. Há espaços de silêncio com os quais o espectador pode não estar acostumado e os fades trazem um ritmo narrativo peculiar, traduzindo um pouco daquela sensação de tempo estendido, de vida acontecendo. É a experiência cinematográfica se traduzindo como experiência de vida.


consome até a saturação. É isso que a leva a sair do conforto da casa da mãe e se hospedar por tempo indeterminado em um hotel decadente. Essa crise existencial passa por um cansaço de apenas reagir a um mundo dado, imposto. É assim que, indo contra as convenções, em determinado momento, Isis e Elias abandonam os seus personagens e, numa incursão documental, os próprios atores, Eucir de Souza e Rosanne Mulholland, saem pelo hotel entrevistando os empregados e outras pessoas. A arrumadeira do hotel, por exemplo, diz que foi trabalhar lá atrás de gente bonita e feliz, como a Rosanne. No entanto, esse “sair do personagem” é relativo e passa pela percepção de cada um, pois nem fora dos filmes há como sairmos dos personagens. E nesse sentido, as grandiosas atuações de “Meu Mundo em Perigo” provocam algum tipo de estranhamento, pois são representações não naturalistas, de um minimalismo que beira, talvez, a uma não atuação. José Eduardo Belmonte não nos apresenta um cinema clássico, mas sim algo de uma autoria que passa pela coletividade, pois percebemos o tipo de compromisso com a arte ao qual essa equipe se propõe. 

Da mesma forma, Isis representa o drama existencial de uma classe média que Por fim, termino o texto constatando que se o nosso mundo está em perigo, o cinema nacional com filmes como este está provisoriamente a salvo. Infelizmente, “Meu Mundo em Perigo” teve sua estreia no Festival de Brasília de 2007 e só entrou em cartaz mais de 3 anos depois e salvo engano deve permanecer somente duas ou três semanas em poucas salas de cinema. Dentro dessa lógica neoliberal escrota que funciona também para o modelo de distribuição e produção de arte no Brasil, talvez a única saída seja justamente retornar à epígrafe do filme: entrar no acaso e amar o transitório, que no caso de "Meu Mundo em Perigo" pode se tornar eterno.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Cinema Nômade - exibição e debate

Diálogos e problematizações acerca de obras cinematográficas

O Cinema Nômade é um movimento que investe no pensamento crítico e criativo e se materializa por meio de exibições mensais de filmes, selecionados pelo potencial de problematização dos modos da sociedade produzir desejo, subjetividade, corpo e conhecimento.

Promove o contato com universos culturais e estilos de vida diferenciados, que contrastam com a cultura cotidiana da contemporaneidade. A escolha de obras que colocam em xeque os limites dos comportamentos e dos valores, acabam por gerar tendências criativas de novos territórios existenciais e novos modos de viver e pensar através da produção de sensações inéditas.

Sempre após cada exibição, há uma pré-análise acerca dos sentidos e forças dominantes na obra, cujo efeito desloca os modos de ver, provoca e põe em movimento percepções sutis e maneiras micro-afetivas de experimentar a realidade das sensações. 
E um debate aberto, propiciando aos participantes a livre circulação e produção de idéias acerca dos modos de viver contemporâneos, com o claro objetivo de multiplicar os pontos de vista de práticas culturais diversas e descentralizar posturas e conhecimentos.


Próximo evento: sexta-feira, 17/12/2010 às 20h00
Exibição do filme: Week-end à Francesa, de Jean-Luc Godard
Um filme em que Godard expõe a banalização de alguns modos sociais com muito humor.
Local: rua Arruda Alvim, 112 (a meia quadra da estação Clínicas do Metrô)
*Entrada Franca*

Informações: 11 6406 9075   / escolanomade.org / equipe@escolanomade.org

Manifestação contra o aumento da passagem de ônibus em SP

Desafios e Horizontes da Cultura


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tendler & Gullar: há muitas Noites na Noite

Texto emprestado da escritora e amiga Risomar Fasanaro

À porta do café um garçom nos recebe. É um belo rapaz. Encaminha-nos a uma mesa e nos entrega um cardápio e quando o abrimos nos damos conta de que ali não encontraremos nem pão nem café, nem croissants, nem cappuccino, mas sim poesia. A turva mão do sopro contra o muro nos espreita em um trabalho único do cineasta Sílvio Tendler sobre “Poema Sujo” de Ferreira Gullar. É a exposição “Há muitas Noites na Noite”.

Ali o alimento é para a alma, e ela naquela tarde estava deserta, testemunhando a violência que se abatera sobre o Rio de Janeiro. Mas nada disso se percebe voando a cidade a 900 quilômetros por hora. Quantas tardes numa tarde é possível viver? Pergunto-me enquanto escolho um dos “pratos”. E me decido por começar vendouvindo Letícia Sabatella:
.......................................
Quantas tardes numa tarde!
E era outra, fresca,
Debaixo das árvores boas a tarde
Na praia do Jenipapeiro
...................................... 
Viajo, já não estou no café, não estou no Rio. Estou em Pernambuco, mergulho em minha infância, e desperto com a voz de minha mãe cantando:
“ Lá vai o trem com o menino
lá vai a vida a rodar
lá vai ciranda e destino
cidade e noite a girar
lá vai o trem sem destino...”

Mas é apenas um delírio. A voz é de Letícia que canta com aquela suavidade que é só dela. Com uma emoção que a leva às lágrimas. Sim, há muitas tardes numa tarde, é preciso não deixar escapar nenhum fio desse dia, nenhum fio dessa viagem no trem da infância de Gullar que jorra em forma de luz e poesia projetadas nas paredes, nas mesinhas do café. Em uma das paredes, grafites retratam personagens do livro, enquanto outras exibem imagens sem sons, de atores e cantores que declamam ou cantam os poemas. Entre os cantores, Bethânia, Fagner e Zeca Baleiro. Tenho a impressão de que nunca antes neste país a poesia foi levada ao público com tanto cuidado, tamanho carinho, e me sinto agradecida por estar viva para ver esta exposição.

Mas...Por que um café? Sílvio explica: bar é o ponto de encontro, ruído, burburinho. Aqui o assunto gira em torno dos versos da poesia de Gullar. Encontro com vozes conhecidas, outras nem tanto, todas encantadoras. Palavras mágicas, fortes. Nesse café, o sal e o açúcar emanam de versos que não fazem mal a hipertensos ou diabéticos. Doces ou ásperas, são as palavras que movem os sentidos e ora nos conduzem à filosofia, ora à saudade, ora à compaixão.

Sílvio é esse peixe que navega contra a corrente; que enquanto outros fazem filmes sobre violência, ele escolhe a poesia como tema do seu trabalho. Mais do que isso: elege “Poema Sujo”, de Ferreira Gullar, o poeta mais polêmico da atualidade. E à minha pergunta do por que nadar contra a corrente, ele me diz: é
esta a função do artista, sacudir as estruturas, ser piracema para que seus filhos nasçam. Só me resta dizer: Amém!

Mas visitar a exposição uma vez só não nos satisfaz, e no dia seguinte voltamos Cira, Isa Mara Lando, também poeta, e Samuel, para nos embriagar com aqueles poemas. Agora um círculo se forma. Os atores passam com um prato de poemas impressos, e nos servem. Cada um tira um, e é convidado a ler, a também
embriagar a alma com aquele vinho. Carla Stank bailarina e atriz dança no centro do círculo, e os atores Aline de Luna, Amauri Lorenz, e Alexandre Braga, que nos recebeu no dia anterior fazem parte das leituras. Além de nós, estão presentes algumas estrelas de primeira grandeza: Ana de Holanda, Jards Macalé e o próprio Silvio.

Nenhuma homenagem aos 80 anos do autor do Poema Sujo me parece ter sido mais original, mais justa, mais significativa. Em um país de tão grandes poetas, me arrisco a dizer que entre as obras poéticas mais importantes estão o Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meirelles, Morte e Vida Severina, de João Cabral, e este “Poema Sujo” de Gullar, que Vinícius considerava a maior de todas. Sílvio escolheu essa forma inovadora que vem de encontro ao universo de hoje. E o sucesso está sendo tão grande, que a exposição foi prorrogada até dia 30. Se você mora no Rio, ou está passando por lá, não deixe de ir. E siga o conselho do expositor: consuma sem moderação! Você sabe, a arte existe porque a vida não basta.
 
O endereço é Visconde de Pirajá, 54, 2º andar. – Espaço Oi futura.


*Risomar Fasanaro é Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.

The Oatmeal - Gato X Internet





















domingo, 12 de dezembro de 2010

Não vi e Não gostei: "O Guia do toco"

Mais uma bela contribuição para literatura nacional. Sim, estou sendo irônico.

Duas jornalistas recém lançaram pela Ed. Best Seller, um livro chamado "O Guia do Toco" que servirá para "amparar" amantes recém-chutados.

Aqui vai um trecho de como essa "idéia genial" foi concebida:

"A ideia original aconteceu de maneira espontânea, fruto de uma reunião feminina. “Tivemos o insight de escrever o livro há um ano, quando estávamos solteiras e na pista. A gente sempre ouvia muitas histórias de pessoas que levavam e davam foras(trabalho de campo, importante), assim como nós. Logo percebemos que não éramos as únicas que vivenciavam isso e decidimos compartilhar(uau)”, diverte-se Fabi( uma das autoras do livro)".

Machado de Assis deve estar se contorcendo por uma segunda morte. Tenho certeza que ele daria tudo por um AVC, caso se deparasse com isso.


Além disso, as  autoras do livro ainda soltaram "umas dicas" para aqueles que "não podem esperar" para "ler" esse "livro".

Vou citar só as "mais interessantes":

"Antecipe-se
Quer prever um fora? É fácil.  “O parceiro começa a dar sinais de que não está mais tão a fim de você. Se ele começa a sumir, sair mais com os amigos do que com você, não te beija mais como antes e nunca mais a procura na cama, atenção: pode estar começando o processo do toco. Nessas horas, basta ter feeling e dar o troco antes: diga que está um pouco confusa e que o namoro não é mais como antes. Com certeza ele irá se surpreender”, diz Leticia. "


Caralho! Desculpa gente, mas é muito pra mim, não aguento mais. Vou deixar o gás aberto enquanto durmo e morrer tranquilo.

Quem quiser, -pelo amor de  Entidade-Superior-Que-Por-Ventura-Houver-No-Universo,não faça isso-, a matéria na integra e fonte da notícia: http://estilo.uol.com.br/comportamento/ultnot/2010/12/11/como-ficar-bem-depois-de-um-fora.jhtm





sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Animação do poema Bluebird - Charles Bukowski



há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumo de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

IMPERDÍVEL - Retrospectiva da obra do cineasta José Eduardo Belmonte


Vitrine Filmes e Belas Artes apresentam debate e obra completa do diretor

De 10 a 16 de dezembro, o público terá a oportunidade de conferir a obra completa de José Eduardo Belmonte, diretor de Meu Mundo Em Perigo, que estreia dia 10 de dezembro nos cinemas. Durante a retrospectiva, serão exibidos os longas Se Nada Mais Der Certo, A Concepção e Subterrâneos, ainda inédito no circuito comercial e também os cinco curtas do cineasta. Belmonte é formado em cinema pela Universidade de Brasília, onde teve aulas com Nelson Pereira dos Santos, com quem trabalhou, e Wladimir Carvalho, dentre outros. Seus cinco curtas e quatro longas-metragens somam aproximadamente sessenta prêmios nos principais festivais do país.

SERVIÇO
Retrospectiva José Eduardo Belmonte
Data: 10 a 16 de dezembro
Horário: 18h30
Local: Belas Artes - Rua Consolação, 2423 
Preço do ingresso: R$18,00 (inteira) e R$ 9,00 (meia)
Sala 4 – Aleijadinho

"Meu Mundo em Perigo"
Data: em cartaz a partir de 10 de dezembro
Horário: 14:30; 16:30 e 20:40h
Local: Belas Artes - Rua Consolação, 2423 - Consolação
Preço do ingresso: R$18,00 (inteira) e R$ 9,00 (meia)
Sala 4 – Aleijadinho

PROGRAMAÇÃO RETROSPECTIVA JOSÉ EDUARDO BELMONTE
10/12 – sexta-feira: "A Concepção"
11/12 - sábado: "Subterrâneos"
12/12 - domingo: Seleção de Curtas
13/12 – segunda-feira: "Se Nada Mais Der Certo"
14/12 – terça-feira: "A Concepção"
15/12 – quarta-feira: "Se Nada Mais Der Certo"
16/12 – quinta-feira: Seleção de Curtas
*Todas as sessões serão realizadas sempre as 18h30.


LONGAS
SE NADA MAIS DER CERTO – longa-metragem
2008, ficção, 35mm, 120 minutos.
“Se nada mais der certo” mostra uma classe média achatada, num país cujo crescimento nos últimos anos ficou aquém do esperado. Léo (Cauã Reymond), um jornalista falido de cerca 30 anos, conhece Marcin (Caroline Abras), um tipo ambíguo e frequentador de “bocas”, que o apresenta a Wilson (João Miguel), prestes a ser um taxista sem táxi, pois não consegue obter o mínimo de dinheiro para não perdê-lo. Os três se unem para realizar um pequeno golpe que acaba sendo bem sucedido e surge uma forte relação de afeto entre eles. A partir daí, as oportunidades aparecem e, quase sem perceber, Léo se envolve numa vida criminosa.

MEU MUNDO EM PERIGO – longa-metragem
2007, ficção, 35 mm, 96 minutos.
Elias vê seu mundo ameaçado quando sua ex-mulher, uma junkie em recuperação, pede a guarda de seu filho. Desesperado, após matar um homem em um acidente de trânsito, ele se esconde em um hotel decadente no Centro de São Paulo. Lá, ele conhece uma garota que também foge de seus problemas familiares. Juntos, eles vão tentar descobrir um novo sentido para suas vidas.

A CONCEPÇÃO – longa-metragem
2005, ficção, 35mm, 90 minutos.
Alex, Lino e Liz são filhos de diplomatas que vivem juntos em Brasília num apartamento vazio, sem os pais, e cheio de quinquilharias globalizadas. Trocam afetos variados alheios ao mundo. Entediados, tentam viver cada dia como se fosse único. O processo radicaliza quando X, uma pessoa sem nome e sem passado, entra na casa e propõe ir sem freios na idéia de viver apenas um dia. Pra isso propõe um falso movimento chamado Concepcionismo, que consiste em morte ao ego, ser tudo de todas as maneiras, abolir o dinheiro entre outras coisas, seguir o caminho do excesso, nem que para isso seja necessário drogas, documentos falsos, total despudor. O mundo seria um grande teatro e o concepcionista um criador de personagens que duram apenas 24 horas.

SUBTERRÂNEOS – longa-metragem
2003, 35mm, ficção, 86 minutos.
Breno, sindicalista que abandona o trabalho para escrever um livro sobre o Conic – centro comercial de Brasília povoado por prostituas, evangélicos e travestis. Durante três dias, Breno percorre os corredores do local, onde encontra figuras como Ângela, que busca desesperadamente uma solução para sua vida e Giovani, um italiano que está gravando um documentário sobre o Conic.

CURTAS

50 ANOS EM 5 – curta-metragem
2010, 35mm, ficção, 8 minutos.
Homem de 50 anos que tem por habito ficar parado na faixa do segurança pensativo, se descobre um dia apaixonado. Todo dia a mulher, mais nova, que ele está apaixonado, atravessa o eixão ou por cima, na pista, ou por baixo, pela passagem subterrânea. O que não muda é que ela passa sempre no mesmo horário. Daqui a cinco minutos, depois da sua descoberta de paixão. Sua passagem não dura mais que 50 segundos. Nesse tempo de espera, o homem vai lembrar dos seus amores e frustrações.

UM TRAILER AMERICANO – curta-metragem
2002, 35mm, ficção, 13 minutos.
O trailer onde moram Nádia, Flores e Mustang quebrou diante de um drive-in e eles nunca o consertam. Ficam falando sobre amenidades, a vida, e vêem os filmes americanos que passam no cinema em frente. Sem perceber, adoram tudo que é americano. Amam-se, mas estão em crise e sentem uma preguiça imensa pelo universo a suas voltas. A história é contada como um trailer de cinema, sem um tempo linear.

DEZ DIAS FELIZES – curta-metragem
2002, 35mm, ficção, 20 minutos.
Casal de jovens namorados, na cidade de Brasília, vão fazer um aborto. No caminho, eles sentem medo, angústia, tristeza e se lembram de momentos felizes que passaram juntos. E se reencontram 10 anos depois.

TEPÊ – curta-metragem
1999, 35mm, ficção, 17 minutos.
Noite de chuva em Brasília. Beto, um ateu convicto, depois de beber umas e outras com os amigos no bar, pega um táxi e inicia uma conversa bem humorada com o taxista Tepê, um senhor bonachão. Em meio ao temporal os dois passam um susto e Beto agradece a Deus. Tepê aproveita e ironiza a falta de fé de Beto e mostra saber tudo sobre sua vida: o que ele fez e qual será seu destino.

5 FILMES ESTRANGEIROS – curta-metragem
1997, 35mm, ficção, 14 minutos.
Um nepalês sociopata, um casal francês em crise, um brasileiro maníaco, paraguaios em festas e artistas africanos em turnê se cruzam num dia fatal.

SOBRE JOSÉ EDUARDO BELMONTE

Fonte:  Cinnamon Comunicação

José Eduardo Belmonte é formado em cinema pela Universidade de Brasília, onde teve aulas com Nelson Pereira dos Santos (com quem trabalhou) e Wladimir Carvalho, entre outros.  Fez cinco curtas e quatro longas-metragens, que somam aproximadamente sessenta prêmios nos principais festivais do país. Realizou num esquema de guerrilha seu primeiro longa, "Subterrâneos", ainda inédito no circuito comercial. Seu segundo longa, "A Concepção", foi produzido pela Olhos de Cão, produtora de "Amarelo Manga" e  "Prisioneiro da Grade de Ferro". O filme foi lançado comercialmente no Brasil em 2006.

No mesmo ano, Belmonte filmou seu terceiro longa-metragem, "Meu mundo em perigo", na cidade de São Paulo. Seu quarto longa-metragem, também filmado em São Paulo é "Se nada mais der certo", que com seu curto tempo de vida já arrebatou vários prêmios, inclusive internacionais. Sobre a obra do realizador segue um texto do critico Carlos Alberto Mattos feito para uma retrospectiva dos seus curtas no festival Luso-brasileiro de Santa Maria da Feira, Portugal:

"José Eduardo Belmonte lida com a matéria bruta do cinema: rupturas amorosas, violência do cotidiano, acidentes de automóvel, corpos jovens que se agitam numa teia de palavras e músicas, citações cinematográficas, perigo de morte rondando nas esquinas e banheiros de uma cidade fantasmagórica.

Cinco curtas e um longa-metragem já bastam para revelar um autor com universo próprio e linguagem aberta para as indagações contemporâneas. A brutalidade de seus ícones, somada a uma concepção de tempo invulgar (ação física, memória e delírio dançam na mesma pista), liga seu nome a uma tradição de invenção que se enraíza no chamado Cinema Marginal brasileiro, praticado na década de 1970. Um cinema onde o lírico e o grotesco caminhavam de mãos dadas (ambas sangrando...) por avenidas e descampados que desejavam esvaziar a alma do espectador para mobiliá-la à sua maneira.

Essa herança se manifesta com maior vigor nos seus filmes “anárquicos”: na edição selvagem de 5 Filmes Estrangeiros ou nas referências de Um Trailer Americano aos filmes de André Luiz Oliveira, ele próprio surgindo como o diretor-dentro-do-filme. Mas também nos seus filmes “românticos” vamos encontrar a semente da transgressão, seja na quebra da linearidade narrativa, seja nos blocos imensos de tempo extra-fílmico que organizam o destino inconcluso de suas personagens.

Belmonte quer dizer-nos muitas coisas no espaço entre as imagens, assim como no vão aberto entre seus filmes. O conflito básico de Três, curta seminal da época da universidade, parece encontrar uma solução conciliadora em Um Trailer Americano, assim como Dez Dias Felizes ecoa situações e dilemas daquele primeiro filme – a angústia no canteiro central de uma auto-estrada, a memória jubilosa de um casal atirando cartas de baralho para o alto diante de um prédio residencial. Em Um Trailer Americano, vemos cenas de filmagem que aludem ao anterior 5 Filmes Estrangeiros.

A unidade desse conjunto é garantida também pelo olhar particular que o diretor lança sobre Brasília, a cidade pela qual trocou sua São Paulo natal, desde os quatro anos de idade. A capital brasileira tem fama de ser uma cidade vazia (especialmente num feriado como o de 5 Filmes Estrangeiros) e desumana em sua urbanização voltada mais para o trânsito permanente e a funcionalidade organizacional do que para a vivência doméstica.

Os curtas de Belmonte tiram partido desse cenário de western futurista. Dispõem suas criaturas num desamparo interior que se replica na paisagem erma. Soltas nas superquadras, eixos rodoviários e ruas comerciais desertas, elas estão freqüentemente alienadas do convívio social e encerradas numa individualidade que Michelangelo Antonioni conhecia muito bem.

A caminhada para a solidão, a irrealização ou mesmo a morte, na verdade, independe do número de pessoas ao redor. É o que mostra Subterrâneos, o primeiro longa de José Eduardo Belmonte, ainda inédito no circuito comercial brasileiro. O filme é uma espécie de documentário espiritual de um famoso centro comercial de Brasília, onde lojas, boates eróticas, igrejas evangélicas e escritórios sindicais disputam as atenções de uma grande freqüência popular. Narra com som e fúria a história, fragmentária e labiríntica, de um punhado de personagens à borda do desespero. Encontramos ali um realizador em pleno domínio de suas elipses, seu talento, sua loucura. E isso vale muito, num momento em que a imensa maioria dos cineastas brasileiros transige com o bom-mocismo.

Mulher e política no CineMulher: Exibição do filme "Libertárias"

Em 2010, o CineMulher iniciou suas atividades em março, abordando a participação das mulheres na política. Em dezembro, passado o período eleitoral e o protagonismo ocupado por duas candidatas no primeiro turno, voltamos ao tema para encerrar as exibições do ano. Nossa convidada é Rachel Moreno, militante feminista, psicóloga e pesquisadora que nos anos 70 enfrentou a ditadura e até hoje tem importante atuação no movimento feminista. Exibiremos o filme "Libertárias", de Vicente Aranda.


Sinopse
Em 18 de julho de 1936, o exército espanhol se rebela contra o Governo da República. Seis mulheres de origens e classes sociais diferentes se organizam em um grupo de anarquistas para lutar, de igual para igual com os homens, contra as tropas nacionais. Uma freira que descobre a solidariedade fora da fé, prostitutas, operárias, etc., unidas para defender seus ideais políticos e, ao mesmo tempo, fazer entender a seus companheiros as mudanças ideológicas e sociais pelas quais elas também almejam conquistar.

Ficha Técnica
Gênero: Drama
Diretor: Vicente Aranda
Duração: 121 minutos
Ano de Lançamento: 1996
País de Origem: Espanha, Itália, Bélgica
Idioma do Áudio: Castelhano
IMDB:http://www.imdb.com/title/tt0113649/
Quando: 11/12/2010
Horário: 18h30
Local: Centro Cineclubista de São Paulo
Rua Augusta, 1239 - cjto 13/14
Grátis

Tribunal Popular - "Encarceramento em massa: símbolo do Estado Penal"

“ A melhor reforma do direito penal seria a de substituí-lo, não por um direito penal melhor, mas por qualquer coisa melhor do que o direito penal” (Gustavo Radbruch).

 O Brasil é hoje um dos países com a maior população carcerária do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos e a China. As prisões brasileiras são uma versão do apartheid,  legitimado pelo sistema de justiça penal, seletivo, que criminaliza a população empobrecida, principalmente jovem, negra e indígena, encarcerada prioritariamente por crimes contra o capital. O encarceramento em massa configura-se como um dos instrumentos do Estado na preservação do patrimônio privado e como forma de controle e contenção social, ocultando a barbárie produzida pelo sistema social vigente. O aumento extraordinário da população carcerária no país, a partir dos anos 90, é reflexo da política neoliberal caracterizada pelo Estado Mínimo em relação às políticas sociais e pelo Estado Penal Máximo para as populações empobrecidas. Este não é um fenômeno singular, mas no Brasil, onde o Estado de bem-estar social nunca foi uma realidade concreta, o Estado Penal intensifica-se, assumindo uma dimensão mais perversa. As prisões brasileiras caracterizam-se pelo terror, torturas, maus-tratos, enfim, brutais violações dos direitos humanos dos(as)  presos(as) e seus familiares. Qual a função social do encarceramento da população empobrecida? Quais os custos sociais da política de encarceramento em massa? Quais as estratégias a serem desenvolvidas para enfrentar as graves violações dos direitos humanos da população carcerária?

O Tribunal Popular convida você a discutir estas e outras questões com militantes do movimento social, egressos do sistema prisional, familiares de presos, profissionais da área, estudantes, pesquisadores e a comunidade em geral.  Veja abaixo a programação:

07/12 Terça-feira

18h00: Recepção/Credenciamento

18h30 – 19h30: Abertura

18h30
ABERTURA / cena de espetáculo "Algo de Negro" - FOLIAS
ATO SOBRE INVASÕES NO COMPLEXO DO ALEMÃO / PATRICIA - RJ

19h30 – 22h00: 1a. MESA: Estado Penal e Estado de Direito
Coordenação: Marisa Feffermann - Doutora em Psicologia, pesquisadora do Instituto de Saúde do Estado de São Paulo, professora universitária, autora do livro: “Vidas arriscadas: os trabalhadores do tráfico de drogas”; militante do Tribunal Popular: O Estado Brasileiro no Banco dos Réus.

Palestrantes:

Carmen Silvia Moraes de Barros
Graduação em Direito, Especialista em Direito do Estado, mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito da USP, Coordenadora do Núcleo de Questões Criminais e Penitenciárias da Defensoria Pública SP

Vera Malaguti Batista
Mestre em História Social (UFF), Doutora em Saúde coletiva (UERJ), Professora de criminologia da Universidade Cândido Mendes, e Secretária geral do Instituto Carioca de Criminologia.

Nilo Batista
Doutor em Direito e Livre-docente em Direito Penal pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro Professor Titular de Direito Penal da UFRJ, da UERJ e da Universidade Candido Mendes (licenciado).

Deivison Nkosi
Graduado em Ciências Sociais pelo Centro Universitário Santo André, Mestre em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC; é Professor do Depto de Estudos Sociais - História e Geografia da Faculdade São Bernardo e Consultor do Fundo das Nações Unidas Para Populações – UNFPA para o Programa Interagencial de Promoção de Gênero, Raça e Etnia para assuntos relativos às Políticas Públicas de Saúde da População Negra do Governo Federal. 

08/12 – Quarta-feira

08h30 – 11h00: 2a. MESA: Sistema de Justiça
Coordenação: Luis Fernando Camargo de Barros Vidal (Presidente da AJD e juiz da Vara da Fazenda Pública de São Paulo)

Juarez Cirino dos Santos
Doutor em Direito Penal pela Faculdade Nacional de Direito da UFRJ. Pós-doutor em Política Criminal Presidente do Instituto de Criminologia e Política Criminal e advogado criminal e Professor titular da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Rubens Roberto Rebello Casara
Doutorando em direito pela UNESA/RJ. Juiz de direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, fundador do Movimento da Magistratura Fluminense pela Democracia (MMFD) e membro da Associação Juizes para a Democracia (AJD).

Ricardo Santiago

Bruno Alves de Souza Toledo
Graduação em Direito e mestre em Política Social pela UFES. Já atuou na coordenação da Comissão de DH da Assembléia Legislativa, na gerência de DH da Prefeitura de Vitória e Presidência do Conselho de Direitos Humanos. É professor de DH da EMESCAM, Assessor Jurídico do CRESS 17ª. Região e Presidente do Conselho Estadual de DH do Espírito Santo.

11h00 – 11h15: Intervalo
filme sobre encarceramento
COLETIVO CINEFUSÃO (curadoria)

11h15 – 13h00: Grupos de Trabalho

12h00 – 14h00: Almoço

13:30 trecho do espetáculo Danças Brasileiras
NÚCLEO DE ARTES AFRO BRASILEIRAS-USP

14h00 – 16h30: 3a. MESA: A institucionalização e suas consequencias

Coordenação: Fernando Ponçano Alves Silva
Advogado e Assessor do Núcleo Especializado em Questões Criminais e Penitenciárias da Defensoria Pública do Estado de São Paulo

Maria Railda Alves
Presidente da Associação Amparar – de familiares e Amigos de Presos e Presas do Estado de São Paulo

Heidi Ann Cerneka
Mestre em Teologia, membro da Pastoral Carcerária e  do Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC)

Gerdinaldo Quichaba Costa
Mestre em Direito, Professor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL - unidade de Americana/SP, Juiz de Direito da Vara do Júri, das Execuções Criminais e da Infância e Juventude da Comarca de Americana/SP.

Andréa Almeida Torres
Assistente Social, Mestre e Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora Adjunta do Curso de Serviço Social da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp - Baixada Santista). 

16h30 – 17h00: Intervalo

17h00 – 18h30: Grupos de Trabalho

18:30 filme encarceramento - COLETIVO CINEFUSÃO (curadoria)

09/12 – Quinta-feira

08h30 – 11h00: 4a. MESA: Desinstitucionalização do Sistema Prisional
Coordenação: José Ricardo Portella - Psicólogo na Secretaria de Administração Penitenciária, Docente da Escola de Administração Penitenciária, Conselheiro e Coordenador do GT Psicologia e Sistema Prisional do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.

Haroldo Caetano da Silva
Promotor de Justiça da Execução Penal de Goiânia. Professor, mestre em Ciências Penais, integrante da Comissão de Apoio e Fomento dos Conselhos da Comunidade, Idealizador do PAILI (Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator).

Luiz Alberto Mendes
Escritor, colunista, autor de livros como: "Memórias de um sobrevivente", e  "Às Cegas".

Adriana Eiko Matsumoto
Psicóloga, doutoranda em Psicologia Social PUC/SP e coordenadora Núcleo São Paulo ABRAPSO. Foi coordenadora do GT Psicologia e Sistema Prisional do CRP SP (de 2005 a 2010) e eleita conselheira CFP para gestão 2011-13.

Alessandra Teixeira
Advogada, mestre e doutoranda em Sociologia pela USP. Coordenadora da comissão sobre o sistema prisional do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM).

11h00 – 11h15: Intervalo
filme encarceramento - COLETIVO CINEFUSÃO (curadoria)

11h15 – 13h00: Grupos de Trabalho

12h00 – 14h00: Almoço

13:00 filme encarceramento - COLETIVO CINEFUSÃO (curadoria)

14h00 – 16h30 5a. MESA: Institucionalização de Adolescentes

Coordenação: Givanildo M. da Silva
Educador, militante do Fórum Estadual  de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e do Tribunal Popular: o estado brasileiro no banco dos réus.

Flávio Américo Frasseto
Graduação em Direito pela Universidade de São Paulo e em Psicologia pela Universidade São Marcos (1999), Mestrado em Psicologia pela USP e aperfeicoamento em Psicologia Jurídica Psicologia Justiça e Cidadania pelo Instituto Sedes Sapientiae (2000). Defensor Público da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, pesquisador da Universidade Bandeirante de São Paulo.

Wanderlino Nogueira Neto
Procurador de Justiça (aposentado) do Ministério Público do Estado da Bahia; Coordenador do Grupo de Trabalho para Monitoramento da Implementação da Convenção sobre os Direitos da Criança da Seção Brasil do “Defensa de los Niños Internacional”; Pesquisador do Instituto Nacional de Direitos Humanos da Infância e da Adolescência; Coordenador de Projetos de Formação da Associação Brasileira dos Magistrados e Promotores da Infância e Juventude – ABMP.

Vitor Alencar
Graduado pela Universidade de Fortaleza e Especialista pela Fundação Escola Superior do Ministério Público do Rio Grande do Norte. Atua como advogado do CEDECA/DF, onde coordena projeto sobre Justiça Juvenil.

 Jalusa Arruda
Advogada, especialista em Relações Internacionais e mestranda em Estudos Interdisciplinares Sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, ambos pela Universidade Federal da Bahia. É consultora jurídica do CEDECA/BA.  

16h30 – 17h00: Intervalo

17h00 – 18h30: Grupos de Trabalho

18h30 Espetaculo teatral ESTE LADO PARA CIMA  BRAVA COMPANHIA

18h30 – 19h00: Encerramento