Publicamos um manifesto crítico escrito por realizadores de cinema. Esta carta foi lida por diretores paulistanos na Mostra de Cinema de Tiradentes no dia 27/1, data em que a prefeitura de São Paulo criava a SPCine, empresa encarregada da produção audiovisual na cidade de São Paulo. Nos anos 50 outro projeto industrial surgiu em São Paulo e foi um fracasso: a Vera Cruz produziu cerca de quarenta filmes, a maioria hoje merecidamente esquecidos, e se tornou um exemplo negativo de arremedo do cinema industrial produzido nas grandes metrópoles para as gerações seguintes. A carta busca valorizar o verdadeiro cinema paulistano, o cinema de invenção que marcou nossa cinematografia e deixou muitos herdeiros, representado por mestres como Carlos Reichenbach, Ozualdo Candeias, Jairo Ferreira, Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci.
CONTRA O CINEMA INDUSTRIOSO
Hoje, quando vários filmes paulistanos fazem sua primeira exibição na Mostra de Cinema de Tiradentes está sendo aberta a SPCine em São Paulo. É importante frisar que a imensa maioria dos filmes paulistanos aqui exibidos não tem nenhum apoio desta prefeitura. O que diz muito sobre a forma como a cultura é tratada em nossa cidade.
O perfil ideológico da SPCine, o grande empreendimento da secretaria da cultura de São Paulo, fica cada vez mais claro: incentivar o lixo cultural em detrimento do cinema de invenção e de risco. Fortalecer as grandes produtoras, que não estão preocupadas com a cultura, mas sim com os seus negócios. Incentivar o lixo cultural imposto cotidianamente pelos grandes meios de comunicação: as globo-chanchadas, o cinema publicitário, o gangsterismo cultural travestido em audiovisual.
Aproveitamos esta oportunidade para frisar que nós, realizadores e criadores do cinema paulistano aqui representados em vários filmes, nos negamos a produzir o lixo cultural que o projeto industrioso da prefeitura de São Paulo tenta nos impor. Joguemos pedras aos porcos. Declaramos guerra à cultura-consumo defendida pela SP-Cine. Guerra à mercadoria audiovisual.
Não comercializamos o sentimento. Não concordamos, não aceitamos, não acreditamos: não vendemos. Lutaremos com todas nossas forças por um cinema artesanal, de invenção e de risco. Por filmes integros. Por um mundo de olhos livres.
Assinam: Coletivo Zagaia, Coletivo Cinefusão, Comitiva Paracatuzum
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