O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

CONTRA O CINEMA INDUSTRIOSO OU A RESPEITO DA SPCINE

carta assinada pelo coletivo cinefusão e publicada originalmente no blog dos parceiros da Zagaia

Publicamos um manifesto crítico escrito por realizadores de cinema. Esta carta foi lida por diretores paulistanos na Mostra de Cinema de Tiradentes no dia 27/1, data em que a prefeitura de São Paulo criava a SPCine, empresa encarregada da produção audiovisual na cidade de São Paulo. Nos anos 50 outro projeto industrial surgiu em São Paulo e foi um fracasso: a Vera Cruz produziu cerca de quarenta filmes, a maioria hoje merecidamente esquecidos, e se tornou um exemplo negativo de arremedo do cinema industrial produzido nas grandes metrópoles para as gerações seguintes. A carta busca valorizar o verdadeiro cinema paulistano, o cinema de invenção que marcou nossa cinematografia e deixou muitos herdeiros, representado por mestres como Carlos Reichenbach, Ozualdo Candeias, Jairo Ferreira, Rogério Sganzerla e Andrea Tonacci.   



CONTRA O CINEMA INDUSTRIOSO 

Hoje, quando vários filmes paulistanos fazem sua primeira exibição na Mostra de Cinema de Tiradentes está sendo aberta a SPCine em São Paulo. É importante frisar que a imensa maioria dos filmes paulistanos aqui exibidos não tem nenhum apoio desta prefeitura. O que diz muito sobre a forma como a cultura é tratada em nossa cidade. 

O perfil ideológico da SPCine, o grande empreendimento da secretaria da cultura de São Paulo, fica cada vez mais claro: incentivar o lixo cultural em detrimento do cinema de invenção e de risco. Fortalecer as grandes produtoras, que não estão preocupadas com a cultura, mas sim com os seus negócios. Incentivar o lixo cultural imposto cotidianamente pelos grandes meios de comunicação: as globo-chanchadas, o cinema publicitário, o gangsterismo cultural travestido em audiovisual.

Aproveitamos esta oportunidade para frisar que nós, realizadores e criadores do cinema paulistano aqui representados em vários filmes, nos negamos a produzir o lixo cultural que o projeto industrioso da prefeitura de São Paulo tenta nos impor. Joguemos pedras aos porcos. Declaramos guerra à cultura-consumo defendida pela SP-Cine. Guerra à mercadoria audiovisual. 

Não comercializamos o sentimento. Não concordamos, não aceitamos, não acreditamos: não vendemos. Lutaremos com todas nossas forças por um cinema artesanal, de invenção e de risco. Por filmes integros. Por um mundo de olhos livres.   

Assinam: Coletivo Zagaia, Coletivo Cinefusão, Comitiva Paracatuzum 

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