O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A MÍDIA RAINHA

Finalmente, encontro um artigo, que analisa o casamento do príncipe com a plebeia através de uma outra lente, essa sim realista, sem a porra (com o perdão da palavra) da demagogia escrota que a imprensa burguesa atira nas nossas caras. O bom é que a imprensa brasileira é o melhor espaço para discutirmos o papel nefasto que cumpre a mídia e a cultura de massa. Tive a profunda tristeza (e aqui não estou sendo demagogo e muito menos pretensioso) de ver algumas pessoas pararem tudo o que estavam fazendo para ver na televisão o "beijo real" - aspas de uma senhorita que encontrei hoje. Tomo a liberdade de postar abaixo sem pedir emprestado o belo texto de Walter Hupsel. 

Deus Salve a Rainha

A história se repete: o filho do príncipe Charles, que casou com Lady Di – uma pessoa de fora da realeza (como me lembrou Antônio Luiz Costa) – no tal casamento do século, que acabou em traições e na trágica morte da princesa num túnel em Paris, William, se casou também com uma plebeia, e também no “casamento do século”.

A imprensa não fala de outra coisa, analisa os vestidos, o menu, a lista de convidados, a lista dos não-convidados. Fala também de custos da festança e do impacto econômico que o casamento terá. A Inglaterra foi tomada por uma epifania real-nacionalista. Todos, ou quase todos, esperando o grande momento de ter uma nova sucessora ao cargo de Elisabeth 2ª, Kate, para poderem cantar o hino britânico, “Deus Salve a Rainha” (God Save the Queen).

É a imagem, o símbolo. A monarquia britânica, desde quando Guilherme de Orange desembarcou em solo inglês vindo da Holanda, e destronou James 2º, a Inglaterra adotou uma forma esquisita de governo, uma forma mista, a monarquia parlamentar na qual a ‘Rainha reina, mas não governa”.

A despeito de ter sido uma saída estratégica numa Inglaterra que passava por um século de convulsões e guerras civis, os mais otimistas hoje apontam para o caráter simbólico da monarquia britânica, em que a Rainha seria, digamos assim, uma entidade que mantém unidos os diversos países que compõem a Grã-Bretanha, os menos crédulos chamam atenção para o anacronismo de se manter uma realeza que faça alguns banquetes e cace raposas. Para estes uma sociedade moderna e democrática teria que prescindir de qualquer titulo nobiliárquico (o senado inglês é, até hoje, chamado de “Casa dos Lordes”), de qualquer menção a súditos. Sim, na Inglaterra existem súditos do rei e não cidadãos.

Para quem se não lembra, aqui mesmo no Brasil tivemos um plebiscito em 1993 (que tinha sido previsto pela Constituição de 1988), no qual o povo deveria decidir sobre monarquia ou república parlamentarista ou presidencialista.

Ao lado da monarquia, estiveram figuras públicas como Hugo Carvana, Sandra de Sá e o antropólogo Roberto da Matta. Este justificava sua opção pela restauração da monarquia dizendo que o brasileiro a adora e, como explicação para sua posição, citava a forma que nos referimos ao “Rei” Roberto Carlos, “Rainha” Xuxa e “Rei” Pelé (?!?!?) . Segundo Da Matta, este era um sinal claro que somos órfãos de Orleans e Bragança.

Malograda a opção de termos nossa própria dinastia, de termos nossos casamentos suntuosos em Petrópolis, voltamos os olhos pra a velha Inglaterra. Sublimamos nossa vidinha republicana, olhamos com uma certa aura para esse casamento, da Família Real mais cara da Europa. Para a mulher, plebéia, que encarnará novamente o arquétipo feminino dos contos de fada, e casará com um príncipe.

Agora, ela terá a obrigação de gerar um herdeiro para os Windsor (e rápido, segundo manda a tradição), um novo futuro rei que também se casará no “casamento do século”, que também deve atrair a atenção mundial. Ela, a futura princesa e rainha, será um símbolo da Inglaterra e da submissão feminina. Apenas uma figura.

A ela meus mais sinceros desejos de boa sorte. Para ela, e para todos os ingleses, mando um “Deus Salve a Rainha”, mas na voz de Johnny Rotten.

God save the queen
She ain't no human being
There is no future
In England's dreaming




O vídeo abaixo é uma contribuição do amigo Erick Martorelli ao debate:

3 comentários:

  1. Erick (Péricles da Mooca)29 de abril de 2011 às 18:22

    'No future' total. Pastiche monárquico pra dar tchauzinho na charrete... e, Brunão, não peça perdão por palavras necessárias... Porra, cu, tetas, caralhos e bucetas... tudo é válido, tudo é desabafo. http://www.youtube.com/watch?v=Wz5IFl7uCis

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  2. hehehe tá certo! o perdão foi hipócrita! rs e bem lembrado o clipe do Smiths! fudido!

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  3. Puta texto!
    E, foi ótima a analogia ao Brasil, estava vendo um video sobre esse plebiscito hoje.
    De qualquer maneira, isso chama atenção para outra coisa, que é a submissão de todos nós - brancos, negros, amarelos, azuis, ocidentais, orientais... e seja lá o que for-, para a questão de que ainda vivemos em um mundo onde cultuamos reis, sejam nossos políticos ou mesmo aqueles que consideramos grandes artístas,como nosso grande coppola, ou mesmo aquele, que ironicamente são colocados como 'esquerda', ainda nos vestimos como eles pedem para seus eventos, enfrentamos filas, trânsitos, gastamos grana preta, brigamos e assim vai... enquanto cultuarmos e cultivarmos reis, cenas assim serão cada vez mais comuns.

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