O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Estado Monetário de Direito?

Há dias noticiou-se na grande mídia a ação truculenta de delegados da corregedoria de São Paulo, em junho de 2009, contra uma escrivã suspeita de concussão (exigência de propina por parte de servidor). A escrivã foi algemada, atirada ao chão e despida à força para a platéia não menos covarde que se encontrava na sala, e, posteriormente, para todo o Brasil, pois os mandarins da justiça, além de tudo, filmaram a “intervenção”.

As imagens são absolutamente repulsivas (1). É indisfarçável a motivação de natureza sexual presente na conduta dos delegados. Certamente achavam-se donos dos cargos que ocupavam, e punham-se acima da lei, tanto mais que, sendo a suspeita uma mulher, poderiam, naturalmente, agir também como estupradores.

Cabe a pergunta: as relações patriarcais de poder, e a miséria da condição da mulher mudaram realmente, a despeito do otimismo de alguns com a vitória de Dilma Rousseff? Basta dizer que os quatro delegados que atuaram no caso da escrivã tiveram o aval da corregedora-geral Maria Inês Trefiglio Valente, destituída ontem de seu cargo. (2)

Interessante notar também como a mania do “denuncismo” na política nacional mostra sua verdadeira face: contra a corrupção tudo vale! Inclusive apropriar-se de cargos públicos e utilizá-los para exercer todo tipo de canalhice (contra a corrupção tudo vale, inclusive corropomper!). Trata-se claramente de um problema estrutural.

Semana passada, por exemplo, o ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Antonio Carlos Viana Santos, morto em 28 de janeiro por problemas cardíacos, começou a ser investigado pelo Ministério Público sob a suspeita de enriquecimento ilícito e tráfico de influências. A denúncia anônima constituía-se de onze páginas detalhadas da “evolução patrimonial” do presidente, e chegou às mãos do MP onze dias antes do presidente esticar as canelas (3). Um “jogo de armar” à maneira de Cortázar – com as devidas coincidências kafkianas.

É realmente difícil acreditar nos paliativos e panacéias de toda espécie, tais como as “reformas políticas moralizantes”, quando sabemos que a pressão é objetiva, e que os poderes econômicos constituídos são os mesmos que, historicamente, estruturam o Estado brasileiro. O abuso extrapola inclusive os níveis hierárquicos mais decisivos de poder, como uma espécie de efeito na superfície de abalos sísmicos mais profundos.

Qualquer funcionário público sabe que a norma de conduta das relações de trabalho em todos os níveis pauta-se pelo desrespeito, o assédio, a manipulação, etc.

O verdadeiro encadeamento das relações de força que determinam a política é evidente para quem puder e quiser ver.

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1 – Vídeo na íntegra: http://www.youtube.com/watch?v=ozLXEWjdE9M

2 – Folha On-line: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/880625-video-de-escriva-despida-derruba-corregedora-da-policia-civil-de-sp.shtml

3 – Estadão: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,mp-investiga-bens-de-ex-presidente-do-tj-sp,679055,0.htm

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