Sem dúvida, o curta “Cinema” traz belas imagens que, corte após corte, suscitam significados intensos sobre a condição humana. No entanto, ao final da projeção, fica a impressão de que a insistente busca pela afirmação da imagem em si tenha se esvaziado. Mas, ao mesmo tempo, sentimos que o diretor Eder Santos Jr. queria justamente trazer esse vazio que flutua no interior de Minas Gerais e no próprio cinema. Confesso que tive que me distanciar do filme para trazer algum sentido à tona e passar a compreender a sua proposta de reinvenção estética. Não conhecia a obra do cineasta mineiro, mas, num primeiro momento, tive a sensação de que o filme poderia ser bem mais curto, mas talvez isso invalidaria a abordagem do tempo como próprio epicentro do curta.
Há uma melancolia nas tomadas de Eder e também uma nostalgia antecipada, pois vemos cada imagem, com a constatação de que ela pode sumir a qualquer momento, por mais que, em alguns momentos, ela permaneça na tela por tempo suficiente para refletirmos inclusive sobre o porquê de tanto tempo, como é o caso da imagem de um poste de luz. Passamos a buscar significados diversos para o tal poste, mas como não podemos ter a precisão semântica, esvaziamos o sentido e nos abrimos para a pura e sublime contemplação.
“Cinema” também propõe, através de constantes manipulações imagéticas, uma reflexão acerca das mudanças que a tecnologia trouxe à sétima arte. Assim, sobreposições, fusões, desfoques, grafismos, fades e outros dispositivos se repetem para nos questionar o que é cinema hoje em dia. Volto a minha sensação inicial de que as imagens se esvaziaram. Por mais que entenda alguma das intenções do curta, subjetivamente não foi um filme que me trouxe grandes sensações e me parece que a técnica acaba, de vez em quando, se sobressaindo, em detrimento do objeto cinematográfico. Talvez, as interferências nas imagens não tenham me cativado, mesmo tendo consciência de estarmos diante de um belo investigar cinematográfico.
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