O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

CINEMA PARA LER - Num Piscar de Olhos

“Editar é como fazer uma cirurgia: você já viu algum cirurgião fazer uma operação sentado? Editar também é como cozinhar, e ninguém se senta no fogão para cozinhar. Mas editar é principalmente uma espécie de dança – o filme pronto é como uma dança cristalizada – e onde já se viu um dançarino se sentar para dançar?”

Parceiro frequente de Francis Ford Coppola, inclusive em seu mais recente filme "Tetro", apresentado em Cannes, Walter Murch é um dos editores (de imagem e som) mais reconhecidos internacionalmente. Porém, a sua maior e mais respeitada contribuição à 7ª arte é, sem dúvida, a construção sonora de "Apocalypse Now", pensada de uma forma em que o som vem carregado do teor psicológico dos personagens, e lembrada sempre pelo barulho dos helicópteros mesclados ao do ventilador de teto.

Murch utiliza aqui - e também em outros filmes dos quais participou como, por exemplo, o engenhoso "A Conversação" - o som como elemento narrativo essencial, tão ou até mais importante que a própria imagem. Talvez, seja justamente a escassa abordagem sobre construção sonora, que deixa o leitor de "Num Piscar de Olhos" com o sentimento de que algo faltou. Além disso, o posfácio - acrescentado a esta segunda edição e dedicado à edição digital - é um pouco repetitivo e enfadonho, mesmo porque Walter discorre, no ano de 2001, sobre processos tecnológicos da edição digital que, hoje, já estão ultrapassados.

No entanto, "Num Piscar de Olhos" é leitura essencial para todos que buscam entender um pouco mais da arte cinematográfica e, principalmente, para os que pensam em editar seus próprios filmes. Walter Murch tem uma visão apaixonada do processo de montagem e compartilha com o seu leitor um pouco das suas manias, teorias, metodologia de trabalho e aspirações. Vale um destaque especial para o capítulo "A Regra de Seis", em que Murch escreve sobre os seis critérios que devem ser obedecidos, hierarquicamente, para um corte ideal. É também muito curioso e inquietante o paralelo apresentado, entre a edição de filmes e o piscar de olhos, daí o motivo do título do livro.

Recomendo a leitura, pois assim como um corte cinematográfico clássico, o virar de páginas de "Num Piscar de Olhos" flui de maneira fácil e agradável.

Water Murch e a importância narrativa do som em "Apocalypse Now"

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