O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Pinheirinho

                                              Foto de Danilo J. Santos - Coletivo Cinefusão

Acima, Pinheirinho.

Muitos já devem ter lido sobre pessoas que estiveram lá, ou que moravam lá, e talvez tenham se aproximado do que  foi esse massacre, sim, massacre.

Ouvi isso de um dos companheiros do MST, respondendo à uma outra companheira que dizia que aquilo era um cenário de guerra: "Não, companheira, guerra não, massacre!"

Ter estado em Pinheirinho foi com certeza uma das coisas mais horríveis que já passei.

Cada passo que dava, cadernos de criança pelo chão, livros, roupas, sapatos, bonecas, alimentos.

Um homem disse que a primeira coisa que foi destruída era o espaço onde os moradores faziam suas assembleias.

Não trabalhei muito, não consegui.

A sensação de pisar naquele terreno de terra rachada, fumaça preta das coisas que ainda queimavam, os objetos das pessoas que ainda materializam de alguma forma suas presenças no espaço, era como vagar num grande cemitério.

Enquanto andava sozinho, lembrei de uma mulher que discutiu comigo sobre Pinheirinho e disse que nós - "esquerdistas intelectuais de merda" achávamos "que pobre queria ser salvo", e daí me enviou uma reportagem do jornal da record, algo sobre a população de pinheirinho ter problemas com algum tipo de liderança, dentro da própria ocupação.

Claro, não quero, sequer, procurar alguma razão no argumento de alguém que apoia este tipo de ação. O que acho interessante relatar é que quando fui aos alojamentos e vi a situação das pessoas - de fora, não quis entrar - percebi o quanto o nosso grau de desumanidade avança, não só quando apoiamos atitudes como este massacre, mas também quando junto a perda da capacidade de sonhar, amar, aprofundar nossas relações, pensamentos, perdemos também uma capacidade básica de raciocínio, aquela que nos permite entender que em qualquer tipo de aglomerado, coletivos, alguns tipos - e níveis, pois sonhamos que um dia possamos chegar a um grau muito maior de (r)evolução das capacidades humanas - de problema, na organização humanada, serão normais e correntes. Agora, usar uma mídia que é totalmente convivente ao massacre e mantenedora do status quo é burrice, e o mais alto grau de mesquinhosidade.

O cenário é muito pior, obviamente, do que escrevo e jamais conseguiria exprimir o que é aquilo, e nem como me sinto depois de um único dia lá.

Entre outras coisas, umas das coisas que mais me deixaram catatônico foi a reação de parte da classe média de São José dos Campos, durante o ato com mais de 3 mil pessoas, contra o massacre. Enquanto esperavam passar os manifestantes, alguns buzinavam, uma mulher tirava a mão do carro acenando para que saíssem da frente, entre outras coisas.

 Enfim...

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