Me lembro de dois gatos que tive Na morte de um deles depois de enterrado deitava sobre o túmulo de seu único parceiro Parceiro genérico Como o velho Marx dizia Naquele momento meu gato tinha perdido um tipo de fio de existência que o tornava uma espécie Sem outra referência do que era Quando outro morre somos meu gato sem história sem essência sem com quem compartilhar nossa falta de sentido E aos vivos próximos de serem soprados dessa selvageria que é a vida nos reaproximamos Um dia ainda me pegarei pensando por qual sentido atravessaria oceanos para ver outro de mim sem vida e por que ao contrário não cruzei oceanos para lhe celebrar enquanto existia No meu caso nesta noite morre uma tia minha Meu pai longe de minha mãe que luta pela cova de minha tia Ele se perde na cozinha sem se deixar ver-se perdido Por algum momento chego a pensar se não fora minha mãe que morrera No lugar do café se vê na obrigação de um achocolatado requentado Me oferece um pedaço de panetone Enquanto isso a louça enorme e suja Ele me conta rapidamente da morte de minha tia Resolvo atipicamente em minhas cada vez mais repetidas aproximações da casa deles lhe preparar um café Uma parte de mim chora por minha mãe Mas também por meu pai Começo a lavar a louça também atípico gesto na formação de minha família Minha mãe entra pela porta e diz que não lave mais a louça Eu continuo ela se senta no sofá e conversa com meu pai Não fui habituado a lhe dar com que chamam de forma correta de luto mas naquele momento senti que a louça que lavava soava pelo espaço como um abraço em minha mãe Coragem
à minha mãe
Com esperança de que um dia possamos chamar de fortuna a isso que hoje não passa de hypótese: a vida
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