O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

domingo, 14 de agosto de 2011

Breves notas sobre um cinema-defunto


Ontem, ao assistir à peça "Opera dos Vivos"¹ da Cia do Latão, me surpreendi positivamente sobretudo com tamanha qualidade crítica em quatro experimentos independentes: o "teatro (dialética interrompida)"; o "cinema (alegoria trágica)"; a "música(sociedade do espetáculo)";  a "televisão (nação liquidificada)"².

Como adianto, a crítica ao cinema foi o que mais me impressionou. E o engraçado, é que ela não perece ter se dado durante o segundo ato, onde de fato vemos um filme, mas em seu último ato durante a gravação de um telefilme - o que não é lá grande surpresa, já que os modelos de produção são praticamente os mesmos.

Há um momento em que toda a equipe se cala, e olha para cima a figura do produtor. Acompanham seus passos, sem desviar os olhos, sem piscar, sem se mexer. Alegoria?

Não, definitivamente. O cinema sequer teve a chance de conhecer um "outro mundo", ele desembocou direto no capitalismo e incorporou todo seu modo de produção.

Mas o que mais me incomoda nisto tudo é ver que a atividade crítica no cinema, dele sobre ele, desaparece um pouco a cada dia. A reflexão sobre os meios de se chegar à tela - pc, tv, talvez cinema - se tornam "coisa de anacrônico", agora o que vale são perambulações pós-modernas. O legal é o gênio individual - pós moderno? quem é o anacrônico? Já que tal conceito já houvera sido quase extinto muito antes do ser próprio nascimento.

Conheci, trabalhando com cinema, algumas pessoas que sempre farei questão de ter ao lado, como, é claro, o coletivo, mas ao mesmo tempo foi o ambiente que mais me deu acesso a um número tão grande de imbecis.

O cinema de hoje cumpre uma única função: chegar ao set e cumprir o plano de produção. E, para isso, é necessário formar o maior número de idiotas-técnicos, ou técnicos-idiotas - do assistente de som ao diretor(obedeço aqui à hierarquia).

E, assim, esperamos então algumas semanas em cartaz, os próximos editais e algumas palestras de grandes cineastas-fetiche, para que enfim, os dois mil reais que você gastou por mês para se tornar um estúpido valham a pena.

¹ "Ópera dos vivos", Cia do Latão, em cartaz no CCSP (sexta 19h, sábado 18h e domingo 18h)
² Fragmento retirado do programa da peça.

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