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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Lars Von Trier choca Cannes ao dizer em entrevista que queria ser judeu, mas acha mesmo que é um nazista


THIAGO STIVALETTI 
Colaboração para o UOL, de Cannes


Depois do sombrio “Anticristo”, o dinamarquês Lars Von Trier conseguiu mais uma vez impressionar o público do Festival de Cannes com o novo “Melancolia”. O filme recebeu fortes aplausos no fim da sessão de imprensa - e nenhuma vaia, o que é bastante incomum para Von Trier.

Na coletiva, o diretor estava mais brincalhão do que nunca. “Ainda não sei muito bem. Talvez esse filme seja uma porcaria. É, acho que tem uma grande chance de ser”, disse, fazendo gargalhar os jornalistas.

Dividido em duas partes, “Melancolia” começa na grande festa de casamento de Justine (Kirsten Dunst, a Mary Jane de “Homem-Aranha”). A festa, com muito luxo, foi organizada pela irmã controladora, Claire (Charlotte Gainsbourg, de “Anticristo”).

Ao chegar na mansão para o jantar, Justine olha o céu e vê um ponto vermelho. É o planeta Melancolia, que está se aproximando da Terra. Essa possibilidade do fim do mundo começa a mexer com a cabeça de todos na festa. O elenco ainda tem Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling, Alexander Skarsgard e John Hurt.

Filme pornô
“Não é um filme sobre o fim do mundo, e sim sobre um estado de espírito. Já passei por fases melancólicas na vida. Justine acha que o casamento vai lhe tirar da melancolia, mas isso obviamente não acontece”, explicou Von Trier, para quem o filme tem uma mistura de influências de Tarkovski, Antonioni e Bergman.

"Melancolia", de Lars von Trier, participa do Festival de Cannes 2011 Divulgação
O cineasta, que já ganhou a Palma de Ouro por “Dançando no Escuro” (2000), brincou o tempo todo sobre a fama de maltratar suas atrizes no set.

“Agora, Kirsten e Charlotte vão fazer um filme pornô comigo. Vai se chamar ‘Kirsten e sua irmã’. Falei que desta vez vamos poder conversar muito sobre os personagens, mas elas não querem, pediram um filme bem hardcore. Vai ter muito sexo bacana. E vai ter três ou quatro horas”, brincou. “Kirsten, você prefere falar de Homem-Aranha agora?”

Ao contrário de Nicole Kidman, Charlotte Gainsbourg e Bjork, Kirsten Dunst não parece ter sofrido muito nas mãos de Von Trier. “Conforme o fim do mundo se aproxima, Justine vai ficando mais forte. Lars é o único cineasta que escreve filmes para as mulheres. A intimidade que ele cria no set gera vulnerabilidade e confiança ao mesmo tempo. Hoje tenho um grande amigo.”

Falando demais
Depois de ganhar a Palma de atriz com “Anticristo”, no qual sofreu bastante,  inglesa Charlotte Gainsbourg (filha de Jane Birkin e Serge Gainsbourg) topou repetir a dose com Von Trier.

“No primeiro filme eu não o conhecia muito bem, e agora o conheço um pouco melhor. Ele não responde às minhas perguntas, mas eu gosto disso, ficar um pouco no escuro ao atuar”, explicou a atriz.

Ao final, as brincadeiras de Von Trier foram um pouco longe demais e desagradaram uma parte da imprensa.

Perguntado sobre a cultura alemã nos seus filmes, ele começou de repente a polêmica: “Houve um tempo em que eu queria ser judeu, mas descobri que sou mesmo um nazista. Eu entendo o Hitler. Não é um cara que vocês considerem bonzinho, mas entendo ele... Mas deixe explicar: eu não vivi a Segunda Guerra, e não sou contra os judeus, nem mesmo a Susanne Bier (diretora de ‘Em Um Mundo Melhor’, vencedor do Oscar de filme estrangeiro). Não gosto muito de Israel... Mas enfim, como eu saio dessa frase agora?”.

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