O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Greve! Deveria ser votada?


Republiquei este texto, sobretudo, por conta das infelizes, mas não surpreendentes, declarações do governador de Sâo Paulo sobre a greve dos metroviários. Entre todos os absurdos, o que ainda faz morder os cotovelos é a acusação - não só do governador, mas globo, etc - pelo não cumprimento da ordem judicial que determina como deve ser feita a greve. Os trabalhadores imersos à toda merda-capital, reduzem, equivocado e inevitavelmente, e direcionam toda sua raiva aos grevistas, e buscam possibilidades de acordo com o patrão; e neste último ponto, uma semelhança à situação dos sindicatos, que lutam por reforçar a imagem de esforço pela conciliação, e deixar claro que a briga não é politica:


Greve!   Deveria ser votada?


"[...] as aspirações e as expectativas populares são variadas, contraditórias, frequentemente, divididas entre . uma exigência de liberdade e uma demanda de segurança A função específica da política consiste em articulá-las e conjugá-las por meio de um futuro histórico cujo fim continua incerto."¹

O que é pior? A decisão de um miserável alimentada de sua urgência, impulsionada unidimensionalmente pelo ímpeto, que tem como fim sua sobrevivência? Ou seria a paciência do saciado, contudo consciente de todas as mazelas dos miseráveis - ou a mazela - e, aparentemente, disposto a erradicá-las?  

Quanto tempo dura um miserável? Quanto tempo seus órgãos suportarão a sede, a fome, a dor, o sexo maquinal? 

Quanto tempo suportará o descalabro da alienação que o corrói? 

Quanto tempo suportará ter sua subjetividade determinada por um sistema econômico?

Hitler transformou uma massa faminta, impetuosa e confusa em nazistas; o governo Lula potencializou o período anti-crítico, que semelhante a ele próprio, se coloca como fim da história. Fundou o operário pós-moderno. ( À guisa de embasamento e provocação: Joseph Goebels, Ministro da Propaganda na Alemanha nazista, dizia que não se poderia dominar o povo com/através de argumentos, pois argumentos poderiam ser confrontados no nível do discurso, haveria de atingir onde não pudessem concatenar lógicas de pensamento, ou seja em suas "emoções") 

O governo Lula potencializou e estendeu a vida do miserável; viverá miseravelmente, durante muito tempo.

Como então deixar nas mãos do "consciente paciente da miséria do mundo" o futuro incerto do miserável?

Quanto tempo demora para um sonho ser totalmente destruído? Quanto tempo levará para morrer o sonho do trabalhador que crê uma dia poder escrever uma poesia?


Quanto tempo duram os sem mãe, com filho(s)?

Por quanto tempo permaneceremos "tolos e pobres"²?

A greve representa o rompimento com tudo aquilo que possibilita essas perguntas. Uma greve deve existir uma única vez. Não deve ser como uma festinha que ocorre todo ano. Pois os miseráveis não podem esperar o mesmo tempo que os "inquietos conscientes da miséria". A greve deve atingir o ponto nevrálgico do que vai contra. Deve nascer do estomago ferido do faminto. Deve romper com a caneta do burocrata.

A greve não é um movimento possível, é uma reação prática, uma pronta-resposta, e se objetiva, efetiva e determinante para o definitivo fim de um mal.

Uma greve, sequer deveria ser votada, ela se funda e se auto-explica por uma única razão: um patrão. E onde houver um, eu apoio.

¹ "Os irrdutíveis", Daniel Bensaïd
² Trecho do Discurso de Steve Jobs

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