O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Cinefusão na 34ª Mostra - "Turnê"


“Turnê” é o 4º filme dirigido por Mathieu Amalric, mais conhecido pelo seu trabalho como ator (“A Questão Humana”, “O Escafrando e a Borboleta”, “Munique”, “Um Conto de Natal”). Premiado no último Festival de Cannes pela melhor direção, Mathieu também é o protagonista de seu filme, interpretando Joachim, um produtor de televisão falido, que monta um show itinerante de strippers americanas e resolve levá-las para uma pequena turnê pela França.

Logo no início de “Turnê”, Amalric já demonstra sua habilidade cinematográfica colocando o espectador como voyeur em um camarim de cabaré. Marcado por uma decupagem precisa e uma câmera que sempre se move para compensar a movimentação de algum ator, o filme francês impressiona mais pela qualidade de suas imagens e maneira como os cortes são conduzidos do que pela narrativa propriamente dita. Porém, a fragilidade do roteiro é compensada pela atuação de quatro não atrizes (strippers na vida real também) e, mais uma vez, pela precisa composição do personagem que Mathieu Amalric interpreta.

Joachim luta para sobreviver no ilusório mundo do show business, dominado por futilidades e jogo de aparências. Porém, o ritmo alucinante da vida de produtor nos EUA faz com que não consiga ter uma relação de proximidade com os seus filhos, que vivem na França. Assim, a turnê representa também a oportunidade de se aproximar mais de sua família, mas a sua inabilidade para relações afetivas não permite a concretização disso. Joaquim é um escravo do seu próprio show que, como diz o final do filme, não pode parar. O sonho americano persiste, por mais melancólico que isso possa soar. 

Talvez, os melhores momentos do filme sejam aqueles poucos em que Joaquim interage com pessoas comuns, fora do seu âmbito pessoal. É o caso, por exemplo, de uma conversa que tem com uma frentista, que vive à sua maneira o tal sonho americano, mesmo que dentro de uma cabine de posto de gasolina. Em outro trecho, uma caixa de supermercado implora a Joaquim que ele a acompanhe ao fundo do mercado para que ela demonstre um número em que mostra os seios. É aí que o show se revela como uma válvula de escape de uma sociedade alienadora, que faz, por exemplo, que um filme seja realizado, mas que uma das condições para isso, seja a evidente propaganda do Hotel Mercure, em duas cenas. É triste, mas o show continua.

2 comentários:

  1. Melancolicamente apoteótico o final da análise. Parabéns

    ResponderExcluir
  2. ei, tu comentou no meu blog..

    add ai no msn

    alexandre__zamboni@hotmail.com

    http://alexandre-zamboni.blogspot.com/

    beijos!

    ResponderExcluir