O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Cinefusão na 34ª Mostra - "Machete" e a grife de Robert Rodriguez


Assistir a um Robert Rodriguez (utilizo aqui a metonímia, pois o realizador tornou-se uma espécie de grife com características próprias) tornou-se certeza de que o espectador irá se deparar com muito sangue, ação e cenas engraçadas de tão absurdas. Foi com essa combinação que Rodriguez conquistou uma gama de seguidores.

Dessa vez, com “Machete”, Robert Rodriguez manteve os elementos que o transformaram numa marca e buscou colocar uma clara crítica social e política em seu filme. É aí que podemos estabelecer uma comparação entre “Machete” e “Tropa de Elite 2”, pois ambos colocam o “sistema” como maior inimigo da sociedade. Porém, o filme norte americano, consegue, por um lado, ir além do “Tropa”, pois este resume o tal “sistema” ao duo de corrupção política e militar, enquanto aquele apresenta a uma polícia de fronteira corrupta, diretamente ligada aos políticos também corruptos, mas sem esquecer de como opera verdadeiramente o “sistema”, através de uma perversa luta de classes.

Por mais que essa questão seja tocada de forma superficial, sem aprofundamento conceitual, “Machete” traz uma guerrilheira mexicana chamada Shé, em clara alusão ao cubano Che Guevara, e traz uma classe operária que é convocada para uma revolução que efetivamente acontece. Além disso, “Machete” coloca na mesa outras cartas que pertencem a esse jogo chamado sistema. A igreja, aliada das classes dominantes, não escapa das críticas e do deboche de Rodriguez que chega inclusive a crucificar um padre dentro da própria igreja. O narcotráfico mexicano também surge como aliado dos políticos dominantes, ajudando no financiamento de campanha. E a mídia sensacionalista e burguesa também não escapa ilesa. Por fim, Robert Rodriguez mostra, mesmo que de forma sutil, o que rege o capitalismo, pois todo esse “sistema” direciona as suas ações em função do lucro maior possível. Ao mesmo tempo em que isso é revelado para o espectador, os seguranças de da mansão do Senador McLaughlin, interpretado brilhantemente por Robert de Niro, começam a perceber que o patrão os explora.

Talvez, por esses motivos, “Machete” tenha uma proposta mais abrangente de crítica do que o “Tropa 2”. No entanto, sai com a impressão de que os elementos dramáticos e narrativos do filme do Padilha acabam sendo mais eficientes, pois Robert Rodriguez ainda é uma grife e por isso o seu público vai à sala não para entender como funciona o esquema criminoso nas fronteiras entre México e EUA, mas sim para aplaudir quando um policial opera a repressão atirando na barriga de uma grávida. Me senti um pouco desconfortável, no cinema, com toda a comoção rasteira que o filme provoca, entre palmas, risos e gritos. Deixo a sugestão para que o próximo filme de Rodriguez não tenha uma gota de sangue.  Nem sempre se tornar uma marca é saudável, pois você pode virar instrumento daquilo que você mesmo critica: mais um elemento para gerar lucro.

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