Assistir a um Robert Rodriguez (utilizo aqui a
metonímia, pois o realizador tornou-se uma espécie de grife com características
próprias) tornou-se certeza de que o espectador irá se deparar com muito
sangue, ação e cenas engraçadas de tão absurdas. Foi com essa combinação que
Rodriguez conquistou uma gama de seguidores.
Dessa vez, com “Machete”, Robert Rodriguez manteve
os elementos que o transformaram numa marca e buscou colocar uma clara crítica
social e política em seu filme. É aí que podemos estabelecer uma comparação
entre “Machete” e “Tropa de Elite 2”, pois ambos colocam o “sistema” como maior
inimigo da sociedade. Porém, o filme norte americano, consegue, por um lado, ir
além do “Tropa”, pois este resume o tal “sistema” ao duo de corrupção política
e militar, enquanto aquele apresenta a uma polícia de fronteira corrupta,
diretamente ligada aos políticos também corruptos, mas sem esquecer de como
opera verdadeiramente o “sistema”, através de uma perversa luta de classes.
Por mais que essa questão seja tocada de forma
superficial, sem aprofundamento conceitual, “Machete” traz uma guerrilheira
mexicana chamada Shé, em clara alusão ao cubano Che Guevara, e traz uma classe
operária que é convocada para uma revolução que efetivamente acontece. Além
disso, “Machete” coloca na mesa outras cartas que pertencem a esse jogo chamado
sistema. A igreja, aliada das classes dominantes, não escapa das críticas e do
deboche de Rodriguez que chega inclusive a crucificar um padre dentro da
própria igreja. O narcotráfico mexicano também surge como aliado dos políticos
dominantes, ajudando no financiamento de campanha. E a mídia sensacionalista e
burguesa também não escapa ilesa. Por fim, Robert Rodriguez mostra, mesmo que
de forma sutil, o que rege o capitalismo, pois todo esse “sistema” direciona as
suas ações em função do lucro maior possível. Ao mesmo tempo em que isso é
revelado para o espectador, os seguranças de da mansão do Senador McLaughlin,
interpretado brilhantemente por Robert de Niro, começam a perceber que o patrão
os explora.
Talvez, por esses motivos, “Machete” tenha uma
proposta mais abrangente de crítica do que o “Tropa 2”. No entanto, sai com a
impressão de que os elementos dramáticos e narrativos do filme do Padilha
acabam sendo mais eficientes, pois Robert Rodriguez ainda é uma grife e por
isso o seu público vai à sala não para entender como funciona o esquema
criminoso nas fronteiras entre México e EUA, mas sim para aplaudir quando um policial
opera a repressão atirando na barriga de uma grávida. Me senti um pouco
desconfortável, no cinema, com toda a comoção rasteira que o filme provoca,
entre palmas, risos e gritos. Deixo a sugestão para que o próximo filme de
Rodriguez não tenha uma gota de sangue.
Nem sempre se tornar uma marca é saudável, pois você pode virar
instrumento daquilo que você mesmo critica: mais um elemento para gerar lucro.
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