O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

CINEFUSÃO NA 34ª MOSTRA - Cópia Fiel. A subjetiva inanimada de Abbas Kiarostami


Talvez "Cópia fiel", dirigido por Abbas Kiarostami, seja o filme - para mim - que mais carrega o rigor da velha máxima de “forma e conteúdo”. O filme discute o que é ser original?. Não seria a cópia algo tão belo quanto o seu "original"? Ou ainda o que é a cópia, no caso de uma obra de arte, quando o original não é o primeiro quadro a ser pintado, mas sim o sorriso do qual o artista observou para reproduzir. Como então pautar a obra de arte pela originalidade? Estaria então nosso entendimento pelo conceito de original desgastado, ultrapassado, assim como nosso olhar?  É disso que o filme trata.

Não se trata mais de esperar - ou nunca se tratou - do artista toda a pulsão que desejamos sentir de qualquer obra de arte, pelo contrário, é o nosso olhar que deve nos possibilitar isso. O filme não traz imagens prontas e definitivamente não dita ao espectador o que ele deve sentir, é exatamente o contrário. Talvez a única, digamos assim ideia premeditada é a de forma e conteúdo dialogarem simplesmente durante todo o filme, vigorosamente. Ou seja, a ideia de cópia está presente do inicio ao fim, seja nos planos compostos por dois prédios bastantes parecidos correndo sobre o vidro fronteiro de um carro, ou ainda pelos personagens principais que se tornam espelhos um do outro.

Ainda mais interessante é o como a camera lida com os momentos "solitários" de cada personagem. Talvez, as mais belas imagens do filme sejam os momentos, em que sozinhos, os personagens olham para a camera enquanto lavam as mãos ou se arrumam olhando no espelho, e ela – a camera – está representando uma subjetiva do inanimado, da qual personagens se enxergam já como cópias que serão impressas, nesse caso num cartão de memória – tratando-se de um filme feito por uma camera digital -. Eles estão olhando para si próprios, enxergando suas imagens refletidas e é a única forma em que, fisicamente, podem ver a si mesmos, a partir de um reflexo ou ainda uma cópia.

3 comentários:

  1. Um belo jogo de narrativa e dialogos. E a atuação de ambos é espetacular.

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  2. Eu achei que o filme poderia ser um pouco mais curto. Fica um pouco redundante. Porém, acho que vale a pena ser assistido, porque apesar do que ele mesmo diz, é um filme bastante "original".

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  3. Achei o filme maravilhoso. Ia escrever sobre "Cópia Fiel" também, mas nosso ponto de vista é bastante parecido. Talvez, mais pro final da mostra eu retorno ao meu texto se achar que acrescente algo. Ótima análise. abs

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