O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Atuação crítica: A utopia segundo Chico de Oliveira


Trecho da entrevista com Chico de Oliveira para o Livro "Atuação Crítica", de Sergio de Carvalho e outros colaboradores.


"[...] Na verdade, o que eu estou querendo dizer é o seguinte: no mundo da mercadoria, a pior coisa que pode acontecer a alguém é não ser mercadoria. Não se pode fazer uma análise histórico-sociológica rigorosa que seja despregada do tempo, como se nós existíssemos sem a racionalidade burguesa. Isto seria uma forma de pensamento idealista. Você tem que sentar a bunda e comparar. Se você foi criado pela racionalidade burguesa ocidental, você está imerso nela. É ilusão pensar que a nossa sociabilidade é herdada da tribalidade indígena ou ancestralidade africana. Os elementos que persistiram dessa sociabilidade não estruturam a forma de relação social. Agora, se as categorias de racionalidade burguesa não foram socialmente  construídas no seu interior, esse é o pior pesadelo que pode acontecer. O segundo passo, no qual é preciso prestar atenção, é verificar que não se pode mais alcançar estas categorias. É mostrar que toda vez que se tenta realizar o projeto burguês nas condições em que a periferia foi formada, isso dá em totalitarismo. Numa sociedade que não tem autonomia, que não tem mercado, quando se proclama "a regra agora é a do mercado", tem início o totalitarismo. E por isso se coloca o projeto utópico: a sua obrigação é, por via da racionalidade burguesa, ultrapassá-la. A utopia passa a ser o movimento de dizer que toda vez que a burguesia tenta atender aos interesses de todo mundo  - girando em torno de categorias como lucro, competitividade e iniciativa individual - isso não vai ser possível, e e ela vai se tornar totalitária. Porque as condições concretas da sociedade fazem com que isso seja uma operação de destruição e não de criação. Mas não se dá o segundo passo sem o primeiro. Sem explorar as virtualidades criadas pelo campo do capitalismo, você não tem nem pensamento utópico. Você precisa antes desmontar. Uma coisa é ter pensamento utópico, a outra coisa é ser idealista e apenas dizer "vamos fazer uma mundo melhor". A utopia é sempre uma crítica radical."

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