O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

“Se uma sociedade é dividida em classes por que o teatro tem de fingir que somos uma comunhão?"


"E a mesma crise aconteceu com o nosso grupo. Parte dos atores achava que a peça estava marcando demais uma posição crítica contra uma certa fase do pensamento tropicalista (esse que acredita que o capitalismo emancipa). E outra parte do grupo defendia que precisávamos ironizar com mais força essa visão de mundo (a do aderir-criticando e criticar-aderindo) que se tornou vitoriosa no nosso mundinho da cultura. "


“Se uma sociedade é dividida em classes por que o teatro tem de fingir que somos uma comunhão?"





Começei por um trecho do encenador e dramaturgo da "Cia do Latão", que me parece exprimir de maneira categórica a comum dúvida em relação ao teatro e estética política, ou o "teatro como poética política": Deveria a arte "ser politica"?

Não é atoa que ser e politico estão postos entre aspas. Se não mais reduzíssemos política a uma atividade particular de estado, e ainda mais vulgarmente, relacionada, única e simplesmente, às atividades partidárias e/ou burocráticas, obviamente resolveria o problema, já que toda e qualquer atividade em sociedade estaria diretamente relacionada à ela.  

"Ser", de alguma forma, Piscator, Brecht, Augusto Boal, e ainda mais contemporaneamente falando, a cia do latão, representada pela figura de Sergio Carvalho, ou os grupos de teatro atuais que levam a prática brechtiana, ou seja o teatro dialético, nos mostram que não se trata, necessariamente, de "ser politico" mas que ao se  trabalhar artisticamente, seja qual for a escolha estética, há um momento em que a estética não se separa da politica, mas pelo contrário, num processo dialético, compõem o ponto nevrálgico de estruturação dramática, de encenação.

Como se no teatro, a política se tornasse linguagem e linguagem politica, mas se negando e finalmente constituindo um síntese que seria novamente negada. E não se trata, é claro, do sentido alienado da política, talvez pudéssemos ainda dizer que esses grupos retomam o sentido politico próximo de sua significação primeva¹. 

Claro, na citação de Sergio Carvalho há claramente uma relação direta com a vida politica, e o sistema que deturpa e mantém o conceito atual de política - o capitalismo. Contudo, ainda que também um instrumento de debate e embate sobre a sociedade, a politica no teatro se torna poética e crítica, plasticamente. Que ao mesmo tempo não espera a revolução pós-espetáculo, mas que não deixa de desejá-la e fabricar esses sonhos, dentro dessa troca ativa, cujo qual público e encenação se tornam fruto de um único e complexo processo.

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