Ontem, ao assistir à peça "Opera dos Vivos"¹ da Cia do Latão, me surpreendi positivamente sobretudo com tamanha qualidade crítica em quatro experimentos independentes: o "teatro (dialética interrompida)"; o "cinema (alegoria trágica)"; a "música(sociedade do espetáculo)"; a "televisão (nação liquidificada)"².
Como adianto, a crítica ao cinema foi o que mais me impressionou. E o engraçado, é que ela não perece ter se dado durante o segundo ato, onde de fato vemos um filme, mas em seu último ato durante a gravação de um telefilme - o que não é lá grande surpresa, já que os modelos de produção são praticamente os mesmos.
Há um momento em que toda a equipe se cala, e olha para cima a figura do produtor. Acompanham seus passos, sem desviar os olhos, sem piscar, sem se mexer. Alegoria?
Não, definitivamente. O cinema sequer teve a chance de conhecer um "outro mundo", ele desembocou direto no capitalismo e incorporou todo seu modo de produção.
Mas o que mais me incomoda nisto tudo é ver que a atividade crítica no cinema, dele sobre ele, desaparece um pouco a cada dia. A reflexão sobre os meios de se chegar à tela - pc, tv, talvez cinema - se tornam "coisa de anacrônico", agora o que vale são perambulações pós-modernas. O legal é o gênio individual - pós moderno? quem é o anacrônico? Já que tal conceito já houvera sido quase extinto muito antes do ser próprio nascimento.
Conheci, trabalhando com cinema, algumas pessoas que sempre farei questão de ter ao lado, como, é claro, o coletivo, mas ao mesmo tempo foi o ambiente que mais me deu acesso a um número tão grande de imbecis.
O cinema de hoje cumpre uma única função: chegar ao set e cumprir o plano de produção. E, para isso, é necessário formar o maior número de idiotas-técnicos, ou técnicos-idiotas - do assistente de som ao diretor(obedeço aqui à hierarquia).
E, assim, esperamos então algumas semanas em cartaz, os próximos editais e algumas palestras de grandes cineastas-fetiche, para que enfim, os dois mil reais que você gastou por mês para se tornar um estúpido valham a pena.
¹ "Ópera dos vivos", Cia do Latão, em cartaz no CCSP (sexta 19h, sábado 18h e domingo 18h)
² Fragmento retirado do programa da peça.
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