O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

"Eu Não Sou Morte" , Curta Metragem do Coletivo Cinefusão, em apoio ao Movimento dos Trabalhadores da Cultura


[Assista em 720hd]

Este curta foi feito, numa parceria com a Traço Livre Comunicação, em apoio ao Movimento dos Trabalhadores da Cultura (http://www.culturaja.com/).

Além, é claro, do curta ter uma intenção, a priori, de engrossar o apoio ao movimento - chamando ainda mais a atenção para a causa da cultura, e o de como ela vem sendo jogada às traças, sobretudo pelo poder público -, há também uma sincera vontade de agregar o cinema a essa luta, já que ele, enquanto movimento, coletivo, é evidente não representa de fato uma organização contundente. Apesar do surgimento de alguns coletivos de audiovisual, ainda é pouco aparente a divisão entre comercial e não-comercial - se é que sejam esses os melhores termos -, como, por exemplo, se vê claramente na relação teatro de grupo e "teatrão".

Além disso,  sob o mesmo registro de importância, há alguns critérios referentes à estética, que nós sempre costumamos levantar em discussão, a fim de expor o processo do filme. 

No que diz respeito à montagem, foi trabalhado desde o inicio, enquanto se assistia o material, um conceito de certo movimento que o filme viria a ter. Então, chegamos a ideia de que cada imagem, ou cada plano levaria ao seguinte, através de gestos, movimentos de corpos, automóveis, olhares. Porém, essa relação se estabeleceria a partir  de imagens que não teriam sido captadas necessariamente com este fim, já que isso seria impossível com única câmera durante uma manifestação. Há uma cadência e diálogo intenso entre os planos, mas que não se trata de uma construção realista e de cuidado com a continuidade por exemplo, não por desleixo, mas por opção estética. 

A ideia de distanciamento também foi o tempo todo pensada, até mesmo por uma possível carga emotiva  sem camadas, onde pudéssemos imprimir nosso olhar sobre o momento, além de outras complexidades do próprio movimento. E, apesar da tentativa em alguns momentos de distanciamento, as próprias imagens dos trabalhadores, por exemplo, com as tampas de privada, já eram por si só algo que levava a ele. Além disso, a própria montagem e a fotografia, que por vezes pareciam tentar revelar algum personagem singular, acabavam levando a outras imagens e personagens, deixando claro - se assim conseguimos - a não-existência de um herói, mas de um grande coletivo composto de diversos indivíduos  complexos, de semelhante importância e necessidade para todo aquele movimento. 

Na fotografia, principalmente num ato como esse, não há tanto planejamento, e no caso desse curta foi exatamente esse não-planejamento que deu unidade ao filme: regular exposição, foco, enquadramento, durante a própria filmagem. Por ter sido captado com uma câmera muito usada no mundo todo, hoje em dia   - que, inclusive Vincent Moon chamou de câmera da globalização - há, muitas vezes, em nossos filmes, uma vontade muito grande de quebrar ou subverter a imagem dessa câmera, que acaba tirando a singularidade de cada filme. Nem sempre conseguimos, e nem sei dizer se neste último resultado, que subimos para o youtube, chegamos a isso, já que o próprio processo de subir um vídeo em alta definição para a internet passa por algumas modificações como, por exemplo, o fato do vídeo estar disponível no máximo na visualização  720HD, sendo que sua origem é 1080HD. Claro que isso tem relação com o não pagamento de contas vips nesse sites e, portanto, termos um canal limitado.

Uma última e breve reflexão é que, como podem ver, não há créditos, tanto para quem trabalhou no vídeo, no ato, ou no caso do poema na cartela inicial, que é um trecho da obra "A Rosa do Povo", de Carlos Drummond de Andrade. A ideia é que forma e conteúdo dialoguem intrinsecamente, e não faria sentido com tal conteúdo e forma proposta, neste filme, cristalizar nenhuma "única individualidade", mesmo aquela passível de direito autoral - apesar de poder cair em contradição, já que no texto eu acabo dando os créditos do poema ao autor. Paciência. 

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