Não é incomum referências elogiosas à Globo News. Tido como o canal reservado aos bem-pensantes, intelectuais e democratas moderados. A moderação aqui refere-se à ideia de que a democracia representativa é o cúmulo de igualdade política alcançável pelo homem. Para além disso, é utopia. A diferença da Globo News em relação aos canais abertos é uma: a quantidade de informação. Do ponto de vista qualitativo, a não ser pela presença de "pensadores ilustres", e de uma maquiagem mais reflexiva, não há a menor diferença. A ausência de qualquer distanciamento reflexivo no jornalismo do canal aberto sufoca a consciência das massas, impondo as notícias em bloco, imprimindo-lhes o molde de um moralismo grotesco, anti-histórico, e autoritário - porém disfarçado na confusão informacional. Desculpa-se aos trabalhadores o fato de serem domesticados sem notar. Pior mesmo são as elites pensadoras da classe-média, que, apesar de acharem-se na crista da onda do tempo histórico, reproduzem o mesmo discurso apenas de forma mais requintada.
O privilégio da Globo News é fazer ver a essência do jornalismo global sem o disfarce da seriedade irônica de um William Bonner, que, em todo caso, não deixa de ser ridículo: mete a pose de democrata acima de qualquer suspeita num dos países mais desiguais do mundo - cínico ou louco? Enfim, salta aos olhos o pressuposto ideológico por trás do bom-senso e da máscara da imparcialidade: os problemas sociais e políticos são despojados de sua essência histórica, reduzidos à esfera moral, e totalmente distantes de análises sistemáticas. A sociedade não é conduzida por uma lógica materialmente determinada no tempo, ou seja: não existe uma totalidade concreta, e sim uma... reunião aleatória de indivíduos! Uma espécie de "contrato social"!
Problemas que manifestam um conteúdo social emergente, uma carga de desigualdade histórica absolutamente inegável, como, por exemplo, o tráfico de drogas nos morros do Rio de Janeiro, são reduzidos a mero problema de caráter, à natureza diabólica e maligna dos "sujeitos" que praticam o "crime". Interessante como a pretensão de imparcialidade e de bom-senso da Globo esconde um atraso vergonhoso, traduzindo em forma modernizada um conteúdo histórico arcáico. Acham-se no alto da correção, e reproduzem - como papagaios, caixa de ressonância, cordeirinhos idiotinhas (o nosso "complexo de vira-lata", como diria Nelson Rodrigues) -, tudo aquilo que é dito na grande Democracia do Ocidente. De um ponto de vista de classe, há um repudio subliminar e uma vergonha indisfarçável por parte da Rede Globo em relação a pobreza e a feição miserável do povo brasileiro. "Criança Esperança" serve para constar, aos olhos do mundo, como caridade daqueles que tudo podem - modo de se diferenciar também precisamente daqueles para quem fazem a caridade.
Assim, o governo inglês condenou os "marginais" (isto é, estudantes e desempregados) que sairam às ruas para protestar. Os repórteres da Globo News, claro, cobriram os acontecimentos reproduzindo as mesmas declarações do corrompido Estado do Reino Unido. Numa democracia tão perfeita e igualitária como a inglesa, teriam os jovens motivo para questionar? Enfim, no link abaixo, o sociólogo Silvio Caccia Bava, de maneira bem polida, com um pouco mais de inteligência e senso histórico que os repórteres da Globo News, assoprou a ferida a ponto de incomodar o moralismo burguês desses urubus disfarçados de democratas. Vale a pena assistir.
(por dificuldade em fazer o download, posto o endereço para que vejam o vídeo direto no youtube)
http://www.youtube.com/watch?v=HI1YSPHVeIA&feature=youtu.be
Nenhum comentário:
Postar um comentário