O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

IMPERDÍVEL - Retrospectiva da obra do cineasta José Eduardo Belmonte


Vitrine Filmes e Belas Artes apresentam debate e obra completa do diretor

De 10 a 16 de dezembro, o público terá a oportunidade de conferir a obra completa de José Eduardo Belmonte, diretor de Meu Mundo Em Perigo, que estreia dia 10 de dezembro nos cinemas. Durante a retrospectiva, serão exibidos os longas Se Nada Mais Der Certo, A Concepção e Subterrâneos, ainda inédito no circuito comercial e também os cinco curtas do cineasta. Belmonte é formado em cinema pela Universidade de Brasília, onde teve aulas com Nelson Pereira dos Santos, com quem trabalhou, e Wladimir Carvalho, dentre outros. Seus cinco curtas e quatro longas-metragens somam aproximadamente sessenta prêmios nos principais festivais do país.

SERVIÇO
Retrospectiva José Eduardo Belmonte
Data: 10 a 16 de dezembro
Horário: 18h30
Local: Belas Artes - Rua Consolação, 2423 
Preço do ingresso: R$18,00 (inteira) e R$ 9,00 (meia)
Sala 4 – Aleijadinho

"Meu Mundo em Perigo"
Data: em cartaz a partir de 10 de dezembro
Horário: 14:30; 16:30 e 20:40h
Local: Belas Artes - Rua Consolação, 2423 - Consolação
Preço do ingresso: R$18,00 (inteira) e R$ 9,00 (meia)
Sala 4 – Aleijadinho

PROGRAMAÇÃO RETROSPECTIVA JOSÉ EDUARDO BELMONTE
10/12 – sexta-feira: "A Concepção"
11/12 - sábado: "Subterrâneos"
12/12 - domingo: Seleção de Curtas
13/12 – segunda-feira: "Se Nada Mais Der Certo"
14/12 – terça-feira: "A Concepção"
15/12 – quarta-feira: "Se Nada Mais Der Certo"
16/12 – quinta-feira: Seleção de Curtas
*Todas as sessões serão realizadas sempre as 18h30.


LONGAS
SE NADA MAIS DER CERTO – longa-metragem
2008, ficção, 35mm, 120 minutos.
“Se nada mais der certo” mostra uma classe média achatada, num país cujo crescimento nos últimos anos ficou aquém do esperado. Léo (Cauã Reymond), um jornalista falido de cerca 30 anos, conhece Marcin (Caroline Abras), um tipo ambíguo e frequentador de “bocas”, que o apresenta a Wilson (João Miguel), prestes a ser um taxista sem táxi, pois não consegue obter o mínimo de dinheiro para não perdê-lo. Os três se unem para realizar um pequeno golpe que acaba sendo bem sucedido e surge uma forte relação de afeto entre eles. A partir daí, as oportunidades aparecem e, quase sem perceber, Léo se envolve numa vida criminosa.

MEU MUNDO EM PERIGO – longa-metragem
2007, ficção, 35 mm, 96 minutos.
Elias vê seu mundo ameaçado quando sua ex-mulher, uma junkie em recuperação, pede a guarda de seu filho. Desesperado, após matar um homem em um acidente de trânsito, ele se esconde em um hotel decadente no Centro de São Paulo. Lá, ele conhece uma garota que também foge de seus problemas familiares. Juntos, eles vão tentar descobrir um novo sentido para suas vidas.

A CONCEPÇÃO – longa-metragem
2005, ficção, 35mm, 90 minutos.
Alex, Lino e Liz são filhos de diplomatas que vivem juntos em Brasília num apartamento vazio, sem os pais, e cheio de quinquilharias globalizadas. Trocam afetos variados alheios ao mundo. Entediados, tentam viver cada dia como se fosse único. O processo radicaliza quando X, uma pessoa sem nome e sem passado, entra na casa e propõe ir sem freios na idéia de viver apenas um dia. Pra isso propõe um falso movimento chamado Concepcionismo, que consiste em morte ao ego, ser tudo de todas as maneiras, abolir o dinheiro entre outras coisas, seguir o caminho do excesso, nem que para isso seja necessário drogas, documentos falsos, total despudor. O mundo seria um grande teatro e o concepcionista um criador de personagens que duram apenas 24 horas.

SUBTERRÂNEOS – longa-metragem
2003, 35mm, ficção, 86 minutos.
Breno, sindicalista que abandona o trabalho para escrever um livro sobre o Conic – centro comercial de Brasília povoado por prostituas, evangélicos e travestis. Durante três dias, Breno percorre os corredores do local, onde encontra figuras como Ângela, que busca desesperadamente uma solução para sua vida e Giovani, um italiano que está gravando um documentário sobre o Conic.

CURTAS

50 ANOS EM 5 – curta-metragem
2010, 35mm, ficção, 8 minutos.
Homem de 50 anos que tem por habito ficar parado na faixa do segurança pensativo, se descobre um dia apaixonado. Todo dia a mulher, mais nova, que ele está apaixonado, atravessa o eixão ou por cima, na pista, ou por baixo, pela passagem subterrânea. O que não muda é que ela passa sempre no mesmo horário. Daqui a cinco minutos, depois da sua descoberta de paixão. Sua passagem não dura mais que 50 segundos. Nesse tempo de espera, o homem vai lembrar dos seus amores e frustrações.

UM TRAILER AMERICANO – curta-metragem
2002, 35mm, ficção, 13 minutos.
O trailer onde moram Nádia, Flores e Mustang quebrou diante de um drive-in e eles nunca o consertam. Ficam falando sobre amenidades, a vida, e vêem os filmes americanos que passam no cinema em frente. Sem perceber, adoram tudo que é americano. Amam-se, mas estão em crise e sentem uma preguiça imensa pelo universo a suas voltas. A história é contada como um trailer de cinema, sem um tempo linear.

DEZ DIAS FELIZES – curta-metragem
2002, 35mm, ficção, 20 minutos.
Casal de jovens namorados, na cidade de Brasília, vão fazer um aborto. No caminho, eles sentem medo, angústia, tristeza e se lembram de momentos felizes que passaram juntos. E se reencontram 10 anos depois.

TEPÊ – curta-metragem
1999, 35mm, ficção, 17 minutos.
Noite de chuva em Brasília. Beto, um ateu convicto, depois de beber umas e outras com os amigos no bar, pega um táxi e inicia uma conversa bem humorada com o taxista Tepê, um senhor bonachão. Em meio ao temporal os dois passam um susto e Beto agradece a Deus. Tepê aproveita e ironiza a falta de fé de Beto e mostra saber tudo sobre sua vida: o que ele fez e qual será seu destino.

5 FILMES ESTRANGEIROS – curta-metragem
1997, 35mm, ficção, 14 minutos.
Um nepalês sociopata, um casal francês em crise, um brasileiro maníaco, paraguaios em festas e artistas africanos em turnê se cruzam num dia fatal.

SOBRE JOSÉ EDUARDO BELMONTE

Fonte:  Cinnamon Comunicação

José Eduardo Belmonte é formado em cinema pela Universidade de Brasília, onde teve aulas com Nelson Pereira dos Santos (com quem trabalhou) e Wladimir Carvalho, entre outros.  Fez cinco curtas e quatro longas-metragens, que somam aproximadamente sessenta prêmios nos principais festivais do país. Realizou num esquema de guerrilha seu primeiro longa, "Subterrâneos", ainda inédito no circuito comercial. Seu segundo longa, "A Concepção", foi produzido pela Olhos de Cão, produtora de "Amarelo Manga" e  "Prisioneiro da Grade de Ferro". O filme foi lançado comercialmente no Brasil em 2006.

No mesmo ano, Belmonte filmou seu terceiro longa-metragem, "Meu mundo em perigo", na cidade de São Paulo. Seu quarto longa-metragem, também filmado em São Paulo é "Se nada mais der certo", que com seu curto tempo de vida já arrebatou vários prêmios, inclusive internacionais. Sobre a obra do realizador segue um texto do critico Carlos Alberto Mattos feito para uma retrospectiva dos seus curtas no festival Luso-brasileiro de Santa Maria da Feira, Portugal:

"José Eduardo Belmonte lida com a matéria bruta do cinema: rupturas amorosas, violência do cotidiano, acidentes de automóvel, corpos jovens que se agitam numa teia de palavras e músicas, citações cinematográficas, perigo de morte rondando nas esquinas e banheiros de uma cidade fantasmagórica.

Cinco curtas e um longa-metragem já bastam para revelar um autor com universo próprio e linguagem aberta para as indagações contemporâneas. A brutalidade de seus ícones, somada a uma concepção de tempo invulgar (ação física, memória e delírio dançam na mesma pista), liga seu nome a uma tradição de invenção que se enraíza no chamado Cinema Marginal brasileiro, praticado na década de 1970. Um cinema onde o lírico e o grotesco caminhavam de mãos dadas (ambas sangrando...) por avenidas e descampados que desejavam esvaziar a alma do espectador para mobiliá-la à sua maneira.

Essa herança se manifesta com maior vigor nos seus filmes “anárquicos”: na edição selvagem de 5 Filmes Estrangeiros ou nas referências de Um Trailer Americano aos filmes de André Luiz Oliveira, ele próprio surgindo como o diretor-dentro-do-filme. Mas também nos seus filmes “românticos” vamos encontrar a semente da transgressão, seja na quebra da linearidade narrativa, seja nos blocos imensos de tempo extra-fílmico que organizam o destino inconcluso de suas personagens.

Belmonte quer dizer-nos muitas coisas no espaço entre as imagens, assim como no vão aberto entre seus filmes. O conflito básico de Três, curta seminal da época da universidade, parece encontrar uma solução conciliadora em Um Trailer Americano, assim como Dez Dias Felizes ecoa situações e dilemas daquele primeiro filme – a angústia no canteiro central de uma auto-estrada, a memória jubilosa de um casal atirando cartas de baralho para o alto diante de um prédio residencial. Em Um Trailer Americano, vemos cenas de filmagem que aludem ao anterior 5 Filmes Estrangeiros.

A unidade desse conjunto é garantida também pelo olhar particular que o diretor lança sobre Brasília, a cidade pela qual trocou sua São Paulo natal, desde os quatro anos de idade. A capital brasileira tem fama de ser uma cidade vazia (especialmente num feriado como o de 5 Filmes Estrangeiros) e desumana em sua urbanização voltada mais para o trânsito permanente e a funcionalidade organizacional do que para a vivência doméstica.

Os curtas de Belmonte tiram partido desse cenário de western futurista. Dispõem suas criaturas num desamparo interior que se replica na paisagem erma. Soltas nas superquadras, eixos rodoviários e ruas comerciais desertas, elas estão freqüentemente alienadas do convívio social e encerradas numa individualidade que Michelangelo Antonioni conhecia muito bem.

A caminhada para a solidão, a irrealização ou mesmo a morte, na verdade, independe do número de pessoas ao redor. É o que mostra Subterrâneos, o primeiro longa de José Eduardo Belmonte, ainda inédito no circuito comercial brasileiro. O filme é uma espécie de documentário espiritual de um famoso centro comercial de Brasília, onde lojas, boates eróticas, igrejas evangélicas e escritórios sindicais disputam as atenções de uma grande freqüência popular. Narra com som e fúria a história, fragmentária e labiríntica, de um punhado de personagens à borda do desespero. Encontramos ali um realizador em pleno domínio de suas elipses, seu talento, sua loucura. E isso vale muito, num momento em que a imensa maioria dos cineastas brasileiros transige com o bom-mocismo.

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