texto publicado originalmente pelo Coletivo Zagaia (http://zagaiaemrevista.com.br/memes-mentiras-e-video-tapes/)
A salada é geral no tubo de imagens. Fora do Eixo com Mídia NINJA, uma combinação explosiva. Seja o novo homem, seja a avatar de Deus, não importa: nada e tudo os representa. Caminhos antigos que recebem uma nova vestimenta digital. E uma logomarca com cara despojada, sem compromisso com nada além, é claro, de editais e regalias empresariais, funcionando no calor da cultura. De repente, todos aqueles vídeos que qualquer um poderia fazer de seus dispositivos eletrônicos, parecem ganhar uma cara: como se este modo de mostrar diretamente a truculência do Estado tivesse como eixo a face oculta de um NINJA.
Cultura? Lugar certo para as metamorfoses ambulantes: o que seria a publicidade dos bancos sem a Lei Rouanet? Como justificar a atrocidade sem os editais públicos que conferem às ONGs de empresas com fins lucrativos um espaço digno em que se gerencia a miséria dos outros? É a cultura o grande canal. E a difusão midiática, sua grande companheira. Pois não se pode fazer os beneméritos sem uma boa campanha de divulgação…
Eis o sorriso de Monalisa que escancara os beiços e consola os Torturrados! O enigma em forma de arte, desafiando a todos que procuram decifrar seus mistérios. Sabemos que quando o “pobre” Capilé (CEO da empresa Fora do Eixo) declara publicamente que a margem de lucro da “Fora do Eixo corporation” gira em torno de 3 a 5 milhões não pode estar falando sério. Não há imaginação matemática que explique este volume!
NINJA e FdE, tudo a ver!
E os Ninja´s? Não há nome melhor para a sigla. Afinal, todos sabem que estes eram especialistas em infiltração a serviço do governo feudal japonês. Sujeitos nada confiáveis, ao menos para os samurais, que combatiam com alguma honra em um Japão à beira da Modernidade. Em geral, ninjas seguem a onda do poder, qualquer que seja o partido. Basta o pagamento. O que vale é a prática de como se infiltrar nos jogos da cultura e da política, como travar as guerras obscuras e levar o lucro através da esquerda enquanto marca.
Pois não há fenômeno mais pervertido do que este: uma esquerda que é marca de si mesmo, um empreendimento que não tem medo de fazer seu nome. No fundo, não é o jogo entre esquerda e direita que se trava para os NINJA. Parte dos que se declaram contra os projetos de lei nefastos sobre o corpo da mulher, há um tempo atrás integravam a campanha de Marina Silva, deusa da Natura!
Mas o que importa mesmo: tudo acaba tangenciado pela concorrência do capital simbólico que os Ninjas procuram obter. Na cortina de fumaça destes guerreiros sem honra, pouco se disse sobre o que seria uma cobertura militante dos fatos (isso não interessa para ninguém do jornalismo, seja industrial, seja pós-industrial). O modo como os NINJAs se relacionam com os movimentos que registram é extremamente questionável. Bruno Torturra chega a defender um olhar sem comprometimento, de imagens-denúncia dos movimentos em luta. As transmissões são longas e chatas – o próprio Torturra declarou isso. Um mídia-ativismo mesclado a jornalismo sem trabalho algum de reflexão. Afinal, como sempre: é o outro que deve trabalhar (isto é o tal “pós-industrial”). A imagem fala por si (como no antigo princípio de neutralidade do jornalismo). De modo que, se você é a favor do movimento, a imagem tem um significado; se é contra, outro. No fim das contas, nada se altera a partir do relato. Todas as partes ficam satisfeitas. E os NINJAs saem limpos vendendo sua marca: a imagem instantânea de cenas de conflito.
Isto diz muito da posição dos NINJAs na estratégia FdE: como eles rastejam silenciosos nas sombras deste novo negócio – um capitalismo precarizado, seja no trabalho 24 horas em suas Casas FdE (com arquitetura mais próxima da pós-indústria têxtil que escraviza bolivianos e afins, do que de uma comunidade alternativa), seja na desvalorização do pagamento dos artistas que trabalham mais que Criolo doido (veja a matéria do Passapalavra). No interior disso, os NINJAs representam a base comunicativa desta nova estampa.
Aliados ao empreendimento cultural FdE, os NINJA absorvem o impacto da comunicação. Comunicação & cultura: lugares explosivos para levar nossos imaginários em uma narrativa descomprometida. E eis o jogo de espelhos que une os dois empreendimentos. É como disse nosso pobre Capilé em recente entrevista ao Roda Viva: não se trata de uma mídia de massas, mas de uma “massa de mídias”: inversão propícia para um capitalismo em crise: no momento de sua agonia, nada melhor do que a multiplicação de suas armadilhas. Inovação que mimetiza, eis a grande oferta dos NINJAS às velhas najas da imprensa brasileira.
Infelizmente, diante das recentes denúncias, os Ninjas lançam suas estrelas shurikens para todos os lados em defesa do seu feudo. Deprimidos ou raivosos, memetizam seus desgostos, nada falando da abertura de contas disto que se diz novo… Afinal, como sempre fizeram, vale mais captar com um celular os movimentos da grande massa, criar campanhas no facebook, do que entregar o ouro:
Afinal, como sempre fizeram, vale mais tomar à frente das mídias das campanhas do facebook que, porventura, teriam algum público relevante (numericamente, claro): rachtags variadas, memetizadas ao infinito pelos twiteiros escravizados (ou melhor, pagos com Cubecard!), segundo recentes denúncias, fazendo da imagem do movimento de protesto uma marca conectada ao lançamento NINJA. Vai que cola?
Pouco importam os rachtags: Amarildos, Guarani-Kaiowás, AmoremSP, VetaDilma: impávidos, o que vale para os notáveis NINJAs é tornar tudo o mesmo caldo geral. Sorrateiros, não é que os guerreiros podem conquistar aquilo que o capitalismo há muito tenta obter: o coração e a mente da galera conectada?
Guerrilha Simbólica X Propaganda
Empreendimento muito diverso de movimentos mais reflexivos, que buscam a narrativa dos movimentos – como o CMI, Passapalavra, Vídeo Popular de Ação Direta – ou de redes de divulgação das lutas e campanhas como as Mães de Maio e o Cordão da Mentira, Rede 02 de Outubro. Movimentos que denunciam a escravidão e o extermínio pós-industriais.
No meio disso tudo, não devemos nos ater aos detalhes conhecidos das críticas da velha imprensa aos NINJA. Na hora do bote, Najas e NINJAs chegarão a um entendimento.
Aliás, já é tempo de não sermos mais reféns de estratégias miúdas dos jogos de guerra da contrainformação. Nada mais contrário à energia criativa que tanto precisamos do que ficar entre uma ou outra bandeirola, seguindo os caminhos seguros, sem os riscos da mudança radical que as ruas demandaram.
Entretanto, e para além disso, o problema é como sair da armadilha e criar um canal de informação que faça a esquerda se reconhecer sem medo: saber narrar nossas próprias histórias, colocar à prova uma sensibilidade diversa. Despovoar nosso imaginário da ordem privada das logomarcas sinistras para encontrar uma nova constelação. Fazer uma guerrilha simbólica não é abraçar o primeiro comando de divulgação de ideias. Nada mais publicitário do que isso. Guerrilha simbólica não é consumo de imagens, mas produzir o próximo passo.
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