"Sinto arrepios - acho que de pavor- quando olho para esta figura.
Retrato de Família.
Tão natural!
A família tão bem posta - em ordem clássica: Papai atrás, o maior; mamãe na frente - e sentada; à direita(de quem olha), o favorito ou o primogênito; atrás e à esquerda, o rejeitado...
Tão bem arrumados!
Tão completamente fechados.
Unidos para sempre na incomunicalidade.
Absolutamente sem contacto.
Família bem ajustada.
Pai - mãe - filho - filha.
Onde estão o Antônio, a Margarida, O Junior e a Rosinha?
Quem sabe?
Escondidos - na certa, no intimo - dentro dos esquifes. De há muito enterrados.
Há ancestrais ilustres, também enquadrados - em molduras. À direita e acima, na parede d fundo, dois retratos, um com moldura redonda (quem diria! - deve ser uma ovelha negra!) e o outro com moldura quadrada - é claro.
Mas sem fundo, as figuras ( os caixões de defunto) não tem sentido.
Em primeiro plano, as grades do balcão - de ferro. Segurança - é claro. Cadeia.
Terraço com grades portas de venezianas - bem aberto - vejam só.
Sala igual a tórax (antes de discordar, veja as outras iguras de Magriite)
Venezianas igual a costelas.
Janela aberta igual a inspiração - porém fixa, rígida. Inspiração fixa igual a orgulho, peito cheio - sempre cheio - só cheio.
Grade de ferro igual a segurança ( emocional; segurança de não sofrer emoções - sempre tão súbitas e inesperadas - tão perturbadoras - principalmente para gente fechada com esquife - em couraça muscular de caráter).
Em suma: peito que mal se move - que não pulsa - morto.
Sentimentos mortos.
Tudo o que eu não deixo viver
em família
em grupo
em sociedade
Por causa
da família
do grupo
da sociedade
Salve a morte!
(Há a hortênsia no vaso, bem no cantinho esquerdo e inferior, o lugar(simbólico) mais profundo e escondido - o mais insconsciente. Viva!)
graças a Deus .
Porque senão Magrittte estaria
morto de verdade - enterrado) "
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