“Tornou-se bastante comum o teatro ser apontado enquanto valioso aliado da educação, a freqüentação a espetáculos ser indicada, recomendada como relevante experiência pedagógica. (…) Que outras respostas vêm sendo concebidas na tentativa de compreender a experiência proposta ao espectador enquanto atividade educacional? Seria possível à arte teatral desempenhar tal tarefa sem apagar ou esmaecer a sua chama artística? O teatro pode ser, de fato, educador enquanto arte?” Flávio Desgranges
Parte fundamental, tanto no processo de pesquisa da Antropofágica
quanto na formação artística e social do coletivo, a Oficina do Ator
Antropofágico representa a comunhão entre a Antropofágica e novos
indivíduos participantes. A oficina representa o diálogo constante entre
o já constituído e o devir, ou seja, uma garantia de que as idéias, os
conceitos e os princípios sejam constantemente revistos, debatidos,
repensados. Trata-se de uma renovação celular cara aos organismos para
que não adoeçam, não se tornem caquéticos, nem se estagnem no tempo e no
espaço.
Sabendo que o teatro constitui importante dispositivo
sócio-educacional, seja atendendo à necessidade simbólica inerente ao
ser humano, seja operando reflexões e propiciando experiências de ordem
filosófica, estética ou política no plano da atuação e da criação
efetivas, entendemos que compartilhar enriquece todo o fazer teatral.
Para os que chegam, a oportunidade de tomar conhecimento e se alimentar
dos exercícios, dos jogos teatrais, das músicas, dos rituais, dos
textos, da criação. Para os que já estão, a doação, o alimento renovado e
revisitado, a simbiose, a devoração.
Partindo do pressuposto que aquele que assiste a um “espetáculo” não
necessariamente seja apenas um espectador (sujeito passivo), mas sim um
agente participativo que preenche lacunas, que se vê tomado por novas
sensações – e a partir delas pode sofrer e realizar transformações – que
reflete e reage perante aquilo que vê e sente ao longo de uma peça,
acreditamos que haja um “alargamento” de tais percepções quando o
indivíduo está a par do material subjacente à obra. E esse envolvimento
do sujeito na atividade teatral, não só no produto, mas no processo,
parece-nos um elemento-chave para a “dessacralização” e democratização
do teatro.
No Brasil Império, eram os tropeiros, os homens livres na ordem
escravocrata. Na contemporaneidade nosso olhar se volta para os
carroceiros. E na correlação entre as épocas, no nosso processo, surgem
os “antropotropeiros”, livres em medida restrita, na tentativa de
construção de uma liberdade coletiva. Na construção e na confecção das
nossas Karroças Kantorianas e Brechtianas. O arroz carreteiro e o feijão
tropeiro no encontro histórico de lutas e de sonhos.
Considerando que o teatro deva ser compartilhado com indivíduos das
mais diferentes esferas socio-econômicas e de diferentes graus de
formação e referenciais culturais distintos, a realização de oficinas
nos espaços públicos surge como possibilidade de inserir o indivíduo no
âmbito do processo (e não somente do produto) teatral, permitindo que
ele tenha contato com as leituras, os jogos e exercícios, os conceitos
teóricos, a dinâmica das cenas e os contextos históricos e políticos
que, por vezes, podem passar despercebidos quando se tem acesso apenas
ao espetáculo pronto.
As oficinas serão realizadas em pontos distintos, todas em locais públicos.
Objetivos
- Propiciar o contato com os princípios teórico-estéticos que compõem o processo de pesquisa da Antropofágica (núcleo ATP, núcleo de música e Projeto Y);
- Ampliar o contato com o teatro para além do espetáculo, formação de público, ênfase no processo de criação e de pesquisa coletivas;
- Buscar elementos ao longo das oficinas que contribuam no processo de pesquisa e elaboração do espetáculo.
Metodologia e estrutura
As oficinas serão ministradas por integrantes da Antropofágica nos
seguintes locais: Espaço Cultural Tendal da Lapa, Escola Estadual
Almirante Marquês de Tamandaré, Escola de Samba Rosas de Ouro.
As oficinas apresentam elementos comuns que serão trabalhados
respectivamente por seus responsáveis durante o período determinado. No
entanto, tais pontos comuns apresentam-se apenas como possibilidades que
serão adaptadas conforme as necessidades e anseios de cada grupo em
formação. Dependendo dos objetivos e das experiências vivenciadas em
cada comunidade, tais proposições sofrerão alterações, de acordo com as
exigências do processo coletivo.
Os pontos iniciais em comum são: exercícios corporais, jogos
teatrais, proposições artísticas da Antropofágica, treinamentos musicais
e estudos teóricos.
Leituras
Referencial teórico “básico” da Antropofágica (manifestos e peças de
Oswald de Andrade; textos e obras de Bertolt Brecht); trechos de textos
da pesquisa sobre o Brasil Império, tanto históricos como os de cunho
estético (Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Holanda, Celso Furtado,
Tadeusz Kantor etc.); textos e obras que surgirem como propostas das
oficinas.
Música e antropofagia (em cada oficina haverá algumas aulas
ministradas especificamente pelo núcleo de música da Antropofágica);
roda de conversas (reflexões, trocas, debate e embate de idéias antes e
depois das atividades práticas e teóricas).
Além dos responsáveis pelas atividades e das intervenções do núcleo
de música, haverá um integrante responsável pela documentação
audiovisual das aulas (Haroldo Stein). Todas as oficinas terão
acompanhamento e orientação pedagógica dos coordenadores Thiago Reis
Vasconcelos e Mei Hua Soares.
Informações adicionais
Espaço PyndoramaHorário: Segunda-feira às 19h
Endereço: Rua Turiaçu, 481 – Barra Funda
Inscrições: 3871-0373
Faixa etária: Acima de 16 anos.
Espaço Cultural Tendal da Lapa
Horário: Terça-feira às 14h
Endereço: Rua Guaicurus, 1100 – Lapa
Inscrições: 3862-1837 ou 3871-0373
Faixa etária: Acima de 14 anos.
Escola Estadual Almirante Marquês de Tamandaré
Horário: Terça-feira às 14h
Endereço: Rua Jacaré-copaíba, 33 – Freguesia do Ó
Inscrições: 3871-0373
Faixa etária: Acima de 14 anos.
Escola Estadual Professor Cândido Gonçalves Gomide
Horário: Terça-feira às 14h
Endereço: Rua Avelino Zanetti, 50 – Pirituba
Inscrições: 3871-0373
Faixa etária: Acima de 14 anos.
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