Numa roda de dramaturgia, onde se debatia o texto "Bella Ciao" de Luís Alberto de Abreu, percebia de maneira muito clara, o quanto somos tomados muitas vezes não só pela aparente calamaria dos ventos plurais da pós-modernidade, mas também por uma espécie de prazer pela barbárie, traduzida algumas vezes como neutralidade.
Claro, não posso dizer que, por vezes, não pareço tomado, pela posição politica que acredito e analiso como coerente no mundo em que vivemos - Até porque não conseguir analisar, no caso, uma obra de arte por conta do ponto de vista ideológico, não é reafirmar sua posição, mas apenas mostrar sua incapacidade de analisar, simples assim.
Nos resta, é claro, o pensamento crítico - distanciamento, análise, argumento, tese, aproximação e posicionamento.
Ainda temos um medo danado do tal "posicionamento". Tema muito discutido inclusive nesta roda, onde muitos ainda insistem que a neutralidade de um dos personagens não é um posiocionamento, e se agarram nela, sob a equivocada ideia de "não estarem levantando bandeiras" e isso "é bom".
O problema é politico: ideológico, medo que assumo ter de me ver tomado cegamente pelo que analiso como coerente politicamente e perder a capacidade, inclusive crítica, de analisar conjunturas que se operam por outras chaves que não "as minhas", mas que naqueles que se dizem neutros, o mesmo problema aparece, contudo, sob a ideia de que suas concepções, muitas vezes, criadas em suas mentes, partindo de intuições e concepções ultra-individuais, são corretas, menos panfletárias, e mais "humanas".
Bella Ciao, assim como várias outras grandes obras de uma arte materialista, entende o mundo como dividido em classes sociais, e o estetiza, e em momento algum aponta para uma ideia de comunhão, ou de conflitos internos e inevitáveis dos personagens.
Me parece que por termos perdido a noção não só de humanidade, mas de perdermos também a capacidade de entender que a politica - todos os procedimentos relativos à pólis - é um campo vasto de exploração, reflexão e ação artistica, humana, nem um pouco menor do que outro - quiçá seu exato oposto -, mas que para trabalhar nela, sobre ela - e o que julgo de maior valor no tempo em que vivemos - é necessário estar nela.
Talvez, o problema ainda seja que a possibilidade de criarmos um mundo numa folha de papel branca seja exatamente tão prazerosa e eficaz quanto um analgésico.
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