"Chega uma hora em que o vaso de barro só é vaso quando se completa com uma flor" foi algo do gênero que escutei de um dos personagens na peça "Ópera dos Vivos" do Latão, no primeiro ato.
E ao ler uma noticia, essa semana, sobre um ator que reclamou ao diretor não sair no cartaz de um filme, na estreia de um festival, recebendo como resposta que não saiu pois "não vendia", me lembrei de um filme que o mesmo ator fez, e que foi um dos mais marcantes de minha vida. Além disso uma poesia de Ferreira Gullar que ilustra muito bem a incompatibilidade da arte com o mercado.
Senão, vejamos:
"Os Inquilinos", De Sergio Bianchi
TRADUZIR-SE, de Ferreira Gullar
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
R$: ___________
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