O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

"Poeta colombiana Angye Gaona acusada de liberdade!"

Matéria Original: http://carosamigos.terra.com.br/index2/index.php/artigos-e-debates/2434-poeta-colombiana-angye-gaona-acusada-de-liberdade

Em janeiro de 2011, a poeta colombiana Angye Gaona voltava de uma viagem para a Venezuela quando foi presa pela polícia da Colômbia acusada absurdamente de “narcotráfico” e “rebelião”. Durante longos 4 meses, mesmo sem provas, permaneceu encarcerada. Vencido o prazo máximo para seu julgamento, Angye teve que ser posta em liberdade. Mas agora, no dia 23 de janeiro de 2012, ela e mais 3 pessoas serão injustamente julgadas e correm o risco de pegar até 20 anos de prisão. 

Para entender o processo kafkiano por qual passa Angye (e milhares de outros colombianos) é preciso entender os reais motivos de sua prisão e, para isso, é preciso compreender a Colômbia, verdadeiro ponto-cego da América, apagada pela mídia e pouco discutida até mesmo pelas organizações de esquerda.

Colômbia: miséria e rebeldia

A Colômbia, apesar de ser a 4ª maior economia da América Latina, é o 3º país mais desigual do mundo: 68% da população são miseráveis e pobres que “vivem” ao lado de uns poucos milionários, como o banqueiro Sarmiento Angulo que domina quase metade do crédito do país, sendo o 75º no ranking dos mais ricos do mundo. Essa imensa desigualdade vem crescendo enormemente com a ação das multinacionais que exploram e roubam as imensas riquezas naturais da Colômbia, agindo sobre 40% do território (áreas já concedidas ou em trâmite). 

Esse quadro de desigualdade vem se construindo ao longo da história do país, gerando choques violentos entre liberais, conservadores e comunistas.

Um dos mais marcantes acontecimentos de sua história se deu em 1964, quando liberais e conservadores lançaram o exército contra camponeses rebelados influenciados pelos comunistas, promovendo o Massacre de Marquetália. Desse massacres, escapam para as selvas 48 camponeses que fundam as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e dão início a mais antiga guerrilha do mundo, que controla hoje entre 15% e 20% do território colombiano.

Dentro desse contexto de enormes desigualdades e intensa revolta popular, os governos colombianos (Ayala, Uribe e, agora, Santos) vêm reprimindo duramente qualquer manifestação de pensamento crítico; criminalizando as liberdades de expressão, manifestação e livre organização; e reduzindo as FARC a um grupo “narco-terrorista”, ignorando suas reivindicações políticas. Tudo isso com enorme apoio militar dos EUA (Plano Colômbia) que tem interesse geopolítico e econômico na região.

O terrorismo de Estado na Colômbia

Há na Colômbia pelo menos 7.500 presos políticos: 90% de civis (sindicalistas, jornalistas, acadêmicos, estudantes, ambientalistas, camponeses) e apenas 10% de membros das FARC. Dados oficiais da Defensoria do Povo, vinculado ao Ministério Público da Colômbia, reconhecem que há 61.604 pessoas “desaparecidas” nos últimos 20 anos, sendo que mais 16.655 ainda não receberam esse status, pois desapareceram há “pouco tempo” (os números estimados pelos movimentos são bem maiores). Em 2010, a Central Unitária dos Trabalhadores da Colômbia denunciou que, em 10 anos, 2.778 sindicalistas foram assassinados, ou seja, 60% dos sindicalistas assassinados no mundo. São comuns as práticas de tortura e assassinatos exemplares praticados pelo exército e pelas milícias de paramilitares que são incentivadas e acobertadas pelo governo. Recentemente, foi encontrada bem atrás da força militar Omega (menina-dos-olhos do Plano Colômbia), a maior cova comum do continente com 2000 corpos de “desaparecidos”.

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Os números indicam um novo recorde macabro na América: a “democracia” colombiana tem destruído mais vidas que as ditaduras do Chile e da Argentina juntas (as duas mais sangrentas!).

“E se um menino preso chora, dirás,
e se um homem é torturado, dirás.”

O terror de Estado na Colômbia tem intimidado a população que se cala para não ser presa ou morrer. 

Angye Gaona, ao contrário, vem se posicionando publicamente a favor da luta dos trabalhadores, estudantes e dos milhares de presos políticos. Angye, artista de intensa atividade cultural, faz de sua poesia e de sua arte uma arma de luta e esperança para todos que desejam afirmar a vida na Colômbia. 

Por isso mesmo, o governo de Santos armou sua prisão e agora prepara um julgamento de “cartas marcadas”, que será realizado a 800Km da cidade natal de Angye, impedindo o depoimento e as manifestações das pessoas que a conhecem. O governo colombiano quer prender Angye por ser livre!
Para garantir a liberdade de Angye e dos demais presos políticos é preciso uma campanha internacional que denuncie o terrorismo de Estado colombiano. Calar diante da situação colombiana é aceitar, indiretamente, que o mesmo ocorra no Brasil. É visível, nos últimos anos, o crescente desrespeito aos direitos humanos no Brasil que se manifesta mais claramente nas ações policiais e militares em morros, nas periferias, nas universidades e nas desocupações. É preciso forjar, apesar das dificuldades, a unidade de luta latinoamericana, pois um fantasma ronda a América... e, infelizmente, não parece ser o do comunismo.

Para saber como lutar pela liberdade de Angye Gaona visite o site: 
Angye Gaona Livre 

TECIDO BRANDO
(Angye Gaona, tradução de Jefferson Vasques)



Calma e tino te digo, peito brando.

Não queiras conter toda a água dos mares.

Toma uns litros de ondas bravas, 
de espuma fera.

Deixa que se encrespe dentro de ti,

cavalo afrontado,
 mas não domes esta água
que o tempo a requer viva
 e pulsante.

Respira e prepara-te, peito brando.

Não queiras conter todo o ar dos abismos,

toma só o de tua pequena inspiracão,
o acaricie por instantes, 
o sussurre como se ao último alento
e o deixa livre ir ali,
aonde tu também querias: 
vasto, imenso, indistinto.

Sopra forte o que guardas.

Não recolhas mais lágrimas, peito brando.

E se um menino preso chora, dirás,
 e se um homem é torturado, dirás.

Que não é tempo de guardar a ira, te digo.

É momento de forjar e fazer luzir
o fio da navalha.

Jefferson Vasques é poeta e atua no projeto Camará Comunicação e Educação Popular

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