O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

sábado, 22 de outubro de 2011

Nota: A necessidade da revolução,


Contra as tentativas de “descafeinar” (Zizek) os levantes populares na Europa e nos EUA.

Não se trata do que este ou aquele proletariado, ou mesmo todo o proletariado, imagina em dado momento como fim. Trata-se do que ele é e do que, de acordo com esse ser, será historicamente coagido a fazer

Karl Marx, Die Heilige Familie, [A sagrada família]

A teoria que apreende as condições que tornam possível a superação do capitalismo é conhecida como materialismo histórico. Tal teoria não enxerga a revolução como um mero desdobramento lógico desta apreensão. O motivo de sua profunda imanência reside, antes, no próprio conteúdo apreendido: as condições reais de vida dos trabalhadores. Tratam-se das mesmas condições que, historicamente, tornaram possível nossa vigência teórica enquanto materialistas (exercício de auto-historicização).

Tais condições que permitem à classe encarnar a compreensão acabada do capitalismo (práxis), vale lembrar, mais uma vez e sempre: não são eternas! Já estavam contidas virtualmente no processo histórico de surgimento da classe. Assim, a efetivação (necessariamente prática) dessa compreensãoisto é, a destruição do capitalismo, manifesta-se sob a forma de continuidade necessária da própria reprodução do trabalho (assalariado) - seu negativo. 

A “função histórica” (Lukács) da teoria consiste em penetrar e revelar justamente a essência processual desta superação, ou, contrariamente, a necessidade de superação no interior deste processo (atualmente isto significa: compreender a origem estrutural da crise).

Nesse sentido, os termos que empregamos - entre eles revolução necessária e permanente – são a expressão, em forma de conceito, do caráter histórico da luta final contra o capitalismo, engendrada pelo próprio capitalismo (e  que despertem os seus coveiros!). Noutras palavras, devemos organizar conceitualmente nossa consciência, de cima a baixo, único modo possível de sentirmos com profundidade a possibilidade histórica da revolução – sem desvios ideológicos que se perdem em pessimismos ou otimismos desparafusados.

Retorno:

Revolução, em Marx, não significa, portanto, um impulso voluntarioso ou moral, mas a simples “expressão pensada” (Lukács) de uma necessidade que, naturalmente, não é uma invenção da nossa cabeça, mas sim uma necessidade produzida pelas contradições reais e históricas do regime capitalista. Não podemos nos furtar a evidência de que os levantes da Europa e dos EUA são o sintoma de uma possibilidade renovada da revolução, ou de uma necessidade agônica de superação de uma sociedade em agonia, sob pena de largarmos o futuro da humanidade (mais uma vez, e talvez a última) na garganta da indústria bélica, sedenta por destruição.

O surgimento da classe capaz de superar a própria luta de classes corresponde à época em que esta possibilidade ganha expressão teórica – e devemos ser os porta-vozes desta teoria, pois entendemos que ela é insuperável em sua essência enquanto a superação da luta de classes se mantiver na forma de potência não-efetivada, isto é, existência reproduzida da exploração. 

Tal teoria, por conseguinte, não enxerga a si apenas como contemporânea do período histórico (modernidade) em que se fez possível a superação da luta de classes, mas, exatamente por isso, compreende e realiza sua “função histórica” de aceleradora dos combates finais. Para isso a crítica anticapitalista precisa recuperar sua integridade de princípios, e só pode fazê-lo, conforme nos diz Marx, mediante uma crítica de ... “tudo quanto existe, doa e quem doer”. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário