Contra as tentativas de
“descafeinar” (Zizek) os levantes populares na Europa e nos EUA.
“Não se trata do que este ou
aquele proletariado, ou mesmo todo o proletariado, imagina em dado momento como
fim. Trata-se do que ele é e do que, de acordo com esse ser,
será historicamente coagido a fazer”
Karl
Marx, Die Heilige Familie, [A sagrada família]
A
teoria que apreende as condições que tornam possível a superação do capitalismo
é conhecida como materialismo histórico. Tal teoria não enxerga a
revolução como um mero desdobramento lógico desta apreensão. O motivo de sua
profunda imanência reside, antes, no próprio conteúdo apreendido: as condições
reais de vida dos trabalhadores. Tratam-se das mesmas condições que,
historicamente, tornaram possível nossa vigência teórica enquanto materialistas
(exercício de auto-historicização).
Tais condições que
permitem à classe encarnar a compreensão acabada do capitalismo
(práxis), vale lembrar, mais uma vez e sempre: não são
eternas! Já estavam contidas virtualmente no processo histórico de surgimento da
classe. Assim, a efetivação (necessariamente prática) dessa compreensão, isto
é, a destruição do capitalismo, manifesta-se sob a forma de
continuidade necessária da própria reprodução do trabalho (assalariado) - seu
negativo.
A
“função histórica” (Lukács) da teoria consiste em penetrar e revelar justamente
a essência processual desta superação, ou, contrariamente, a
necessidade de superação no interior deste processo (atualmente isto significa:
compreender a origem estrutural da crise).
Nesse
sentido, os termos que empregamos - entre eles revolução necessária e permanente –
são a expressão, em forma de conceito, do caráter histórico da luta final
contra o capitalismo, engendrada pelo próprio capitalismo (e que
despertem os seus coveiros!). Noutras palavras, devemos organizar
conceitualmente nossa consciência, de cima a baixo, único modo possível de
sentirmos com profundidade a possibilidade histórica da revolução – sem desvios
ideológicos que se perdem em pessimismos ou otimismos desparafusados.
Retorno:
Revolução,
em Marx, não significa, portanto, um impulso voluntarioso ou moral,
mas a simples “expressão pensada” (Lukács) de uma necessidade que,
naturalmente, não é uma invenção da nossa cabeça, mas sim uma necessidade
produzida pelas contradições reais e históricas do regime capitalista. Não
podemos nos furtar a evidência de que os levantes da Europa e dos EUA são o
sintoma de uma possibilidade renovada da revolução, ou de uma necessidade agônica
de superação de uma sociedade em agonia, sob pena de largarmos o futuro da
humanidade (mais uma vez, e talvez a última) na garganta da indústria bélica,
sedenta por destruição.
O
surgimento da classe capaz de superar a própria luta de classes corresponde à
época em que esta possibilidade ganha expressão teórica – e devemos ser os
porta-vozes desta teoria, pois entendemos que ela é insuperável em sua
essência enquanto a superação da luta de classes se mantiver na forma de
potência não-efetivada, isto é, existência reproduzida da exploração.
Tal
teoria, por conseguinte, não enxerga a si apenas como contemporânea do
período histórico (modernidade) em que se fez possível a superação da luta
de classes, mas, exatamente por isso, compreende e realiza sua “função
histórica” de aceleradora dos combates finais. Para isso a crítica
anticapitalista precisa recuperar sua integridade de princípios, e só pode
fazê-lo, conforme nos diz Marx, mediante uma crítica de ... “tudo quanto
existe, doa e quem doer”.
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