Em "Esculpir o Tempo", de Tarkovski, no capítulo "Tempo, ritmo e montagem", o cineasta/autor contrapondo sua tese ao cinema de montagem proposto por Kuleshov e Eisenstein, expõe diversos aspectos desconsiderados nas máximas criadas sobre cinema e montagem dialética, que mais se aproximam de uma leitura mal feita sobre a dialética, e de uma constante necessidade de querermos nos tornarmos aquilo que nos baseamos - ao invés de simplesmente nos basearmos - do que necessariamente um problema nas teorias sobre tempo no cinema, dentro do cinema revolucionário soviético do começo do século XX.
No final do capítulo, Tarkovski reflete sobre um problema ainda atual, e que com as modificações da técnica e um certo acesso mais "fácil" a alguns meios de produção para a feitura do filmes (como as câmeras dslr); tanto as teorias de resolução de problemas na ilha de montagem, e, hoje, as imagens extremamente nítidas que já possuímos, por exemplo em câmeras de celular, nos imprimem o preguiçoso corolário da sociedade de consumo de beleza, rapidez, resultado e lucro:
(Neste momento o autor começa sua conclusão a partir de um argumento defendido desde o inicio do texto sobre a especificidade do cinema, em detrimento da máxima do cinema ser única e simplesmente uma junção de todas as artes; é preciso também levar em conta a natureza moral do autor, católico, e fazer a necessária suspensão de algum breve trecho, ou palavra usada)
"Acima de tudo, é preciso que uma pessoa saiba o que a levou a optar pelo cinema, e não por qualquer outra forma de arte, e o que se pretende dizer através da poética do cinema. A propósito, nos últimos anos há um número cada vez maior de jovens inscrevendo-se nos cursos de cinema, preparados, de antemão, para fazerem "o que de deve fazer" - na Rússia ou onde se remunera melhor - no Ocidente. É uma coisa trágica. Os problemas técnicos são brincadeira de criança pode-se aprendê-los com a maior facilidade. Pensar com independência e dignidade, porém, é muito diferente de aprender a fazer alguma coisa, ou de tornar-se uma personalidade inconfundível. Ninguém pode ser forçado a carregar um peso que não é apenas difícil, mas, às vezes, impossível de suportar. No entanto, não há outra saída: tem de ser tudo, ou nada.
O homem que roubou para nunca mais ter de roubar novamente continua sendo um ladrão. Ninguém que traiu seus princípios algumas vez pode voltar a manter uma relação pura com a vida. Portanto, quando um cineasta diz que vai fazer um filme comercial para juntar as forças e adquirir os meios que lhe permitam fazer o filme dos seus sonhos - isso é trapaça, ou, pior ainda, uma trapaça para consigo mesmo. Ele nunca fará seu filme"
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