O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

domingo, 28 de novembro de 2010

Espalhe o "espírito fascista" nesse natal



Fim de ano. Estamos próximos ao natal. Final de novembro. Chegará dezembro. Mês de festas. Para alguns sinal de alegria, reunir a família. Outros, uma data que deve ser levada com seriedade. É nascimento do menino Jesus. Outros, nem um nem outro, mais uma data, quiçá uma deprimente data. O senso comum costuma dizer que é o espírito natalino que aflora nessa parte do ano. 

É 2010, final de novembro e o espírito que se espalha não é do natal que se aproxima, é o do fascista dentro de cada um de nós. O cenário é Rio de Janeiro e a truculenta ação do tráfico, talvez das mais violentas dos últimos tempos.    


De repente, a policia, o estado, agora são instituições legítimas e representam os bons contra os maus - traficantes. E, já agora, a única coisa que fica do recém lançado filme de Padilha é o truculento capitão Nascimento e sua politica de faca na caveira.

O espírito facista fez com que muitos se esquececem que assim como os traficantes, a policia é criada pelo estado, e ela por sua vez criada para proteção dele e da elite. E os mesmos que esqueceram todos esses importantes aspectos, também esqueceram que em meio às balas de traficantes - seres enlouquecidamente revoltados, em primeiro momento, criados pelo estado e em seguida convertidos em empresários contra a lógica moral do sistema, mas coniventes à lógica econômica ditada pelo capital -, e os policias - semelhantes aos anteriores, mas protegidos pela "honra" de se servir leal e legalmente ao estado -, está o povo

E quem sairá mais lesado dessa guerra? 

Se agora, para o deleite de Datena e todos os "Novos Fascistas" - poderia ser o nome de uma banda "Datena e os novos fascistas"-, a solução é faca na caveira e cair matando no morro, com todo o aparato presente, como polícia civil, militar, Bope, além do que foi cedido pelo nosso homem do povo (O Presidente Lula), as forças armadas, eu pergunto: Já que agora temos toda essa segurança e a solução é essa de entrar e acabar com tudo; e já que sabemos que esses caras estão dominando o morro há demasiado tempo, por que só agora o presidente e o sistema de segurança carioca enviaram nossos heróis? Ou não se sabia de nada? 

Minha pergunta é direcionada a todos disseminadores do senso comum nessa guerra. E que provavelmente estão seguros em seus carros, casas, cercas, alarmes, condominios, segurança privada. 

O que de fato querem esses, é que acabem de uma vez com o "Mal" para que o povo que está meio a isso, possa voltar ao seu oficio de escravinho feliz - parafraseio Sergio Bianchi. 

Já se parou para pensar um minuto o porquê bancos tem tantos carros blindados para transportar seu dinheiro, e a policia - essa que está na guerra agora - carece do mesmo? 

Para que nasçam todos esses novos formadores de opnião basta uma "guerra". 

Como se agora fossem outros tempos e a corrupção policial, as milícias - pacto entre estado e polícia criminosa -, a exploração do trabalho por grandes empresas - além do braços dados junto ao tráfico -, a exploração e generalização da violência pela mídia, houvessem desaparecido. 

Não faço defesa ao tráfico. Até porque não acredito que sua intenção de organização seja ligada a algo maior em relação a libertação do povo frente ao sistema, pelo contrário o objetivo é o lucro, assim como industria armamentista, o grande empresário, as grandes redes de televisão. 

Mas não podemos legitimar essa ação do estado, no Rio de Janeiro, por conta desse argumento. E não podemos ignorar o fato de que o estado, e sobretudo o sistema econômico geram indivíduos perversos. 

Não excluo - agora faço o papel do Satreano - a escolha do individuo. Sim, temos escolha. Somos livres para escolher entre morrer com uma bala na cabeça, do tráfico ou da policia. 

Abaixo, um dos documentários mais impressionantes que vi "Notícias de uma guerra em particular" e a declaração mais intensa de todo o filme¹.


¹Não quero parecer anacrônico. O filme foi lançado em 1999 . Tento, apenas, mostrar que independente do momento histórico, apesar de mudanças substanciais, a atividade policial, do tráfico e suas respectivas funções permanecem as mesmas.

5 comentários:

  1. Boa! Aqui tem um link para quem quiser baixar esse doc. Do caralho!

    http://thepiratebay.org/torrent/4221202/Noti_cias_de_uma_guerra_particular

    É torrent, para quem não conhece, tem que ter o program U torrent para baixar. Vale a pena ter.

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  2. Ótimo post e triste realidade. Me irritam os que vibram com cada tiro do ESTADO. E João Moreira Sales estava um pouco a frente do Padilha, né?
    abraços

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  3. Eae Danilo,

    Achei bacana tu ter assinalado de saída, antes de qualquer conversinha, o fato em si evidente: a ação da polícia é fascista. Com isso, posso estar enganado mas, se o alvo era o senso comum, logo de cara foram a nocaute.

    Outra coisa que achei importante é que o texto evita a burrice de reduzir a questão para o nível, e os termos formais, da própria mídia. Noutras palavras, não adianta criticar a mídia como se ela determinasse tudo, mas não fosse, por outro lado, determinada por condições mais amplas. Ou seja: a ideologia não é uma ação deliberada, mas um mecanismo funcional; não cabe denunciá-la moralmente, mas identificar sua "lógica". Uma delas é essa mesmo, que você falou: já existe, interiorizado na consciência dos indivíduos, uma expectativa sádica, que acha pretexto até mesmo na violência dos estádios, no Big Brother, etc. o que dirá no extermínio de traficantes (acrescido de justificativa "moral")...

    Engraçado os "escravinhos felizes" e a solução "sartreana"...

    Bom texto. O tom é jornalístico mas não com a ridícula pretensão de "neutralidade" dos jornais..

    Abraços cara!


    João

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  4. Valeu Jão!

    Sempre bem-vindo, li um post seu e comentei lá no 'Inventários da barbárie...' depois da uma olhada. E mantenho o convite para te integrar aqui no blog como colaborador.

    abs

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  5. sem dúvida João! o ponto principal é sempre identificar a lógica de funcionamento da sociedade para depois entender os desdobramentos.
    valeu pelo comentário
    abraços

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