Após 30 anos de carreira, o diretor argelino Tony Gatlif foi reconhecido
pelo seu domínio da linguagem cinematográfica ao receber o prêmio de
melhor diretor no Festival de Cannes de 2004. O filme que lhe rendeu a
recompensa foi o envolvente “Exílios”, um road movie, no qual um casal
de franceses amantes (Zano e Naima) viajam à Argélia, em busca de suas
origens.
Logo em seu início – um plano muito fechado, quase nos poros do dorso nu
de Zano (Romain Duris), acompanhado de uma bem construída composição
sonora – “Exílios” já entrega a proposta de Gatlif: imagem e som no que
de mais intenso essa junção possa revelar. Nessa e em outras sequências,
o diretor argelino declara o seu amor à imagem e à força que ela pode
ter quando unida sensorialmente ao som.
Algumas das críticas negativas que o filme teve diziam respeito a uma
necessidade constante de demonstrar domínio técnico da linguagem. Porém,
de que serve o domínio que não é revelado? Tony Gatlif é um estudioso
do cinema e, com a longa carreira, aprendeu exatamente onde colocar a
câmera ou movimentá-la e como explorar o espaço do plano, pelo menos nos seus filmes. É assim que, em
determinado momento, durante uma “ofensiva” de mosquitos que picam
Naima, a câmera é colocada na subjetiva do próprio inseto.
Experimentamos, por um breve momento, a sensação de flutuar na ânsia
pelo sangue de Naima que, inusitadamente, provoca quase que sexualmente o
mosquito.
Em outra cena, o diretor escolhe filmar de perto uma gota de suor, de uma desconhecida qualquer, que cai no braço de Naima, representando a incorporação quase que física do elemento estrangeiro, a união de culturas. Mais uma vez, a pele é tida como o significado máximo da experiência sinestésica. Assim, o contato dos personagens com as lembranças perdidas não se limita à afetividade, pois as suas trajetórias lhe impõem a relação corpórea com essa memória. Aliás, essa relação é reforçada por um metáfora óbvia, mas não desncessária, impregnada nas cicatrizes dos corpos dos protagonistas.
É também a partir desse elemento físico, de busca por uma identidade cultural, que “Exílios”, em diversos planos, atinge, inclusive, uma denotação mais carnal. Porém, todo o excesso é banhado por uma sensibilidade ímpar para lidar com som e imagem e, principalmente, cores. Isso fica claro, por exemplo, em uma inusitada, porém bela, cena de sexo (ver vídeo abaixo, ignorando as legendas), que acontece num pomar, a serviço de uma estética exótica e destoante, que serve à proposta do filme.
Impossível falar de “Exílios” sem mencionar também o impactante e envolvente plano sequência, de mais de 10 minutos, em que Naima passa por um ritual religioso de transe. Para os adeptos do cinema hollywoodiano e comercial essa seria a cena que confirmaria a chatice do filme, pois, além de repetitiva, a sequência é deveras incômoda. Porém, de forma magistral, o diretor argelino traz o seu espectador para dentro desse transe, com uma câmera que acompanha toda a agitação do momento, sem cortes. Entendemos que o cinema também é capaz de nos colocar em transe, em comunhão íntima com aquilo que de mais estrangeiro nos possa ser.
Filho de mãe cigana da Andaluzia e pai árabe, Gatlif viajou 7 mil km para realiazar esse filme, em uma busca que, talvez, seja mais sua do que dos próprios personagens. E, se há defeitos comprometedores em “Exílios”, estes estão todos na sua superficialidade narrativa que, apesar de ir fundo em alguns detalhes culturais, acaba por resolver alguns conflitos de forma simplista e questionável. Porém, difícil não se entregar à primazia visual e sonora dessa extravagante viagem sensorial, que se impõe, de maneira objetiva e sincera.
Em outra cena, o diretor escolhe filmar de perto uma gota de suor, de uma desconhecida qualquer, que cai no braço de Naima, representando a incorporação quase que física do elemento estrangeiro, a união de culturas. Mais uma vez, a pele é tida como o significado máximo da experiência sinestésica. Assim, o contato dos personagens com as lembranças perdidas não se limita à afetividade, pois as suas trajetórias lhe impõem a relação corpórea com essa memória. Aliás, essa relação é reforçada por um metáfora óbvia, mas não desncessária, impregnada nas cicatrizes dos corpos dos protagonistas.
É também a partir desse elemento físico, de busca por uma identidade cultural, que “Exílios”, em diversos planos, atinge, inclusive, uma denotação mais carnal. Porém, todo o excesso é banhado por uma sensibilidade ímpar para lidar com som e imagem e, principalmente, cores. Isso fica claro, por exemplo, em uma inusitada, porém bela, cena de sexo (ver vídeo abaixo, ignorando as legendas), que acontece num pomar, a serviço de uma estética exótica e destoante, que serve à proposta do filme.
Impossível falar de “Exílios” sem mencionar também o impactante e envolvente plano sequência, de mais de 10 minutos, em que Naima passa por um ritual religioso de transe. Para os adeptos do cinema hollywoodiano e comercial essa seria a cena que confirmaria a chatice do filme, pois, além de repetitiva, a sequência é deveras incômoda. Porém, de forma magistral, o diretor argelino traz o seu espectador para dentro desse transe, com uma câmera que acompanha toda a agitação do momento, sem cortes. Entendemos que o cinema também é capaz de nos colocar em transe, em comunhão íntima com aquilo que de mais estrangeiro nos possa ser.
Filho de mãe cigana da Andaluzia e pai árabe, Gatlif viajou 7 mil km para realiazar esse filme, em uma busca que, talvez, seja mais sua do que dos próprios personagens. E, se há defeitos comprometedores em “Exílios”, estes estão todos na sua superficialidade narrativa que, apesar de ir fundo em alguns detalhes culturais, acaba por resolver alguns conflitos de forma simplista e questionável. Porém, difícil não se entregar à primazia visual e sonora dessa extravagante viagem sensorial, que se impõe, de maneira objetiva e sincera.
Bela descrição da cena do mosquito. Você é conquistado pela sensação que a cena transparece.
ResponderExcluirUm filme a ser relido uma e outra vez.