(o natal existe: todo o Mundo é triste)
O Natal chegou, mais uma vez.
As frases de efeito, chavões, clichês,
lugares comuns, etc. que se erguem contra o Natal, povoando o imaginário
daqueles que aparentemente detestam o capitalismo, converte-se naturalmente em
bloqueio à verdadeira crítica da mercadoria. A revolta assim se
transforma em papagaiada, mesmices, do tipo: o natal é a festa da hipocrisia!
Nos porões da nossa consciência existe um saco cheio - e vermelho! - dessa ideologia reciclada, que, no fundo, não passa de mais uma atração das festividades natalinas. De fato, o natal já não incomoda tanto quanto os seus críticos
morais de plantão.
A hipocrisia, o parco entusiasmo do trabalhador analfabeto, despolitizado e dominado pela ideologia (petista) do consumo, é infinitamente menos corrosiva do que a hipocrisia histérica da classe-média, que se auto-intitula “reflexiva”. Quem são eles? Nós: artistas, estudantes de Humanas, professores universitários, agitadores culturais, etc. etc. Chamar de corja esse segmento social, por seu pedantismo parasitário, pode parecer um insulto contraditório. No entanto, muito cuidado leitor: sentir-se insultado com o xingamento é provar justamente sua exatidão! Contente-se com a verdade, e não tenha medo em ser a exceção da regra. Enfrente sua caganeira cheirosa... cagão!
A hipocrisia, o parco entusiasmo do trabalhador analfabeto, despolitizado e dominado pela ideologia (petista) do consumo, é infinitamente menos corrosiva do que a hipocrisia histérica da classe-média, que se auto-intitula “reflexiva”. Quem são eles? Nós: artistas, estudantes de Humanas, professores universitários, agitadores culturais, etc. etc. Chamar de corja esse segmento social, por seu pedantismo parasitário, pode parecer um insulto contraditório. No entanto, muito cuidado leitor: sentir-se insultado com o xingamento é provar justamente sua exatidão! Contente-se com a verdade, e não tenha medo em ser a exceção da regra. Enfrente sua caganeira cheirosa... cagão!
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“O natal chegou mais uma vez”. Esta frase
conserva um conteúdo ideológico gritante, e ensurdecedor. A sensação de
imutabilidade, de que nada acontece e de que vivemos numa realidade imóvel, é
um dos resultados mais perversos, no nível da consciência, que o veneno da
mercadoria produz. O efeito é tão devastador e vertiginoso que beira a loucura:
repetem-se detalhadamente os mesmos comportamentos, ano após ano...
Ainda estamos no ano passado? O ano passou,
ou tudo não passa de uma eterna véspera – eterna temporada no
inferno do consumo?
Os mecanismos que conformam o aparelho mental
de um consumidor padrão assemelham-se enormemente aos de um viciado em crack:
comportamento repetitivo, uniformização assustadora das funções motoras,
incapacidade de comunicação, redução da capacidade cognitiva, confusão mental,
sensação repentina de sufocamento, irritabilidade, etc.
Para o viciado, o efeito da droga de certa
forma é permanente. Toda a sua vida, nos dias em que não está sob efeito da
droga, é uma espécie de odisséia (com toda ironia) que só faz sentido quando o
objetivo é alcançado: o consumo. Essa é a medida palpável de onde devemos
partir: a experiência sensível das pessoas, e não de esquemas morais inócuos.
Uma festividade voltada ao consumo, no reino
absoluto da mercadoria, aparece necessariamente como um verdadeiro caos moral.
Não pode ser de outro modo. A dissolução ética em curso é plenamente
compreensível à luz das forças cegas de acumulação do capital, que regem os
anseios mais subjetivos das pessoas. Espantoso, nesse sentido, é ainda nos
espantarmos com isso. O nível moral só se presta à constatação do óbvio,
exemplo simples para fins pedagógicos.
Mas, justamente no nível mais sensível à
consciência podemos observar que as coisas mudaram, e mudam, ao contrário do
que parece. Primeiro: a derrocada cultural, ou o reforço diário da ideologia do
consumo, não esbarra num grau zero de destruição subjetiva – pelo contrário:
seguindo-se até as últimas conseqüências a marcha só será interrompida por uma
destruição definitiva da base social que lhe sustenta: o fim da própria
civilização humana.
O natal, nesse sentido, serve para alguma
coisa: é um termômetro. Todos percebem, ou “sentem”, que as “festas” do ano
atual mudaram em relação ao ano anterior. Difícil é confessar que mudam pra
pior. Seja como for: trata-se de uma expressão simples, mas altamente
reveladora do ritmo pelo qual nos aproximamos de um abismo irreversível.
De outro lado, a crise, alastrando-se em
ondas sucessivas e cada vez mais largas de desemprego em massa, medidas
econômicas restritivas contra a classe trabalhadora, etc. O Brasil afundará em
breve... Com o seguinte desconto, que parece tornar imperceptível o efeito da
crise: a miséria atual extrema de algumas nações européias não é novidade para
nós: o desemprego aqui é crônico, e a miséria permanente. Mas, como foi dito, o
buraco é sem fundo...
No telejornal do meio-dia, mostraram a imagem
de uma rua do centro da cidade de São Paulo. Como um formigueiro, pessoas
moviam-se aparentemente sem rumo. A jornalista hesitou por reveladores
milésimos de segundos. Cracolândia, ou 25 de março? O editor deu a informação,
e o tom do informe, imediatamente, revelou-se eufórico... De fato, como não
pensávamos, era a rua do comércio feliz. Mas um silêncio fúnebre se manteve
indisfarçável... Resquícios de uma dúvida sinistra. Visto de certo ângulo, o cinismo é digno de pena.
João .
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