O Coletivo Cinefusão surge, no final de 2008, a partir da iniciativa de trabalhadores de diversas áreas - cinema, jornalismo, publicidade, artes cênicas, filosofia, arquitetura, fotografia -, empenhados em criar primeiramente uma rede colaborativa que pudesse dar conta da junção dessas linguagens e também da possibilidade de abarcar potencialidades em busca de produção artística independente, mas também de reflexões concretas acerca da sociedade. É principalmente sobre este último pilar de atuação política, que o grupo vem, atualmente, pensando o cinema, sempre vinculado a outras expressões artísticas e movimentos sociais.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Entrevista Iná Camargo Costa

entrevista retirada do Brasil de Fato (11/04/2012) 

por Jade Percassi.

A professora Iná Camargo Costa, nesta entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, fala sobre arte e política em tempos de crise. Para ela, a arte convencional, uma das melhores expressões do fetichismo da mercadoria, em todas as suas modalidades, inclusive as chamadas vanguardas, é politicamente comprometida com os valores dominantes. A professora, que acompanhou de perto a luta dos grupos teatrais, principalmente de São Paulo, por políticas públicas para a cultura, afirma que não acha que o caminho da disputa pelos recursos públicos seja revolucionário. Para ela, o preço que os trabalhadores da cultura pagam pela opção reformista é a reprodução interna, tanto subjetiva quanto no plano da organização do trabalho, do que a vida no capitalismo tem de pior. Para Iná, na prática os artistas reproduzem todas as relações necessárias à manutenção do modo de produção capitalista e, reivindicando parte dos recursos públicos para a produção das suas obras e garantia da sobrevivência, demonstram estar completamente integrados ao sistema. “Todos pagam o preço da invisibilidade, inclusive política, a que estão condenados os que não se colocam como estratégia o confronto revolucionário com o monopólio dos meios de produção cultural”, afirma.           

Iná Camargo – que atualmente, atua como dramaturgista da Cia Ocamorana de teatro e que anunciou que por ocasião de seu sexagésimo aniversário faz sua despedida de eventos públicos “de qualquer natureza” – afirma que o problema, portanto, não é reiterar que “o projeto socialista está tão fora de pauta”, mas discutir por que as organizações políticas, tanto partidos quanto movimentos, não o colocam em pauta. E coloca um critério: quando um mero intelectual diz que o projeto socialista está fora de pauta, ele está simplesmente expressando seu mais profundo desejo que nunca entre mesmo na pauta, pois intelectuais têm pavor de revolução.      

Brasil de Fato – Em recentes participações em debates políticos, você tem reafirmado a presença histórica das linguagens artísticas nos processos políticos mais amplos, revolucionários e contrarrevolucionários. Quais os casos mais emblemáticos dessa relação entre arte e política?

Iná Camargo Costa – Começando por colocar a questão em termos bem amplos, é preciso lembrar que as chamadas linguagens artísticas estão presentes o tempo todo em nossas vidas e sempre traduzem os valores da classe dominante. Basta prestar atenção ao modo de ser das nossas cidades, voltadas que são às necessidades do escoamento dos produtos da indústria automobilística: todos os sinais de trânsito exploram linguagens artísticas, desde as faixas de pedestres até as amplas avenidas, os parques, as pontes estaiadas etc. O discurso político, por mais convencional e conservador que seja, sempre tem ingredientes artísticos. A arte convencional, uma das melhores expressões do fetichismo da mercadoria, em todas as suas modalidades, inclusive as chamadas vanguardas, é politicamente comprometida com os valores dominantes. Nos debates de que participei ultimamente, a solicitação era tratar dos diferentes modos como artistas interessados no ponto de vista dos trabalhadores podem enfrentar esteticamente esses valores dominantes. Entendendo que o interesse era a luta de classes tal como se manifesta na trincheira da produção artística, achei que seria o caso de lembrar alguns episódios que a própria história da luta de classes já produziu, tanto no plano reformista quanto no revolucionário. Um critério político-dialético aqui é importante: até outubro de 1917 (revolução soviética), as manifestações reformistas podiam ser consideradas progressistas, mas depois da revolução elas adquirem um caráter contrarrevolucionário, de obstáculo claro ao avanço das funções e das próprias linguagens artísticas. Sem meias palavras: o mesmo critério que vale para a política vale para as artes.       

Sem perder mais tempo com a arte contrarrevolucionária que nos assedia durante 24 horas por dia, passemos ao interesse pela revolucionária. Neste caso é obrigatório tratar daquilo que foi feito nos anos que se seguiram à revolução soviética. Como meu maior interesse é teatro, as intervenções que andei fazendo acabaram se voltando para o teatro de agitprop, a manifestação mais revolucionária possível em matéria de arte, de acordo com o critério acima enunciado. Por isso vou me referir apenas às relações entre política e agitprop. Os artistas que se dedicaram a ele – e entre os mais conhecidos estão Maiakóvski, Meyerhold e Eisenstein, para ficar só no campo do teatro – já tinham uma posição política clara: Maiakóvski e Meyerhold eram militantes do partido bolchevique e Eisenstein integrou-se diretamente ao exército vermelho em 1918. Para eles, a função da arte revolucionária era participar da luta pela construção do poder soviético – o mais democrático já inventado pela humanidade – de todas as formas possíveis, desde fazendo a propaganda direta do ponto de vista revolucionário sobre as questões da ordem do dia, até inventando formas totalmente inéditas, como a do “processo de agitação” em que o público era diretamente treinado para participar dos sovietes com desenvoltura e conhecimento de causa. Sendo o agitprop, disparado, a minha forma preferida de arte, nem gosto muito de perder tempo com as outras.           

Simplificando bastante: as relações são antes dos artistas, do que das artes, com a política. Os que se decidem por um caminho revolucionário são livres para inventar as melhores maneiras de aproveitar todas as linguagens disponíveis. No mesmo processo, acabarão inventando suas formas próprias, ou inéditas, como foi o caso do teatro jornal, do processo de agitação, da peça dialética e assim por diante.        

No caso brasileiro, qual foi o papel da produção artística na disputa de hegemonia ao longo da história recente?

Vamos combinar que eu não gosto muito de “disputa de hegemonia”, pois aqui no Brasil essa expressão assumiu desde os anos de 1970 uma conotação abertamente reformista, pela qual não tenho nenhuma simpatia. Isso no plano da política, porque no plano da arte ela pode ser tranquilamente absorvida pela expressão mais verdadeira, que é “disputa de mercado”.               

Dito isto, é preciso reconhecer que desde fins do século 20 há uma forte movimentação de jovens supérfluos (que não encontram emprego no mercado cultural) tentando desenvolver uma produção artística fora do mercado, tanto para criticá-lo quanto se esforçando para fazer alguma coisa que pode ser identificada como “disputa de hegemonia”. Se não há dúvida sobre o fato de que isto realmente é feito em termos de obras, isto é, no plano simbólico, já não se pode dizer o mesmo quanto à estratégia, pois esses trabalhos desenvolvidos à margem do mercado cultural não têm a mais remota condição de disputar absolutamente nada com ele em termos de alcance. Basta pensar no número de pessoas que um capítulo de novela atinge e o número de pessoas que um trabalho de teatro de grupo tem a possibilidade de alcançar. Não é por outra razão que a chamada “Cultura fora do eixo” põe em pânico tantos militantes do teatro de grupo. Eu diria que, no âmbito do mercado que realmente está sendo disputado, eles, pelo menos, não são hipócritas, jogam limpo. Já disseram que é de mercado que se trata e se habilitam a disputar o fundo público para essa finalidade, inclusive deixando claro que estão muito bem sintonizados com estes tempos de “empreendedorismo” que caracteriza a ação de todo mundo no campo cultural.         

Os que dizem disputar hegemonia precisam esclarecer melhor seus próprios objetivos, pois enquanto não o fazem estão perdendo de goleada para os militantes da “economia da cultura”.       

Há exemplos na atualidade que indicam uma reativação desse fazer artístico que assume sua vocação eminentemente política?

Acho que os grupos teatrais, ou as brigadas, que se desenvolveram no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), claramente reativam a vocação eminentemente política do teatro, até porque foram criadas pela própria direção do movimento que desde o começo considerou necessária também a intervenção no âmbito cultural. Por haver esse processo no interior de um movimento político, os grupos teatrais que se aproximaram do MST – e isto no Brasil inteiro, a começar pelo Rio Grande do Sul – também desenvolveram essa vocação. Por outro lado, veteranos de outros episódios de politização mais ampla no país, como o União e Olho Vivo de São Paulo, entre outros, nunca perderam esse espírito. Mas todos pagam o preço da invisibilidade, inclusive política, a que estão condenados os que não se colocam como estratégia o confronto revolucionário com o monopólio dos meios de produção cultural.       

Quanto aos grupos teatrais mais jovens, que apareceram nas ondas criadas por movimentos como o “Arte contra a barbárie” e “Redemoinho”, por serem majoritariamente integrados por filhos da classe média, é possível observar neles o interesse por essa reativação de um fazer artístico politizado em graus variados. Nota-se isso sobretudo nos assuntos, nos temas abordados e na opção por formas diversas do teatro épico. Mas a condição de classe média pesa muito, todos oscilam tipicamente entre euforia e depressão e, sobretudo, muitos reagem mal a qualquer proposta de organização política mais efetiva. Por isso o Movimento dos Trabalhadores da Cultura está demorando tanto para decolar. Tem muita gente que ainda acha que artista não é trabalhador!       

Em que medida a organização interna dessa(s) categoria(s) se fortalece e/ou se fragiliza ao se deparar com as contradições da disputa por recursos públicos e a contribuição para a elaboração de um política cultural junto ao Estado?

Essa questão tem pouco interesse para mim, pois não acho que o caminho da disputa pelos recursos públicos seja revolucionário. O preço que os trabalhadores da cultura pagam pela opção reformista é a reprodução interna, tanto subjetiva quanto no plano da organização do trabalho, do que a vida no capitalismo tem de pior: começando pelo consumo privilegiado (por ser sempre e necessariamente para poucos) de todos os bens produzidos pela classe trabalhadora – de alimentos a verbas públicas (a renda do Estado provém da mais-valia arrancada dos trabalhadores agrícolas, industriais e dos serviços, não é mesmo?) – e culminando com a reprodução entre eles mesmos da estrutura social mais geral, na qual quem tem mais pode mais, prevalece a hierarquia do saber, a administração das pessoas, o paternalismo mais odioso, inclusive reclamado pelos mais jovens e assim por diante. Isto é: na prática os artistas reproduzem todas as relações necessárias à manutenção do modo de produção capitalista e, reivindicando parte dos recursos públicos para a produção das suas obras e garantia da sobrevivência, demonstram estar completamente integrados ao sistema. Não dá para imaginar que daí saia alguma alternativa revolucionária. Por isso venho perguntando com insistência aos artistas: vocês acham possível se dar bem e ser feliz neste mundo, tal como ele está organizado, ou a sua felicidade pessoal e profissional depende de uma mudança total? É claro que “mudança total” é código para revolução...       

Do ponto de vista da disputa com a indústria cultural, há condições da produção artística alinhada com os interesses da classe trabalhadora confrontar o que está sendo imposto pela lógica do capitalismo? Quando um projeto socialista parece “tão fora de pauta” para a grande massa de trabalhadores não organizados, sem consciência de classe, etc.)

Enquanto não aparecer um movimento ou partido que ponha essa questão na ordem do dia, por certo que não há condições subjetivas. Quanto às objetivas, elas estão dadas desde a própria revolução de outubro. Aliás, este ponto já foi tratado por revolucionários como Lenin e Trotsky e, no Brasil, foi desenvolvido artisticamente por Mário de Andrade numa ópera chamada Café. Nesta obra acontece uma revolução que culmina com a tomada revolucionária dos meios de comunicação. No caso, o rádio. O problema, portanto, não é reiterar que “o projeto socialista está tão fora de pauta”, mas discutir por que as organizações políticas, tanto partidos quanto movimentos, não o colocam em pauta. Em outras palavras, desmascarar as organizações políticas que, ao insistir no ponto, continuam empurrando com a barriga a ação reformista que é, repito, contrarrevolucionária.                

Um critério: quando um mero intelectual diz que o projeto socialista está fora de pauta, ele está simplesmente expressando seu mais profundo desejo que nunca entre mesmo na pauta, pois intelectuais têm pavor de revolução. Mas quando um dirigente partidário ou de movimento organizado diz a mesma coisa, ele está expressando o caráter reformista de sua própria organização, ou pelo menos da tendência que ele representa nessa organização. Um contraexemplo é o discurso do Gilmar Mauro no último congresso do MST.      

Como você resumiria então os desafios correntes para a ativação simbólica da luta de classes?

Acho que já respondi a questão, mas especifiquemos um pouco mais. Não podemos ter a veleidade de achar que artistas sem qualquer vínculo com organizações revolucionárias propriamente ditas sejam capazes de avançar nessa ativação simbólica da luta de classes, para além do que já fazem em seus trabalhos, às vezes até sem consciência. Antes de mais nada, eles próprios precisam entender o que seja luta de classes pois, enquanto não o fizerem, nem ao menos saberão qual o seu lugar nessa luta. E nessa ignorância política tenderão sempre a reproduzir os valores dominantes. Para estes casos, recomendo sempre a leitura dos escritos políticos de Brecht, que nunca tergiversou sobre a questão. Ele diz com todas as palavras que o proletariado espera pelo menos três serviços dos intelectuais e, portanto, dos artistas: a) que desintegrem a ideologia burguesa (nos dois sentidos: cair fora e denunciar, criticar até reduzir a pó); b) que estudem, compreendam, expliquem e exponham artisticamente, sempre de maneira crítica, as forças que movem o mundo e c) que façam a teoria e a arte avançarem na direção dos seus interesses.                 Simplificando: ultrapassar o estágio em que os artistas se encontram, de completa ignorância política, é o principal obstáculo. Se este obstáculo for ultrapassado, os demais serão mais facilmente superados.           

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O "Coice no Peito" da Tela Suja Filmes

Tomamos emprestada a crítica do Cid Nader (cinequanon) para divulgar o pungente "Coice no Peito", dos camaradas da Tela Suja Filmes e seu cinema que diz a que veio. Em breve, publicaremos impressões próprias sobre este trabalho que deve circular muito ainda.




Coice no Peito, de Renan Rovida. FICÇÃO, PRETO & BRANCO, DIGITAL, 25MIN, 2014, SP

Ontem vendo ao belíssimo e emocionante Coice no Peito, não tive como deixar de lado – e enquanto acompanhava o filme – o momento em 2011 em que vi um outro filme seu Entre Nós, Dinheiro, e o quanto fui duro em minha crítica ao filme: nem que me arrependa de ser duro quando disponho no próprio texto as razões que me fizeram agir assim. Não foi o caso de arrependimento, mas uma certa sensação mista, entre alegria por ver o quanto a persistência dele rendeu em salto fenomenal na direção de qualidade superior desse novo filme, e entre uma certa inabilidade minha em notar já naquele instante que se tratava de alguém que faz um cinema raro nos dias atuais, onde a ideia central está no poder fazer o que ama,mas abdicando intencionalmente dos suportes e aportes para tal. Ele – como Dellani Lima, por exemplo -, me fizeram entender com o passar dos anos que há uma galera apaixonada pela arte, que a faz, e que abdica de tudo para concretizá-la. 

E aí, em tela, vemos o próprio Renan interpretando um desses personagens da vida, magro como ele só, como um condutor de charrete em Campos do Jordão (campo de combate ideal para ele, que luta contra o sistema que abastece e prioriza poucos), que trabalha e trabalha em busca de minguadas granas para o sustento básico. E aí notamos que ele come numa marmita, no banco de trás dela, parando quando surge um freguês, pois é da vida ter de trabalhar. Renan e seu personagem trabalham mesmo, mas são orgulhosos disso, jamais subservientes: ele intromete diversas camadas da sociedade em seu pequeno trajeto de filme, indo do militar (para quem jamais baixa a guarda, e que ao final agirá como ele intuía), ao burguês turista que pensa poder tudo (e que acaba por fazê-lo notar que há a necessidade da grana,no único momento em que cede no orgulho), para tentar um momento non-sense, com três figuras deslocadas do mundo (mas não tanto, se perceberá). O filme, nessa sua camada, é um ataque ao sistema, ao que ele não oferece, ao que ele arranca: e é concreto e certeiro quando cria a estanquidade para situar três modelos dos seres sociais. 

Mas o filme pega mesmo – na realidade pega mais, pois desde sempre está nos agarrando, desde as imagens em PB hiper bem finalizadas, às belas e variadas opções de tomadas (que vão dos planos meio “diáfanos”, à subjetiva de dentro da charrete, e também à câmera que o persegue em umas duas ou três oportunidades), aos instantes de impotência do social, e principalmente por uma tragédia em sua vida particular – quando o notamos na vida do trabalhador, na do homem/pessoa. Quando o notamos tendo de continuar, apesar de tudo que lhe infere o pior dos sofrimentos que um ser humano pode sofrer: ele jamais reclama durante a história do que a vida lhe pregou, tentando lidar de modo conformado, como se fosse do ciclo dos destinos, mas sabendo mesmo que não. 

É filme de acúmulo de sensações, ditadas desde o início sem som (que se saberá assim e tão belo no porvir), que cresce e quase nos sufoca com o decorrer, com o notar um ser que não quer sofrer porque não deveria (já que é do destino), e que destina a um final que poderia incorrer num grande equívoco fosse mais às extremidades, mas que mesmo assim arrisca no drama obtendo resultado lindo, lacrimal, chocante, com misto entre o desespero e a sensação de compreensão do companheiro de trabalho, seu cavalo (é lindo demais esse instante entre os dois, se compreendendo no sofrimento que finalmente explode). Filmes em curta-metragem raramente levam às lágrimas... Ainda mais se forem bons – por mais maluca que essa observação possa parecer. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

I Feira Paulista de Opinião ou I Feira Antropofágica de Opinião



EVENTO NO FACEBOOK - http://www.facebook.com/events/702348659786329/


A Antropofágica realizará – nos dias 15 e 16 de fevereiro (sábado e domingo), das 14h às 22h, no Espaço Cultural Tendal da Lapa (Zona Oeste) – a II Feira Paulista de Opinião ou I Feira Antropofágica de Opinião, em referência a I Feira Paulista de Opinião (1968), dirigida por Augusto Boal.

I Feira Paulista de Opinião (1968)

Em fins de 1968, uma Primeira Feira Paulista de Opinião foi organizada tendo como mote uma pergunta feita aos artistas envolvidos: O que pensa você do Brasil de hoje? O objetivo era apresentar as peças que, empenhadas em responder a essa questão, procurassem aprofundar a figuração crítica e o enfrentamento político do regime.

Alguns dos mais representativos dramaturgos de esquerda do período foram reunidos – Augusto Boal, Bráulio Pedroso, Gianfrancesco Guarnieri, Lauro César Muniz, Jorge Andrade e Plínio Marcos – além de compositores como Ary Toledo, Caetano Veloso, Edu Lobo, Gilberto Gil e Sérgio Ricardo.

O espetáculo foi dividido em dois atos: do primeiro faziam parte Tema, de Edu Lobo; Enquanto o Seu Lobo Não Vem, de Caetano Veloso; O Líder, de Lauro César Muniz; O Sr. Doutor, de Bráulio Pedroso; ME.E.U.U Brasil Brasileiro, de Ary Toledo; e Animália, de Gianfrancesco Guarnieri. Do segundo constavam Espiral, de Sérgio Ricardo; A Receita, de Jorge Andrade; Verde Que Te Quero Verde, de Plínio Marcos; Miserere, de Gilberto Gil; e A Lua Muito Pequena e A Caminhada Perigosa, de Augusto Boal. Dado o número de cortes sofrido pelo texto submetido à censura (setenta e um), a Primeira Feira Paulista de Opinião foi apresentada na íntegra em junho de 1968, mesmo com o veto dos censores, num ato público de resistência.

Em texto intitulado “O Que Pensa Você da Arte de Esquerda?”, escrito para o programa do espetáculo, Augusto Boal procurou mapear as tendências e perspectivas dominantes nos diferentes setores da esquerda naquele momento. O reconhecimento de diferenças servia de preâmbulo para um alerta acerca da necessidade de união estratégica de todos, fosse qual fosse a orientação estética ou política postulada.

II Feira Paulista de Opinião ou I Feira Antropofágica de Opinião (2014)

A II Feira Paulista de Opinião ou I Feira Antropofágica de Opinião propõe refletir sobre o Brasil atual unindo diversas gerações de artistas. Entre os convidados estão alguns dos participantes da Feira realizada em 1968, reforçando a importância do encontro de gerações atuantes no cenário da arte engajada.

O evento contará com a presença dos seguintes artistas:

Atores, Diretores, Dramaturgos e Poetas
Alípio Freire 
Cecília Boal
Chico de Assis
Dulce Muniz
Iná Camargo Costa
Izaías Almada
Mário Masetti 
Ney Piacentini
Renan Rovida
Rogério Bandeira
Sérgio de Carvalho
Umberto Magnani

Coletivos Teatrais
Bando Trapos
Brava Cia
Buraco D´Oráculo
Cia do Feijão
Cia dOs Inventivos
Cia Estável de Teatro
Cia Ocamorana
Cia São Jorge de Variedades
Companhia Estudo de Cena
Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes
Engenho Teatral
Grupo Redimunho de Investigação Teatral
Grupo Teatral Parlendas
Kiwi Cia de Teatro
Nosso Grupo de Teatro 
Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo
Pombas Urbanas
Teatro de Narradores
Teatro União e Olho Vivo
Trupe Olho da Rua

Cartunistas
Alan Siqueira
Novaes 

Coletivos Audiovisuais
Coletivo Cinefusão
Coletivo Zagaia

Músicos
André Bedurê e Elaine Guimarães
Danilo Monteiro e Tita Reis
Juh Vieira
Martin Eikmeier
Renato Gama
Sérgio Ricardo
Tony Giusti
Vagabundos Bundas Bandis
Wanderley Martins

As apresentações dos convidados terão como mote a resposta à mesma pergunta: “O que pensa você do Brasil de hoje?”. As cenas, intervenções, músicas e ações partirão de questionamentos políticos e estéticos imbricados na I Feira de Opinião, mas em diálogo com aspectos contemporâneos. Em artigo veiculado no programa da I Feira Paulista de Opinião, Augusto Boal propunha reflexão sobre a arte de esquerda, suas divergências e contratempos no contexto ditatorial, à época fator de impedimento e censura de apresentações. Hoje, a quantas anda a arte de esquerda? Quais são as aporias dessa arte no atual cenário brasileiro? A entrada é gratuita.

O evento integra o projeto da Cia Antropofágica "Desterrados em nossa Própria Terra", contemplado pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro para Cidade de São Paulo - 22ª Edição

Sinopse
O que pensa você do Brasil de hoje? A Antropofágica reúne artistas de diversas gerações para responder a esta pergunta na II Feira Paulista de Opinião ou I Feira Antropofágica de Opinião.


Local
ESPAÇO CULTURAL TENDAL DA LAPA
15/02 | Sábado | 14h às 22h
16/02 | Domingo | 14h às 22h
Gratuito | Livre
Acesso pela Rua Constança, 72 – Lapa (Travessa da Rua Guaicurus)

Ficha Técnica
Direção Geral | Thiago Reis Vasconcelos
Elenco | Antropofágica
Direção Musical | Lucas Vasconcelos
Músicos | Bruno Miotto, Bruno Mota e Danilo Agostinho
Direção de Produção | Maria Tereza Urias
Produção | Flávia Ulhôa
Artista Gráfico | Alan Siqueira
Desing Gráfico | Pablo Pamplona